MEMÓRIA: Campeonato Nacional Ralis 2003, tudo à espera de uma grande colheita…

Por José Luis Abreu a 28 Janeiro 2023 13:26

Há precisamente 20 anos, as questões do CNR eram bem diferentes das atuais, e por isso é interessante recordar o que se antevia. Como curiosidade, três nomes, ainda por cá andam no topo da modalidade: Armindo Araújo, José Pedro Fontes e Ricardo Teodósio

O “Nacional” de Ralis está à porta e muita indefinição paira ainda no ar. Uma viagem pelos bastidores permite perceber que poderemos estar na presença de um dos campeonatos mais disputados nos últimos anos. Basta, afinal, que todas as dúvidas se transformem em certezas…

Com a abolição dos WRC, a emigração da Peugeot para o “Europeu” e o abandono da formação da Ford, o Campeonato Nacional de Ralis de 2003 transformou-se, à nascença, numa grande incógnita.

A menos de um mês do seu arranque, e pela primeira vez com oito ralis em carteira, o “Nacional” deverá caracterizar-se pela elevada competitividade, muito embora a fórmula escolhida pela FPAK tenha ainda tudo por provar e corra o risco, no final do ano, de se ter tornado num “presente envenenado”. Tudo isto porque com a diversidade de carros que se deverão apresentar à partida, não é de estranhar que, após a última prova, seja coroada uma estrutura privada em vez de uma oficial, o que poderá afastar as equipas ditas de “fábrica” no próximo ano.

Mas enquanto essas dúvidas não podem ser desfeitas, mais vale concentrar as atenções nas principais forças em presença nesta competição. Entre carros de Produção, viaturas de Turismo até dois litros sobrealimentadas, Super 1600, Kit Car 1600, de tudo um pouco poderá ser encontrado no “Nacional” de 2003 e só resta mesmo saber qual o binómio carro/piloto que melhor se adaptará à estrutura do campeonato, composto por quatro provas em terra e quatro em asfalto.

Kit Car favoritos no asfalto…

À partida, não é difícil vaticinar que nas provas de alcatrão deverão ser os Kit Car 1600 a “tomarem as rédeas” dos acontecimentos, sem descurar, no entanto, a companhia dos “irmãos” mais novos, os Super 1600.

Numa altura onde a crise no sector automóvel é indisfarçável, apenas a Citroen, a nível oficial, conseguiu, até agora, dar o seu aval ao campeonato. Utilizando o Saxo Kit Car e a experiência e rapidez do Campeão de F3, Armindo Araújo, a equipa do “double chevron” assume-se como uma das principais candidatas ao título absoluto, procurando minimizar a desvantagem nos pisos de terra e estar na primeira linha dos acontecimentos quando o asfalto chegar.

Quanto à Fiat a indecisão é ainda grande e a única hipótese que parece estar afastada é a de fazer alinhar três Fiat Punto, seja na versão Kit Car, seja na versão S1600. Assim, o campeonato não sabe ainda se poderá contar com Vitor Lopes, José Pedro Fontes ou mesmo Adruzilo Lopes (que impressionou os responsáveis da equipa pelo “feed back” técnico transmitido), os pilotos que o ano passado defenderam as cores oficiais, algo que, a acontecer, poderia funcionar como uma “injecção” de emotividade para o campeonato. Da mesma forma, a aposta da Renault Portuguesa num Renault Clio S1600 continua à espera de suporte financeiro para se concretizar, seja a nível oficial, seja numa perspectiva semi-oficial.

Mas no meio de tantas dúvidas, felizmente existem algumas certezas e, por sinal, bem importantes para o sadio desenrolar do campeonato. É que, apesar de alguns projectos privados se manterem ainda numa fase embrionária e à espera de “luz verde” estão já garantidas algumas “surpresas” que prometem obrigar a concorrência oficial a “dar o litro” em cada prova. A mais recente é a que coloca Pedro Dias da Silva e Nuno Pinto ao volante de dois Citroen Saxo, versão S1600. A equipa deverá ter o apoio semi-oficial da equipa Automóveis Citroen, o que, na prática, deverá ser compensado pela recolha de pontos que poderão ajudar a formação oficial a chegar ao ceptro de marcas.

Depois haverá ainda que contar com o Campeão Nacional de Promoção/Asfalto, Carlos Matos, ao volante do Peugeot 206 S1600 Ev. II, e também com Evandro Bernardes, no Opel Corsa 1600, embora quer um quer outro com um programa reduzido, apostando apenas nos ralis de asfalto.

… E Lancer “a dar cartas” na terra

Com metade do campeonato a ser disputada em pisos de terra muitos são os pilotos que optaram por alinhar no “Nacional” ao volante dos competitivos Mitsubishi Lancer Evo, apostando nos pisos de terra para fazer a diferença. As quatro rodas motrizes do modelo nipónico oferecem a garantia de competitividade nos ralis disputados neste tipo de piso e por isso não é de estranhar que seja o carro desenvolvido pela Ralliart e pela Gatmo o “alvo” a abater na primeira metade da época.

Apontado como grande favorito Gustavo Louro é o único que utilizará um Lancer de Grupo A (se o projecto do Renault Clio S1600 não se concretizar). O carro sofreu melhoramentos ao nível dos travões e poderá ser imbatível na fase de terra se o piloto conseguir anular a desvantagem de 120 quilos de lastro (por força da nova regulamentação).

Ao nível dos Mitsubishi de Produção, e mesmo com a ausência do Campeão em título (Horácio Franco), perfilam-se pelo menos cinco candidatos aos triunfos. Pedro Leal, por força do seu currículo, é talvez o que reúne maior dose de favoritismo, mas, nesta altura, não tem ainda confirmado um lugar cativo no campeonato. Na mesma situação apresentam-se Cunha Carmo – com presença garantida apenas nas quatro primeiras provas -, e Armando Parente, vice-campeão de Produção que apenas deverá cumprir a fase de asfalto do campeonato. Com programas completos, e, portanto, declaradamente com o título no horizonte, aparecem Ricardo Teodósio e Rui Lousado.

Portanto, não restam dúvidas que o Mitsubishi Lancer, se bem pilotado, poderá ter sempre uma palavra a dizer na questão do título, como, de resto, qualquer Kit Car ou S1600 bem trabalhado ao nível do… “kit” de mãos. Promete!

Equilíbrio Terra/Asfalto mantém-se

Depois da pretensão de alguns pilotos e equipas em ver reduzidas o número de provas, a FPAK foi em frente e acabou por formalizar o calendário com oito provas. Apesar de tudo, o equilíbrio continua a ser a nota dominante, com quatro ralis disputados em pisos de terra e quatro em asfalto.

Data Prova Piso

7/8 Fevereiro Rali Casino da Póvoa Terra

28/29 Março TMN/Rali de Portugal Terra

23/24 Maio F.C. Porto Terra

3/5 Julho Sata/Rali dos Açores Terra

31 Julho/2 Agosto Rali Vinho Madeira Asfalto

26/28 Setembro Rali Rota do Vidro/Centro de Portugal Asfalto

16/18 Outubro Rali Casinos do Algarve Asfalto

14/15 Novembro Rali Sport/Dão Lafões Asfalto

A equipa oficial da Fiat deve tomar uma decisão acerca da sua participação no “Nacional” de Ralis ainda esta semana. Para já, todos os cenários são ainda possíveis, havendo a forte possibilidade da equipa continuar com apenas um Punto Kit Car. Em relação ao Troféu Punto, também existem várias alternativas que para já a Fiat Auto Portuguesa prefere manter em segredo. A continuação da competição monomarca no “Nacional” parece estar garantida, assim como o projecto de levar alguns carros para a “Promoção”.

Miguel Monteiro conta disputar todo o “Nacional”. O Puma Kit Car receberá para a primeira prova do ano uma primeira evolução ao nível da suspensão, ficando reservado para o asfalto o “up grade” de motor que poderá ser, a partir do Rali Vinho Madeira, a última evolução Kit Car. O piloto do Puma “amarelo” pretende lutar “pelo melhor lugar possível e de preferência estar regulamente no ‘top ten’”.

O projecto dos irmãos Meireles continua em “stand by”, mas poderá ganhar brevemente contornos mais objectivos. A ideia é atacar o “Nacional” nas provas de asfalto com um ou dois Volkswagen Polo S1600. Nesta altura, e segundo Pedro Meireles, “há várias hipóteses de aquisição ou de aluguer do carro, mas estamos ainda à espera do ‘feed back’ da VW Motorsport para saber se teremos ou não acesso à última evolução”.

A Peres Competições não deverá ter uma participação muito activa no “Nacional” de 2003. Ferreira da Silva poderá participar numa ou noutra prova ao volante do Mitsubishi Lancer Evo V assistido pela equipa portuense, ficando, para já, os dois Ford Escort Cosworth direccionados mais um ano para o “Nacional” de Montanha.

Opção 04 de regresso

Passado um ano, a Opção 04 prepara-se para regressar em força aos ralis. Dois projectos independentes vão colocar novamente no terreno a equipa que ajudou Pedro Matos Chaves a ser bi-campeão nacional de ralis. Contudo e nesta altura, as reservas ainda são muitas e Paulo Ferreira, o gestor da Opção 04, prefere não levantar o véu: “na verdade, apenas posso dizer que são dois projectos muito competitivos, ligados a duas marcas diferentes. Os principais visados pretendem ser eles a apresentar os respectivos projectos pelo que só tenho que respeitar a sua vontade”. Tanto quanto o AutoSport conseguiu apurar, um dos projectos está directamente relacionado com a entrada em cena do Mitsubishi Lancer Evo VI de Grupo A de Gustavo Louro que deverá chegar às oficinas de Baltar ainda no decorrer da próxima semana. Quanto ao segundo projecto, cujos contornos permanecem no “segredo dos deuses”, ao que julgamos saber tudo aponta para que se trate realmente de algo inovador já que pela primeira vez deverão correr em Portugal dois modelos turbo diesel competitivos, derivados de um construtor oriundo da República Checa, carros que poderão ser conduzidos por Pedro Zamith e Manuel Amaral.

António Cabeço (FPAK): “Estamos na expectativa”

Depois de ter alterado por completo as “regras do jogo” para 2003, a FPAK está expectante face ao “Nacional” que irá começar em Fevereiro. Nesta altura, como refere António Cabeço, Coordenador da Comissão de Ralis, “o campeonato ainda é uma incógnita. As marcas – que representam um valor acrescentado para a modalidade – ainda não deram o ‘sim’, mas era importante que o fizessem”. Mesmo sem considerar 2003 um ano de transição, o mesmo interlocutor não tem dúvidas em afirmar que “a filosofia deste próximo campeonato poderá funcionar como uma rampa de lançamento para o ‘Nacional’ do ano seguinte, chamando outras marcas que têm estado afastadas até ao momento”. Uma ‘teoria’ arriscada e que terá ainda de dar provas.

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