II Circuito da Costa Verde 1978: Casa cheia em Vila do Conde

Por a 23 Março 2023 09:19

Dantes, as corridas eram assim: tinham mais de uma centena de pilotos e os carros eram muitos e variados. Valia (quase) tudo. E, neste ano de 1978, naquele que foi o II Circuito da Costa Verde, em Vila do Conde, nem preciso foi recorrer à proverbial enxurrada de pilotos concorrentes aos troféus monomarca para que as grelhas estivessem sempre bem compostas. É que, de monomarca, apenas houve uma corrida – a do Troféu Mini 1000. E foi até ela quem fez História na pista traçada nas margens do rio Ave.

Nacional – Agrupamento B

Deveria ser a corrida mais poderosa – mas, apesar dos 23 pilotos na grelha, acabou por uma “expetativa falhada e uma vitória fácil de Robert Giannone”, que fez a “pole” nos treinos, com o seu Porsche RSR preto, com quase três segundos sobre o Datsun 240 Z de Hélder Valente. Uma diferença que, apesar de ser apenas entre os carros da primeira linha, espelha bem o que foi depois a corrida, onde reinou mesmo “uma certa monotonia. Da prova propriamente dita, não haverá muito que dizer, já que as posições foram praticamente matdas de princípio ao fim.” A exceção terá sido na partida, onde “Hélder Valente arrancou melhor do que Giannone mas, antes de se atingir metade da reta da meta, era já o Porsche negro que surgia na primeira posição.” E aí ficou até à bandeira de xadrez, 20 voltas mais tarde, Valente caiu para terceiro, pois acabou passado pelo De Tomaso Pantera de Tino Pereira. Calos Fereia (Alfa Romeo Giulia Super) e Bacelar Moura (Alfa Romeo 1300 GTA), terminaram a seguir e ganharam as respetivas Classes, embora já a uma e duas voltas de Giannone.

Nacional – Agrupamento A até 1300 cc

Mais uma corrida “que desiludiu”. Edgar Fortes dominou desde os treinos, triunfando “cm toda a naturalidade (…) demostrando uma superioridade que se começou a desenha desde a primeira volta.” E que foi facilitada “com a ausência dos irmãos [Rui e Mário] Gonçalves”, que ocupavam a segunda linha da gelha, ambos em Mini 1275 GT e que optaram por não alinhar, como solidariedade com António Ruão, “o proprietário e concorrente que inscreve os carros”. Por isso, “a corrida perdeu muito do seu interesse.” Dada a partida, “Edgar Fortes tomou de imediato o comando, seguido de Carlos Barata e João Nabais”, todos em Simca Rallye 3, o último em estreia. No final, foi esta a ordem de chegada, sedo estes os únicos pilotos a cumprirem as 15 voltas da corrida – todos os restantes, a começar por Fernando Faria, 4º com um Datsun 1200, ficaram a pelo menos uma volta de distância. Seguiram-se três Autobianchi A112 Abarth, com Vítor Seixas a liderar Aurélio Santos Almeida e Armando Santos e, nas últimas cinco posições, ficaram outros tantos FIAT 127, a começar pelo de Cruz Monteiro, 8º – mas que depois da corrida viu o seu carro “ser aberto” por decisão da organização, “sem que qualquer concorrente protestasse”.

Nacional – Agrupamento A + 1300 cc

Esta prova não foi mas que novo passeio de Rufino Fontes que, com o seu Opel Commodore GSE, “rapidamente se isolou no comando”, depois de ter largado da “pole”, continuando a dominar de forma insolente este Agrupamento. A corrida desenrolou-se “num ambiente sombrio”, pois “estava ainda bem presente a emoção que caraterizou os momentos finais da corrida [do Troféu Mini], precisamente a que se disputara antes.” Por causa dessa corrida, não alinharam nesta Costa e Sousa, “por esta ainda em estado de choque” e Álvaro Parente, por se ter aleijado num pé (…) na tremenda confusão logo na primeira volta.”

Dada a partida, o mais rápido a reagir foi António Barros, também e Opel Commodore GSE, mas “em breve o Commodore laranja se colocou na primeira posição, curvando à frente no final da reta da meta.” Pela quarta volta, “Jorge Tenreiro ultrapassou José Peres [ambos em Triumph Dolomite Sprint] e subiu ao terceiro lugar.” Com Fontes “cada vez mais isolado na frente”, a decisão da corrida, no que diz respeito aos outros lugares do pódio, sucedeu “na nona passagem pela meta: Fernandes Bello [Opel Commodore GSE] teve um princípio de ‘tête’ na curva do Castelo e, ao ver essa situação, José Peres travou. Como já estava em plena curva, o ‘tête’ foi inevitável, ficando atravessado e indo o carro abaixo. Peres não conseguiria repor o carro a trabalhar, devido ao aquecimento, tendo de abandonar.” O grande beneficiado foi Tenreiro, que assim subiu ao segundo lugar, “isolando-se”. Barros, que estava em quarto, subiu outro lugar e, desta forma, ficou encontrado o pódio final da corrida, na frente de Fernandes Bello e de Manuel Fernandes (Toyota Celica GT), que venceu a sua Classe.

Iniciados – Agrupamento A + 1300cc

A prova do Agrupamento A + 1300 cc foi, de acordo com o título do AutoSport, “a mais equilibrada.” Porém, Jorge Correia foi um fácil vencedor, tendo largado da “pole” e comandado durante toda a prova, gerindo bem desde o arranque o andamento de Joaquim Guedes que, também num Alfa Romeo 2000 GTV, deveria ter sido o seu principal e mais perigoso adversário. Afinal, não foi isso que sucedeu, “ficando o público defraudado.” Mais atrás, assistiu-se a um duelo entre Luís Andersen (Simca Rallye 2) e Almeida Ferreira (Innocenti Mini Cooper), que terminaram logo a seguir. Pontos importantes da prova foram “as espetaculares batidelas de Eduardo Costa (Ford Escort) e Joaquim Guimarães, (Ford Capri), tendo este último realizado despistes em todas as curvas do circuito.” Terá sido este o tal equilíbrio do título?

Iniciados – Agrupamento B

Mais um título expressivo, o desta corrida, que reuniu 17 pilotos: “Passeio de Jorge Petiz”. E foi bem verdade: saindo da “pole position”, que fez com quase 1s de vantagem sobre Joaquim Sá-Ros, em FIAT 124 Abarth, sem dúvida os carros mais competitivos do plantel, “Jorge Petiz toma a dianteira no seu BMW [2002] azul e é o primeiro a entrar na curva da ‘praia azul’, logo seguido de Sá-Rios. Porém, o despique que todos ansiavam não se concretizou pois esta situação duraria apenas duas escassas voltas. Sá-Rios desiste na reta da meta ao iniciar-se na terceira volta, com avaria no alternador.” Jorge Petiz ficou então com o caminho livre para dominar, “isolado, de tal forma que à terceira volta levava já um avanço considerável em relação ao pelotão perseguidor, mais do que a reta da meta!”

A prova “tornou-se monótona após a desistência de Sá-Rios” e, no final, ao pódio subiram, para lá de Petiz, José Barbosa, segundo cm um Mini 1275 GT, já a mais de 40s e, em terceiro, Carlos Cabral (Datsun 240 Z), a quase 1 minuto.

Troféu Mini 1000

Esta era a prova que, “em virtude do equilíbrio dos automóveis”, gerava mais expetativa entre o público Afinal, se tal equilíbrio não foi defraudado, não foi por isso que a corrida passou a ser relembrada (v. Caixa).

Nos treinos, José Luís Costa e Sousa fez a “pole”, com o tempo de 1m34,25s, mais rápido escassos 0,03s que Luís Vasconcelos. Na segunda fila, o 0,12s mais lento Álvaro Parente ficou em 3º e Meireles Costa fez o 4º tempo, com uma volta em 1m34,42s. António Ruão foi o 5º, 0,01s depois de Costa e 0,02s mais rápido que José Carlos Fernandes, o 6º. Se isto não era equilíbrio, então o que seria? A grelha tinha 21 pilotos, com o lugar de “lanterna vermelha” ocupado por Orlando Tomás, com o tempo de 1m41,48s.

Na corrida, a travagem para a primeira curva, no Praia Azul, fez as primeiras vítimas. Com os Mini “quase em bloco”, Parente “entra pelos fardos dentro, acabando por parar, encavalitado no muro. Luís Vasconcelos também aí fica, com o seu Mini batido fortemente do lado esquerdo (…). Rui Lages também sobe os fardos, no meio de toda aquela barafunda, mas acaba por prosseguir, tendo entrado nas boxes, logo na primeira volta, com problemas elétricos (curto circuito).” Parente, depois de sair do seu carro, garantiu que “foi empurrado ao entrar na curva”. Estava dado o mote para o que seguiu…

Na terceira volta, “a prova é comandada por Costa e Sousa, Joaquim Santos, António Ruão, José Carlos Fernandes e Artur Teixeira.” A meio da prova, já era António Ruão a comandar, seguido por Costa e Sousa e Joaquim Santos e Fernandes. “Duas após é já Costa e Sousa quem comanda, logo seguido por Joaquim Santos, (…) Ruão e (…) Fernandes. “Na volta seguinte, aparece de novo (…) Ruão a comandar, seguido de Costa e Sousa e Joaquim Santos.” E pronto: estava feito o “comboio dos duros” (a expressão é nossa, de hoje e não de Jorge Tavares, o escriba da época) que, poucas voltas depois, iria despoletar a (quase) tragédia (ver artigo anexo)

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eduardo-lucassapo-pt
eduardo-lucassapo-pt
1 ano atrás

Gostei muito de relembrar estas corridas de Vila do Conde mas…onde está o artigo anexo que referem no fim?

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