WRC: Córsega, ilha da beleza, mas não para Tommi Makinen


O quarto lugar de Jari-Matti Latvala no Tour de Corse de 2017 não foi de longe o melhor resultado da Toyota Gazoo Racing no seu ano de regresso ao WRC, mas teve uma satisfação especial para o patrão da TGR, na altura, Tommi Mäkinen.

Foi o melhor resultado de Tommi em nove anos das suas visitas à Córsega! Nos oito anos em que competiu na ilha (sete com a Mitsubishi, e depois com a Subaru) nunca terminou melhor do que sexto – e nos oito anos a pilotar alguns dos melhores carros da temporada, nunca conseguiu um melhor tempo numa especial em época alguma. E por quatro vezes Mäkinen terminou o rali com violentos acidentes… Sobre as suas desventuras, o tetracampeão mundial de ralis de 52 anos tem, naturalmente, memórias bastantes claras sobre esses dias da sua vida.

Tommi: “A Córsega é o maior desafio relativamente aos ralis de asfalto, as condições mais extremas deste piso. Bonito e sinuoso, é realmente um rali de asfalto de sonho para um piloto. A qualidade de pilotagem tem enorme importância, já que existem tantas curvas, aparentemente milhões de curvas, todas com ângulos e tamanhos ligeiramente diferentes. É muito difícil tirar notas suficientemente rigorosas para permitir andar a fundo em todo o lado. É o rali de asfalto mais difícil, mas ao mesmo tempo a superfície é de boa qualidade e é um rali muito agradável. Em suma, eu gostei muito de o fazer durante a minha carreira, mas de alguma forma fui sempre muito azarado. Parece que quando alguns ralis não correm bem à partida, o azar te persegue ano após ano. A Córsega foi um desses eventos em que o azar me perseguiu todo o tempo”.

O acidente mais célebre de Tommi ocorreu em 1997, quando encontrou uma vaca na estrada e se despistou, com o carro a mergulhar numa ravina quase na vertical para acabar bem abaixo da estrada no leito de um rio. Até agora nunca me tinha atrevido a perguntar a Tommi quais foram as suas emoções ao ver a vaca: “Foi tudo tão repentino. Terrível, terrível. Era um dos troços mais rápidos e de repente vi uma vaca saltar para a nossa frente. Não houve sequer tempo para abrandar. A vaca simplesmente voou sobre o carro, nos fomos direitos ao muto do lado esquerdo da estrada, o que nos atirou para fora do asfalto à direita. Foi uma longa queda até ao rio ao fundo. Eu não pude travar antes de encontrar a vaca e perdi o controlo do carro. Batemos em algumas árvores e arbustos que abrandaram um pouco a queda. A primeira coisa que me recordo, ainda estávamos no ar foi de desligar o interruptor principal. Eu tinha medo que caíssemos diretamente no leito do rio. Não sei em que é que batemos primeiro, mas o carro parou finalmente entre algumas rochas, capotado, felizmente fora da água, e janela traseira era a única via de saída. Sabes que num carro de rali não há grande forma para se espremer entre as barras de segurança para sair pela janela de trás. Para mim foi relativamente fácil, mas para o meu co-piloto, (Seppo) Harjanne, demorou mais tempo para o retirar do carro.

E quanto ao acidente com Risto (Mannisenmaki) em 2001? Esse foi menor, mas muito desagradável porque Risto ficou bastante ferido nas costas. Foi o impacto no chassis que provocou os ferimentos. Foi uma má memória. Era um carro novo que ainda não estava completamente afinado. Alguma coisa não estava bem com a suspensão dianteira, que estava com um comportamento anormal. Tocamos com a frente numa estrada muito estreita, com uma ravina no exterior. Tivemos sorte em não ter mergulhado nela. Teria sido um longo caminho, talvez uma queda de 15/20 metros com algumas rochas muito grandes ao fundo. Teria sido muito mau cair ali.” Em 2000 Tommi teve um mau rali. Em primeiro lugar, bateu numas pedras que danificaram a direção e os travões, depois derrapou largo numa curva e o carro caiu por uma encosta, terminando bem longe da estrada quase invisível no meio da vegetação, mas na sua posição normal. E na sua última época com a Mitsubishi, em 2002, fez acqua planning numa poça e partiu a suspensão quando bateu numa pedra.

Dirigindo a sua nova equipa a partir do Parque de Assistência, Tommi está agora num lugar mais seguro, e admitiu um sentimento diferente ao regressar à Córsega no seu novo papel. Esperemos que, nos anos vindouros, a sua equipa finalmente melhorou os seus resultados na Córsega. É difícil perceber como é que Tommi tem tal recorde negativo nas suas presenças na ilha. Há um mito bastante comum de que os Finlandeses são maus pilotos no asfalto, mas o palmarés mostra que não é verdade. Tommi venceu na Catalunha em 1997, o Sanremo em 1999 e o Monte Carlo entre 1999 e 2002, todos eles sem quaisquer pisos de terra. Markku Alén venceu o Tour de Corse em duas ocasiões, mas Markku não manteve o título de campeão mundial, enquanto Tommi foi campeão quatro vezes, um por cada vez que bateu na Córsega.

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