Shekhar Mehta (20/06/1945 – 12/04/2006): O leão africano

Por a 29 Março 2024 11:30

Não se pode falar do Rali Safari, sem falar de Shekhar Mehta, o piloto que venceu a prova mais vezes: cinco, quatro delas consecutivas. Nascido no Uganda, mas com raízes na Índia e nacionalidade queniana, este homem do Mundo deixou a sua marca na mais difícil prova africana antes do Dakar – o Safari. Verdadeiro leão num local onde eles de fato viviam em abundância, uma vez em ação era quase impossível acompanhá-lo.

Chandra Shekhar Mehta nasceu nos arredores de Kampala, a capital do Uganda, numa fazenda da sua abastada família, que tinha origens indianas. Proprietário de grandes plantações de chá e de cana-de-açúcar, o seu pai era, além disso, importador da BMW para aquela região africana. Aos cinco anos, Chandrashekhar foi enviado para um rico colégio privado suíço, de onde saiu depois para estudar numa escola pública inglesa. Em Londres trabalhou durante algum tempo numa empresa da família, antes de voltar ao Uganda, em 1965, juntando-se ao seu pai na gestão dos negócios.

Estreou-se no ano seguinte como piloto, em rampas e provas de carros de Turismo, com um BMW 1800. Depois começou a fazer ralis, umas vezes com esse carro outras com um Renault R16. E, com um BMW 2002ti, fez várias vezes provas na única pista que então existia na região, Nakuru, no Quénia. Em 1969, com o BMW, sagrou-se vencedor de três campeonatos locais: saloon cars, touring cars e rampas.

No ano anterior, fez a primeira das suas 20 participações no Safari: com um Peugeot 204, não conseguiu chegar ao final. Em 1970, fez a sua primeira internacionalização, no RAC, mas também não chegou ao fim. No ano seguinte, vingou-se desse azar, ao acabar em 6º n Acrópole, com um Datsun 240 Z.

O ano de 1972 foi um ano de viragem para Shekhar Mehta, quando a sua família teve que deixar o Uganda, que era dominado pelo ditador canibal Idi Amin, que os “convidou polidamente” a sair. Instalaram-se então em Nairobi, onde já tinham outros interesses e, na realidade, foi a partir desse ano que a carreira de piloto de Shekhar Mehta cresceu. Logo em 1973 conquistou a primeira das suas cinco vitórias no Safari e, ainda nesse ano, competiu em Marrocos, Nova Zelândia, Costa do Marfim, Austrália, Finlândia e no RAC.

Piloto das Lancia brevemente (1974 e início de 1975), tornou-se então piloto da Datsun/Nissan, que representou na grande maioria das provas em que participou até 1987. Em 1978, casou-se com Yvonne Pratt, que viria a ser a sua navegadora permanente a partir do ano seguinte. Ambos tiveram um filho, Vijay, que nasceu em 1991.

Neste ano, Shekhar Mehta se tinha retirado das competições. Piloto oficial da Peugeot para os raides africanos, em 1987 participou no Dakar, que terminou em 5º lugar, com o 205 T16 Rallye Raid e fi 4º em Pikes Peak, também com um 205 T16. Meses depois, no Rali dos Faraós, no Egito, sofreu um grave acidente, partindo o pescoço e a espinha e perfurando um pulmão. Esteve em coma várias semanas, de onde recuperou milagrosamente. Foi então transportado de avião para um hospital de Paris e, já em 1988, para outro, em Londres. Ficou com um determinado grau de incapacidade permanente e foi aqui que, em 2006, não resistiu a graves problemas no fígado, que foram relacionados com o seu acidente no Egito.

Desde 1997 presidente da Comissão de Ralis da FIA, pouco antes da sua morte tinha sido designado presidente interino da mesma comissão, mas agora para o WRC.

As cinco vitórias no Safari

1973 (21º East African Safari Rally, c./Lofty Drews, Datsun 240 Z)

Depois do seu 2º lugar em 1971, já então com um Datsun 240 Z, dois anos mais tarde finalmente Shekhar Mehta venceu a “sua” prova, o Safari, na que foi a sua quarta participação. E a que foi também a mas curta vitória da história do Safari , pois o 2º classificado, Harry Kallström, num Datsun Bluebird 1800 SSS, terminou exatamente com a mesma penalização: 6m46s (ou 406 pontos) e o desempate foi favorável a Mehta porque, na estrada, tinha sido penalizado em 405 pontos e o 406º sucedeu como “castigo” por ter perdido um dos faróis dianteiros!

1979 (27º Safari Rally, c./Mike Doughty, Datsun 160J)

Shekhar Mehta não estava entre os favoritos à partida para a prova, ois estes eram os Mercedes 450 SL em especial o de Björn Waldegaard, bem como os Peugeot 504 V6 Coupé, com Timo Makinen na frente das apostas e os FIAT 131 Abarth, em especial o de Sandro Munari. Afinal nenhuma das previsões se concretizou.

Logo desde a segunda etapa, Mehta ficou na frente do rali e de precisamente Makinen, Waldegaard e Munari, por esta ordem. Porém, até ao fim somente o queniano sobreviveu à dureza das picadas africanas… e ganhou! Logo na etapa seguinte, a tradicional lama fez as suas vítimas, nomeadamente os Mercedes, que então até estavam na frente do menos potente Datsun 160J de Mehta – o sueco desistiu cm um exio partdo e Mikkola atrasou-se com um buraco no radiador, terminando em 2º lugar, atrás de Mehta. Markku Alen foi o melhor dos FIAT e dos Peugeot nem sinal: o melhor foi o de Lefebrve, em 12º.

1980 (28º Safari Rally, c./Mike Doughty, Datsun 160J)

Em 1980, os Mercedes queriam a todo o custo vingar a humilhação do ao anterior e, assim, inscreveram cinco 450 SLC. Além disso, estavam lá também os Opel Ascona 400 oficiais. Mas o duelo, que durou até final, deu-se entre os Datsun 160 J e os Mercedes, com vantagem para os primeiros, que terminaram nos dois primeiros lugares, apesar de acerta altura tudo parecer star erdido, quando Andrew Cowan estava na frente com um dos 450 SLC, antes de se atrasar, acabando em 6º. O melhor dos alemães foi o elo mais fraco, Vic Preston Jr., em 3º lugar. Mehta ganhou assim pela terceira vez, agora com 35 minutos de avanço sobre o seu colega de equipa, Rauno Aaltonen. Curiosamente, o principal inimigo natural dos pilotos foi o pó e não a lama!

1981 (29º Safari Rally, c./Mike Doughty, Datsun Violet GT)

Com duas vitórias consecutivas no seu cardápio, desta feita Shekhar Mehta começou o Safari como principal favorito. Afinal, chovesse ou fizesse sol, com ou sem Mercedes, ninguém parecia capaz de o travar nas difíceis e longas estradas africanas. E, uma vez mais, deixou isso provado: agora de fato sem os Mercedes e com um carro novo e mais desenvolvido, o Datsun Violet GT, com o seu moderno motor de dupla árvore de cames, Mehta deu “baile” à concorrência, composta pelos Peugeot 504 V6 Coupé e pelos Opel Ascona 400. Mas foi de dentro de “casa” que vieram as preocupações, com Rauno Aaltonen a conseguir dar-lhe réplica até final, terminando em 2º lugar a 5 minutos, aceitando de forma relutante as ordens da equipa (no final, protestou mesmo o triunfo de Mehta!), pois tinha o seu Violet GT em melhores condições “físicas”. Na realidade, este Safari, onde a chuva alternou com o pó, foi todo para a Datsun, que colocou quatro carros nos quatro primeiros lugares. O melhor Opel foi o de Jochin Kleint, em 5º e o melhor Peugeot foi o de Jean-Claude Lefebvre, logo a seguir.

1982 (30º Marlboro Safari Rally, c./Mike Doughty, Datsun Violet GT)

Em 1982, a Datsun tornou-se Nissan… e Aaltonen, furioso com a marca japonesa, trocou-a pela Opel. Por isso, era grande o interesse naquilo que ele e Mehta iriam fazer, numa prova que cheirava a vingança por parte do finlandês. Afinal, a montanha pariu um rato: na primeira etapa, Aaltonen assumiu mesmo o comando, apesar de alguns problemas com uma junta. Nessa altura, também Mehta estava com problemas, mas no diferencial do seu Violet GT. Esta foi uma das mais duras edições do Safari, com uma verdadeira razia na caravana. A meio da segunda etapa, Mehta viu Aaltonen desistir, com problemas no motor do Ascona 400 e, como estava a apenas 16 minutos, no final da mesma já era líder, posição de onde nunca saiu, controlando a seu bel-prazer o outro Opel, pilotado por Walter Röhrl, para conquistar a sua quara vitória consecutiva no Safari – e a quinta e última da sua carreira no WRC.

SHEKHAR MEHTA (KE)

Nome: Chandrashekhar “SHEKHAR” MEHTA

Nascimento: 20 de Junho de 1945, Lugazi, Kampala, Uganda

Falecimento: 12 de Abril de 2006, Londres (60 anos)

Estreia na competição: 1966 (Rampas, com BMW 1800); 1968 (Safari)

WRC: 1973-1987

Ralis WRC: 47

1º Rali WRC: Safari 1973

Último Rali WRC: Costa do Marfim 1987

Vitórias: 5

1º Vitória WRC: Safari 1973

Última Vitória WRC: Safari 1982

2º lugares:

3º lugares:

Pódios: 11

Pontos: 229

Classificativas ganhas: 13

Títulos: –

1969 – Campeão Este-Africano de Carros de Turismo e de Rampas

1979 – Campeão do Médio Oriente (Datsun 160J)

1981 – Campeão africano de Ralis (Dtasun Violet GT)

PALMARÉS WRC

1973 – Datsun 240 Z: 3 ralis (1 vitória); Datsun Sunny: 1 rali

1974 – Lancia Fulvia 1.6 Coupé HF: 1 rali; Lancia Beta Coupé, 1 rali

1975 – Lancia Beta Coupé: 1 rali; Datsun 160J: 2 ralis

1976 – Datsun 160J: 2 ralis

1977 – Datsun 160J: 1 rali

1978 – Datsun 160J: 2 ralis; Opel Ascona: 1 rali

1979 – Datsun 160J: 1 rali (1 vitória). 10º WRC, 20 pontos

1980 – Datsun 160J: 3 ralis (1 vitória); Opel Ascona 400: 1 rali. 9º WRC, 30 pontos

1981 – Datsun 160J: 1 rali; Datsun Violet GT: 4 ralis (1 vitória). 5º WRC, 55 pontos

1982 – Nissan Violet GT: 3 ralis (1 vitória); Nissan Violet GTS: 1 rali. 8º WRC, 30 pontos

1983 – Nissan 240 RS: 3 ralis; Audi Quattro A2: 1 rali. 9º WRC, 26 pontos

1984 – Subaru Leone 1800: 1 rali; Nissan 240 RS: 4 ralis. 9º WRC, 27 pontos

1985 – Nissan 240 RS: 4 ralis. 14º WRC, 20 pontos

1986 – Peugeot 205 T16 E2: 1 rali. 49º WRC, 3 pontos

1987 – Nissan 200SX: 4 ralis. 18º WRC, 18 pontos

Outras vitórias:

1969 – Pikes Peak Hillclimb (Categoria Carros de Turismo BMW)

1976 – Rali do Chipre (Datsun 160J)

1979 – Rali do Kuwait (Datsun 160J); Rali Internacional dos Himalaias (Datsun 160J)

1985 – Rali de Marrocos (Nissan 240 RS)

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