F1, Fernando Alonso: o que ganha a Aston Martin e perde a Alpine

Por a 16 Outubro 2022 10:17

A Fórmula 1 exige muito dos pilotos, fisicamente e emocionalmente, e quando um piloto está fora duas temporadas, como foi o caso de Fernando Alonso, o sucesso do regresso nem sempre é garantido, mas o espanhol mostrou uma vez mais ser um piloto fora de série, e a Alpine poderá perder uma peça importante na sua estrutura da qual será a Aston Martin a beneficiar.

O Bicampeão Mundial de Fórmula 1 esteve dois anos fora da categoria máxima, afirmando que estava farto, tendo aproveitado para tomar parte em outras competições, que foram desde as 24 Horas de Le Mans, e o WEC, até ao Dakar, passando ainda por Indianápolis.

No entanto, Alonso nunca fechou totalmente a porta à categoria máxima, ficando a ideia de que, nas condições certas poderia regressar, o que acabou por acontecer, com a sua entrada na Alpine, uma equipa que bem conhecia de outras eras, então conhecida como Renault.

Sendo Fernando Alonso o piloto em questão, as expectativas eram elevadas, e claro que os críticos estavam também prontos para lhe apontar o dedo, e a dar o espanhol como acabado para a Fórmula 1.

No entanto, Alonso deu-se a si mesmo seis corridas em 2021, e disse-o publicamente, para voltar ao nível que considerava ser o seu e, de facto, rapidamente mostrou o ‘Alonso de sempre’, capaz de conseguir prestações que ultrapassam as limitações do carro que tem à sua disposição.

O espanhol teve em Esteban Ocon um adversário difícil que, depois de uma temporada fora da Fórmula 1, apanhou o bicampeão mundial já completamente refeito da sua paragem de 2019.

Ainda assim, no final da temporada, em qualificação, as duas partes equilibravam-se, com cada um a bater por onze vezes o seu adversário, em vinte e dois confrontos.

Já em corrida, e muito embora tenha levado seis corridas a alcançar o seu nível, no final, Alonso somava mais pontos que Ocon, batendo-o por sete pontos.

E aqui temos de levar em consideração algum contexto, uma vez que o francês venceu uma corrida em circunstâncias muito especiais, somando quase trinta e cinco por cento dos seus pontos. Sem esta oportunidade anormal, a diferença seria substancialmente superior.

O jovem da Alpine esteve muito bem a suster as investidas e não se lhe pode tirar qualquer mérito da prova que fez em Hungaroring, mas temos de ser honestos e perceber que o triunfo que inflacionou a sua contabilidade no Campeonato de Pilotos se deveu ao fruto das circunstâncias e em larga medida à forma estóica como Alonso se defendeu de Lewis Hamilton ao longo de mais de dez volta. Sem a prestação do espanhol, Ocon teria ficado exposto aos avanços do inglês da Mercedes, que recuperava de um início de corrida desastroso da parte da sua equipa.

Este ano, a superioridade de Fernando Alonso tem sido ainda mais evidente, muito embora não esteja patente nos resultados.

Para dar um exemplo, na Austrália, o bicampeão mundial de Fórmula 1 estava a caminho de um lugar na primeira linha, quando uma falha no seu Alpine provocou um problema hidráulico o deixou sem direcção assistida, o que o atirou para as barreiras de protecção.

Em corrida, foram diversas as vezes que foi obrigado a abandonar, quando um bom resultado está ao seu alcance – basta recordar o Grande Prémio de Singapura, onde abandonou quando rodava em sexto.

Segundo as contas de Alonso, que poderão estar um pouco inflacionadas, mas não andam longe da verdade, o veterano da Alpine terá perdido cerca de sessenta pontos, o que o colocava na sétima posição do Campeonato de Pilotos bem à frente de Lando Norris.

Mas talvez mais impressionante tenha sido o seu abandono em Monza, não porque fosse garantir um resultado impressionante, mas devido à forma encontrou um problema na unidade de potência do seu Alpine muito antes dos seus engenheiros. O espanhol tinha já questionado a equipa acerca da entrega de potência do seu V6 turbo híbrido, mas na vigésima terceira volta questionou diretamente a sua equipa perguntando se havia “algum problema com a entrega de potência ou tudo está normal?” Ao que lhe responderam que “tudo normal”.

No entanto, oito voltas depois, Alonso era obrigado a abandonar com… problemas na sua unidade de potência.

É esta sensibilidade e capacidade de ler o carro que a Alpine estará a perder no final da temporada, sem haver garantias de que Pierre Gasly possa ocupar esse vazio que o bicampeão mundial do mundo deixará com a sua saída.

Para além disso, o estatuto de que Alonso goza permite-lhe puxar pelos engenheiros não só porque é um bicampeão mundial de Fórmula 1, mas porque também ele exige o máximo de si mesmo em pista, explorando todas as oportunidades que lhe vão surgindo.

O ano passado, no Grande Prémio da Rússia, o espanhol arrancou da sexta posição da grelha de partida, mas percebendo que os pilotos que na primeira volta passavam pelas escapatórias e cumprissem o caminho delineado pelo director de corrida não eram penalizados, concluiu que, no arranque para a corrida, ganharia vantagem ao não fazer a segunda curva do traçado de Sochi.

Então, Alonso testou esta possibilidade ao longo do dia de sábado. Alguns pensavam que o piloto da Alpine estava a errar, mas na verdade estava a apenas a tentar perceber de que forma poderia maximizar a vantagem que tinha descoberto.

Na corrida, não pestanejou e implementou o seu plano e ganhou diversas posições, chegando a rodar em terceiro, mesmo se durante o decorrer da primeira volta as perdeu devido a falta de velocidade de ponta do seu carro.

Mas este é um exemplo da competitividade de Alonso, que não deixa de procurar qualquer vantagem, por pequena que possa ser, para tentar bater os seus rivais em pista.

Esta maneira de estar faz com que exija das pessoas à sua volta a mesma busca de performance e de oportunidades e não são poucas as vezes que se pode ouvi-lo a questionar o seu engenheiro através da rádio.

Para muitos isto pode ser apenas Alonso a criticar a equipa de forma pública – como fez com a Honda há anos atrás, acusando o motor do seu McLaren de ser mais adequado para a GP2 – mas na verdade é uma forma de manter as pessoas que o rodeiam alerta para qualquer oportunidade que possa surgir e, claro, se sentir que algo não foi aproveitado ele vai apontá-lo no ‘debrief’.

Quanto à sua performance pura, será difícil apontar alguma coisa ao espanhol e, normalmente, ele é medida pelo qual os seus colegas de equipa são avaliados, dado que é capaz de estar consistentemente no limite do potencial da sua montada, quer em corrida, quer em qualificação.

Se olharmos para Esteban Ocon, verificam-se algumas oscilações de performance, podendo estar perto de Alonso, por vezes até à frente, mas existem diversas ocasiões em que está demasiado longe e Pierre Gasly, que assumirá o lugar deixado vago pelo espanhol, existe um padrão semelhante ao longo da sua carreira.

A Alpine estará a perder um piloto fiável, consistente, rápido e capaz de elevar o seu carro a performances que, normalmente, lhe estariam vedadas, podendo ficar com a incerteza, por vezes, se o problema é do seu carro ou dos pilotos, que não estão a aproveitar a totalidade do potencial do seu monolugar.

Por outro lado, a Aston Martin, para onde Alonso vai em 2023, padece desse problema este ano. Por vezes parece que nem Lance Stroll, nem Sebastian Vettel estão a consumar as capacidades do material que têm à sua disposição, verificando-se oscilações evidentes nos resultados dos monolugares de Silverstone.

Em 2023, os homens liderados por Mike Krack terão essa dúvida desvanecida, dado que, com Fernando Alonso no lugar de Vettel terão a certeza de até onde o seu monolugar poderá ir, tendo ainda uma ideia mais clara do caminho de desenvolvimento do AMR23.

Terão ainda um piloto que vai energizar a equipa e vai exigir aos engenheiros à sua volta o máximo de cada e aquele pequeno extra que poderá fazer a diferença, tal como faz consigo mesmo.

Posto isto, a Aston Martin, numa primeira abordagem, parece ter saído a ganhar com o mercado de pilotos deste ano, acabando a Alpine, por teimosia e incapacidade de decidir, por ter ficado a perder… Mas esse será um dos pontos de interesse da temporada do próximo ano.

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garantia4
garantia4
1 ano atrás

Conclusão: Para o ano vamos ter a Alpine a dar um salto prestacional, e a Aston Martin a afundar-se. Falta saber se o piloto de Oviedo irá terminar a época.

Não me chateies
Não me chateies
1 ano atrás

A Aston Martin ainda vai a tempo de convencer o Vettel a ficar na F1 e a reformar o filho do patrão ou devolvê-lo à williams e ficar com os dois ex campeões do mundo.

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