A Fórmula 1 e Macau: um amor quase impossível

Por a 10 Novembro 2023 12:43

Macau tem um Grande Prémio há setenta anos, mas nunca teve uma prova de Fórmula 1, e muito dificilmente terá, apesar de alguns namoros ao longo dos anos, naquilo que é um casamento praticamente impossível.

A prova que nasceu em 1953 pela mão de portugueses a partir de uma ideia de uma ‘caça ao tesouro’ cresceu exponencialmente desde então e hoje é uma das joias do automobilismo global e, talvez, o evento mais importante do Oriente, carregando uma história vasta e rica, tendo atirado para o firmamento nomes como os de Ayrton Senna ou Michael Schumacher, entre outros.

No entanto, nunca teve uma prova da categoria máxima, sendo a sua corrida rainha dedicada a carros de Fórmula 3, desde 1983, mas isso não significa que não tenha havido interesse em montar uma prova de Fórmula 1 no Circuito da Guia.

De facto, já por duas ocasiões carros da categoria máxima rodaram na pista macaense – a primeira foi no já longínquo ano de 1977, quando Teddy Yip, um dos grandes impulsionadores do Grande Prémio de Macau, levou um dos seus Ensign N177 Ford Cosworth da Theodore Racing até ao Circuito da Guia para algumas voltas de demonstração realizadas por Patrick Tambay, o seu piloto na temporada desse ano.

Mais tarde, há vinte anos, Eddie Jordan, com o sentido de angariar patrocinadores na China, levou um dos seus monolugares desse ano até Macau para algumas voltas de demonstração, mas que foram realizadas por Ralph Firman Jr. ao ataque, produzindo o recorde oficioso do circuito – 1m55,714s.

Então ficaram evidentes os constrangimentos colocados pela pista macaense aos carros da categoria máxima, que passava, e ainda passam, por questões de segurança, mas, sobretudo, pela estreiteza do circuito na zona da montanha, sendo enfatizado pela Curva Melco, um gancho onde Firman demonstrou dificuldades em negociar, realizando-o apenas à terceira tentativa e depois de alterações no Jordan EJ13 Ford.

Apesar das evidências, houve duas ocasiões em que, do lado da Fórmula 1, houve interesse em explorar a ideia de levar a categoria máxima até às ruas de Macau.

Em 1993, Max Mosley, então presidente da FIA, depois de assistir à edição desse ano, ficou de tal forma entusiasmado que questionou as autoridades locais sobre a possibilidade de realizar uma Grande Prémio de Fórmula 1 no Circuito da Guia.

No entanto, era evidente que a possibilidade de a ideia avançar era inexistente, uma vez que entre a Curva de São Francisco e a Curva Melco a largura média da pista é de sete metros, pouquíssimo, existindo ainda os desafios próprios deste gancho, muito mais apertado que o Gancho do Hotel Lowes, em Monte Carlo.

A ideia caiu no esquecimento, dado que é impossível alargar a pista naquela área devido à geografia e aos edifícios que existem, que fazem parte da zona Património Mundial Humanidade da UNESCO, um estatuto que o território não quer perder para criar uma pista que possa permitir uma prova da disciplina de topo.

Mas ainda assim, depois de Bernie Ecclestone ter vendido os direitos comerciais da Fórmula 1 à Liberty Media, segundo a publicação ‘Macau Business’, os americanos voltaram a indagar a organização macaense sobre a possibilidade de realizar no ex-território português uma prova da categoria máxima.

Uma vez mais, a conclusão foi a mesma – as características do Circuito da Guia impedem que uma prova de Fórmula 1 se possa lá realizar.

Houve ainda ideias para construir um autódromo completamente novo na região de Macau. A ideia foi apresentada por Bernie Ecclestone a Teddy Yip em 1986 e chegou a ser identificado o local onde poderia nascer o primeiro circuito permanente macaense, que seria a Ilha de Coloane. Porém, a nunca nada saiu do papel e o sonho desfez-se com o passar dos anos.

Mais tarde, no início do presente século, voltou a surgir o desejo de criar um traçado completamente novo, aproveitando área reclamada ao mar, a zona do Cotai, que pudesse albergar um Grande Prémio da categoria máxima. Mas, novamente, nunca nada saiu do campo das possibilidades, tendo as autoridades locais se centrado no seu evento realizado no Circuito da Guia.

O apelo de Macau para a Fórmula 1 é elevado, mas para que as duas ‘instituições’ se pudessem juntar, teria de ser feito um circuito completamente novo de raiz.

Para além de ser uma impossibilidade, dados os constrangimentos do território macaense, uma pista nova desvirtuaria a história do Grande Prémio de Macau, que tem a sua própria identidade.

Poderá nunca haver um Grande Prémio de Fórmula 1 em Macau, o que é altamente provável, mas o Circuito da Guia continuará por muitos anos a revelar-nos os talentos de amanhã e que um dia serão estrelas na categoria máxima do automobilismo, tal como aconteceu quando Ayrton Senna venceu o Grande Prémio de Fórmula 3 de Macau, há quarenta anos.

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