A rica história da Toyota nos ralis
Agora que a Toyota se prepara para colocar a correr mais um novo carro no mundo dos ralis, o Toyota GR Yaris Rally2, recordamos onde começou este ‘amor’ da Toyota pelos ralis: tudo começou em 1972, com Ove Andersson. Então, o piloto sueco decidiu criar uma equipa de ralis, que quase foi por água abaixo logo no ano seguinte, por causa da crise do petróleo.
Mal ele conseguiu reunir os apoios necessários, por parte do importador de uma certa marca de longe da Europa chamada Toyota. Nasceu assim a TTE – Toyota Team Europe – que foi talvez a primeira equipa a representar oficialmente na competição um fabricante, uma prática que se tornou habitual apenas muitos anos mais tarde.
Inicialmente, a operação baseava-se em participar com um ou dois carros, mais algumas peças deixadas pela Toyota, depois do RAC de 1970. Uma coisa bastante banal, sem perspetivas de êxito ou de ambição, o que ainda foi exacerbado pela crise. Mas Andersson era um tipo persistente e conseguiu, pouco a pouco, arranjar dinheiro para manter e aumentar a equipa.
Tudo ficou melhor depois de Hannu Mikkola ter ganho os 1000 Lagos de 1975, ao volante de um pequeno Toyota Corolla 1600. Na realidade, foi nesse ano que o nome da equipa se tornou definitivamente TTE, mudando-se de uma pequena quinta sueca para instalações próprias, nos arredores de Bruxelas, na Bélgica. Nessa altura, a Toyota preferiu usar o novo Celica, um carro com aspeto bastante desportivo, que estava a lançar em vários mercados, apesar de TTE insistir em manter o mais confiável Corolla. A marca disponibilizava as carroçarias e as partes mecânicas eram preparadas na TTE, embora mantendo as especificações originais. Os programas variaram ao longo dos anos, de acordo com o modelo, mas nos primeiros anos nenhum deles foi um carro de topo no panorama dos ralis mundiais.
Em 1979, a equipa mudou-se para os arredores de Colónia, na Alemanha – onde se manteve durante muito tempo.
Pouco a pouco, a equipa foi progredindo e, em 1982, venceu a sua segunda prova do WRC, quando Björn Waldegaard ganhou, algo surpreendentemente, o Rali da Nova Zelândia.
As regras do Grupo B alteraram a forma de estar, com a Toyota a querer construir um carro de tração total, para ser usado como base de um carro de ralis, mas a TTE continuou com os Celica de tração traseira. Em 1983, a TTE fez o que foi o seu melhor carro de ralis até essa altura, o Celica Twincam Turbo, que continuava só com duas rodas motrizes, mas tinha uma potência soberba.
Curiosamente, mostrou-se pouco competitivo nas provas europeias, tendo participado nos 1000 Lagos e o RAC. Mas foi em África que a TTE conheceu o sucesso, com o carro a ganhar o Safari e a Costa do Marfim por três vezes cada – de 1984 a 1986 no Quénia, em 1983, 1985 e 1986, na Costa do Marfim.
Quando o Grupo B acabou de forma intempestiva e prematura, em 1986, a Toyota viu-se sem carro para poder competir e isso foi uma bênção para a TTE.
O Supra não era solução e, então, a Toyota teve que se decidir a fazer, finalmente, um carro com tração 4WD. Nasceu então o Celica GT-Four, na sua primeira versão, o ST165. Na verdade, o Celica GT-Four teve um fim triste e pouco abonatório, quando a TTE foi apanhada a fazer batota com os turbos, em 1995, tendo sido banida do WRC, no ano seguinte.
Contra todas as probabilidades, Ove Andersson conseguiu convencer os japoneses a continuarem e, pela primeira vez desde a década de 70, a usar o Corolla como base para o futuro carro de ralis.
As novas regras do Grupo A, em 1997 facilitaram muito as coisas e, dessa forma, nasceu o Corolla WRC e Carlos Sainz regressou à equipa. Porém, apesar de terem ganho o título de Construtores, em 1999, as vitórias não foram muito frequentes.
Então, algo desiludida, a Toyota decidiu colocar um ponto final na sua presença no WRC, apostando em força na F1, com um chocante anúncio (para as hostes do WRC…), ainda em 1999. Entre 2002 e 2009, estiveram na F1 com uma equipa própria mas, falhada também esta aposta (o melhor que conseguiram foram cinco classificações no 2º em GP), era tempo de pensar no regresso ao WRC. Que demorou ainda alguns anos até que, em 2017…
… um novo começo
Após dezassete anos de ausência dos ralis ao mais alto nível, o maior construtor mundial de automóveis, a Toyota, regressou ao Mundial de Ralis, para dar sequência à rica história que já vem dos primórdios do Mundial de Ralis.
Foi a Tommi Makinen e seus pares que foi dada a responsabilidade de reativar a senda de sucessos que na altura contava com 43 vitórias em 121 ralis, três títulos mundiais de construtores e quatro de pilotos, e para que ficasse claro que o presidente da Toyota, Akio Toyoda, quis dar todas as condições a Makinen para ser pelo menos tão bem sucedido quanto foi enquanto piloto. Na altura, Toyoda disse-lhe. “Não te esqueças da nossa ideia comum: Não gostamos de perder. Odiamos perder. Vamos vencer juntos”.
E foi exatamente isso que Tommi Makinen, primeiro, Jari-Matti Latvala, depois fizeram: duas vitórias em 2017, ano de estreia, vitória no Mundial de Construtores de 2018, cinco vitórias em 13 ralis, títulos de pilotos em 2019, com Ott Tanak, 6 vitórias em 13 ralis, título de pilotos de Sébastien Ogier em 2020, quatro vitórias em sete ralis, título de pilotos de Sébastien Ogier em 2021, título de Construtores, nove vitórias em 12 ralis. Em 2022, título de pilotos para Kalle Rovanpera, título de construtores para a Toyota, sete triunfos em 13 ralis, e em 2023, título de pilotos para Kalle Rovanpera, título de construtores para a Toyota, nove triunfos em 13 ralis.
Em resumo, desde 2017, 4 títulos de construtores, 5 títulos de pilotos, 42 vitórias em sete anos de ralis…