Entrevista a António Félix da Costa: “prioridade é a Fórmula E, mas no WEC o objetivo é estar lá”

Por a 12 Novembro 2022 17:39

Num fim de semana em que luta pelo título de LMP2 do WEC no Bahrein, António Félix da Costa esteve esta semana em no Porsche Experience Center em Franciacorta, Itália, na apresentação do novo Porsche 99X Electric Gen3 o novo monolugar da terceira Geração da Fórmula E. Aproveitámos a oportunidade, e conversámos um pouco com ele.

Procuraste a Porsche ou foram eles que te procuraram?

Fui eu que procurei a Porsche. A história remonta há uns anos quando a Porsche anuncia que vai entrar na Fórmula E, no final da época 4. Nós fomos atrás, na altura era piloto de fábrica da BMW e não sei se foi uma desculpa do lado deles ou não mas eles disseram que não queriam pilotos doutra marca alemã, que existia uma espécie de “gentleman’s agreement”, mas também disseram para manter a relação aberta e tudo mais.

E assim foi, sempre mantivemos uma relação e um diálogo aberto estes anos todos, fui para a DS Techeetah, mas fomos mantendo o diálogo em aberto com a Porsche, até que chegou uma altura em que tudo se alinhou. Eles queriam uma mudança, o meu contrato na DS expirou e aqui estamos nós…”

A ida para a Porsche é também uma forma de chegares ao topo do Endurance?

Muita gente me tem feito essa pergunta, ams eu acho que não, diretamente. Sempre foi um objetivo meu fazer parte desta nova era dos LMDh e dos HyperCar, oficialmente ainda não temos nada anunciado mas a verdade e´que nunca escondi que tendo feito estes últimos quatro anos com a Jota, e sabendo que a Jota se vai alinhar com a Porsche para ser uma das equipas com um dos carros-cliente da Porsche, obviamente que essa subida faz todo o sentido mas a verdade é que ainda não temos nada 100% fechado, estamos à espera de alguns calendários, serem totalmente finalizados, a prioridade vai ter que ser a Fórmula E, toda a gente envolvida nas discussões entende isso, é o que vai acontecer até porque não estou sozinho neste comboio, há vários pilotos da Fórmula E que querem fazer o WEC, por isso eu acredito que vai haver uma boa fé de toda a gente entre a FIA, a Fórmula E e o WEC, para que não haja datas a coincidir e se assim for eu acredito que tudo possa correr bem e que eu possa estar envolvido, mas dito isto, eu estou a fazer o WEC desde 2018, cinco anos a fazer este campeonato, e acredito que me tornei num bom piloto de endurance, e não queria deixar isso fugir agora que temos hipótese de ir para a categoria rainha, ainda por cima o endurance vai entrar numa época espetacular, por isso o objetivo é lá estar.

Nova Geração da Fórmula E, quais são as principais diferenças entre a GEN2 e esta nova GEN3?

Muita coisa. Obviamente o carro é totalmente diferente por fora, mas além disso, muda muita coisa por baixo do capot, se podemos assim dizer. Temos um novo motor à frente, no eixo dianteiro, que não serve para descarregar energia, mas só para carregar energia, ou seja, não há potência a sair do eixo da frente, só potência a ser recuperada, antes isso só acontecia no eixo traseiro agora temos no dois eixos e com mais potência, ou seja este tornou-se no carro mais eficiente do mundo. 30% da bateria vai ser regenerada durante a corrida.

Por outro lado traz uma série de complicações para se afinar, quando carregamos no pedal do travão toda a desaceleração vem de uma forma eletrônica, por isso isto é tudo uma grande confusão para se afinar tudo, o eixo da frente com o eixo de trás a repartição de travagem, há um série de software que tem de ser programado por trás deste novo regulamento, isto falando só de travagem, pois obviamente temos muito mais potência este ano, temos agora 350 KW de potência face aos 250 Kw do ano passado, o que já torna este Fórmula E verdadeiramente rápido, ficou mais leve, mais curto, mais ágil, mais rápido, é um avanço enorme, de um carro para o outro uma diferença mesmo muito grande.

O que é que isso vai significar nas corridas? Temos corridas mais divertidas a caminho?

Ainda não sabemos bem, essa é a verdade, temos feito uns ensaios mas completamente sozinhos, eu acredito que da mesma maneira que a aparência do carro vai influenciar as corridas, é um carro que a olho nú parece ter mais drag, ou seja isto pode fazer com que se tu andares muito tempo atrás de outro piloto, te possa tornar mais eficiente, quase um género de uma Volta à França quando os ciclistas vão atrás uns dos outros, pode começar-se a ver alguma estratégia de andar atrás de alguém na tentativa de recuperar alguma energia, e depois atacar, ou seja, acho que vai haver uma série de diferenças que vamos ter que ir descobrindo, corrida a corrida é é aí que as equipas boas vão fazer a diferença. Quem entender estas novas facetas mais cedo vai dar um passo à frente enorme…

A complexidade já era grande, agora ainda é maior…

Eu acho que sim, estamos todos num nível altíssimo de sabedoria com este campeonato, e quando se parte de uma folha branca com um carro novo vamos ver realmente os engenheiros a deitar fumo dos ouvidos e a quererem entender o mais rápido possível as coisas. Temos que ter essa vantagem de performance, face às outras equipas.

Como é que tem sido a convivência com o Pascal Wehrlein e como têm sido as coisas com este teu novo colega de equipa?

Tem sido muito boa, melhor do que eu estava à espera, o Pascal é uma pessoa calada, reservada e eu tenho vindo a conseguir desbloquear um bocadinho o Pascal. Se falarmos em 10 níveis, já vou para aí no quatro, tem sido uma evolução boa e rápida, eu acho que ele está um bocadinho traumatizado com ex-colegas de equipa, e anteriores experiência que teve em equipas, eu expliquei-lhe desde o dia 1 que não estou aqui para o pisar ou passar por cima dele, acredito que se trabalharmos juntos, principalmente nesta fase inicial, vai ser benéfico para os dois, obviamente eu quero ganhar ele quer ganhar, mas se fizermos isto com respeito e educação, eu acho que não há mal nenhum eu fui o primeiro a dizer-lhe, se ele ficar 10 vezes seguidas à minha frente eu sou o primeiro a dar-lhe os parabéns, porque ele está a fazer um trabalho melhor do que o meu. Fui bastante claro desde o dia que aqui cheguei, já consigo metê-lo a rir e a mandar umas piadas, o que há uma mês atrás não acontecia, e acredito que esta relação possa melhorar ainda mais quando começarmos a ganhar corridas juntos.

Como tem corrido o desenvolvimento do carro?

Coisas boas e coisas más. Sabem que eu sou um grande apologista de acontecerem coisas más em fases de desenvolvimento. Acredito que ter fases de desenvolvimento em que não tenhas peças a partir, a falhar, ou problemas de software, seja o que for, fico sempre um bocado desconfiado, pois é possível que as coisa más apareçam depois, por isso nós usamos muito uma coisa que trouxe da DS que é forçar o carro a partir, por o carro mesmo sob um esforço grande para que esses problemas venham ao cimo o mais rapidamente possível, e que possam ser resolvidos e ultrapassados também o mais rapidamente possível.

Quais as sensações de condução? Mais ou menos divertido de pilotar que a geração anterior?

É muito diferente. É mais divertido, tem muita potência, mas também temos pneus diferentes, Hankook face aos Michelin do ano passado, e é uma filosofia de pilotagem totalmente diferente. Tens que te focar muito mais em linhas retas, não no apoio lateral, este pneus não te dá tanta abertura a isso, por isso a forma de alcançar o melhor tempo por volta é totalmente diferente, e isso tem sido um desafio engraçado porque isso já não é a minha forma natural de ir à procura do tempo, por isso tem sido um desafio engraçado, mas ao mesmo tempo os dias de testes não são para mim, são completamente para o carro, coisas a ser afinadas, descobertas. Eu também ainda não tive a liberdade de andar à procura da melhor maneira de guiar este carro, e por isso acho que agora quando tiver o meu carro, o carro do António, com o meu banco, com tudo, em Valência, três dias, procurar um bocadinho mais essa liberdade de eu próprio trabalhar com os engenheiros e na melhor forma de ser rápido com este carro…

Quais são os principais desafios que esperas com este carro?

Muito do que falámos até aqui e mais pois estamos à espera de muito mais coisas que ainda não sabemos que vai haver e vamos ter que estar de olhos muito abertos, entender quando estiverem todos juntos em pista a correr uns contra os outros, como são as coisas, o que nos dá vantagem ou não, quase são realmente as áreas que temos que desenvolver mais e gastar mais tempo para melhorar, mas toda a gestão de energia vai ser feita de forma diferente, continua presente na Fórmula E, mas feita de forma diferente, quanto à degradação de pneus, não sabemos ainda qual o nível, que vai ser, por isso uma série de fatores que vamos ter que ir descobrindo à medida que vamos andando.

As equipas estão preocupadas com os problemas das baterias?

As baterias deram alguns problemas no início mas a Williams, já entregou uma segunda versão das baterias que até agora não têm dado problemas, mas esperemos que isso não seja um tema, neste momento isso está bem melhor…

Novidades para o WEC do Próximo ano?

As ideias da equipa e também minhas são a de estarmos juntos para o ano. Eu dava um tiro no pé se a JOTA e a Porsche unissem forças e eu não estivesse presente, os meus chefes aqui na Porsche sabem que esse é o meu desejo, a Jota sabe-o também, eles partilham da mesma intenção, de me terem lá, por isso acredito que tudo possa vir a alinhar-se, talvez este fim de semana do Bahrein possamos ter as últimas respostas sobre calendários, horários e tudo o que possa eventualmente influenciar na conjugação de datas, eu estou a fazer muita força para que isso aconteça, como disse, não sou o único, somos sete ou oito pilotos, que queremos fazer os dois campeonatos, por isso espero que se possa alinhar e se possa anunciar em breve.

Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas Newsletter
últimas Autosport
newsletter
últimas Automais
newsletter
Ativar notificações? Sim Não, obrigado