F1: Mattia Binotto e os temas quentes do paddock

Por a 16 Agosto 2020 20:04

São diversos os temas que têm vindo a criar controvérsia nos paddocks deste ano do Campeonato do Mundo de Fórmula 1. Mattia Binotto discutiu alguns durante o Grande Prémio de Espanha e, muito embora tenha escolhido uma abordagem calma e distante, não deixou de marcar com veemência a sua posição e a da Ferrari.

Ainda nenhum carro tinha sequer deixado as boxes e já o Grande Prémio de Espanha tinham uma nova narrativa para a polémica, com a FIA a informar as equipas de que a partir de Spa-Francorchamps os modos de qualificação das unidades de potência serão proibidos.

A forma como isto será obtido não foi ainda definido pela entidade federativa, devendo a obrigatoriedade de usar em corrida o modo de potência utilizado em qualificação o caminho a seguir.

Contudo, será seguro de que todos os construtores de unidades de potência serão atingidos de forma diferente, consoante a eficácia dos “party modes” e, neste particular, a Mercedes poderá ser bastante afetada.

A Ferrari tinha em 2019 o modo de qualificação mais potente da grelha de partida, mas desde as clarificações regulamentares do defeso, que desaguaram num acordo secreto entre a FIA e a equipa de Maranello, os utilizadores das unidades de potência italianas tem um deficit de potência assinalável para os seus adversários – perto de 80cv de potência.

A “Scuderia” admitiu que as diretivas técnicas invernais tiveram um impacto na performance da sua unidade de potência e Binotto alude que a diretiva técnica que terminará com os modos de qualificação terá reflexos em todos V6 turbohíbridos, mas haverá uma que sofrerá mais – leia-se a da Mercedes –, tal como acontecera na situação anterior, quando foi a da Ferrari a que perdeu maior eficácia. “Não será, certamente, a última, nem sequer é a primeira diretiva técnica sobre unidades de potência, o que mostra o quão complexo e difícil é este regulamento. Tem havido muitas diretivas técnicas relativas a unidades de potência publicadas nos últimos meses e penso que todas elas afetaram todos os construtores de unidades de potência. Penso que a próxima simplesmente afetará todas os construtores. Afetará mais um que os outros, mas só poderei entender assim que nos chegar a diretiva técnica. Precisamos de ver o seu verdadeiro conteúdo. Obviamente, se temos o melhor carro em pista, o melhor seria manter o status quo. Mas no final, não é uma diretiva técnica que será contra um dos construtores. Simplesmente, o regulamento é muito complexo e são necessárias clarificações, apenas isso”, afirmou o chefe de equipa da Ferrari.

Outro dos temas que adensam o ambiente do paddock nos últimos Grandes Prémio tem sido o caso dos “Mercedes Cor de Rosa”, tendo a “Scuderia” apelado da decisão da FIA desencadeada pelo protesto realizado pela Renault, tendo por base as condutas de arrefecimento dos travões.

Curiosamente, Toto Wolff acabou como mediador da situação, uma situação estranha, uma vez que austríaco é o chefe de equipa da Mercedes, equipa que forneceu à Racing Point os componentes em questão, e não mostra qualquer relutância com o facto de a equipa de Silverstone ter copiado o “Flecha de Prata” de 2019.

Para além disso, o chefe de equipa da Mercedes é acionista da Aston Martin, marca que no próximo ano dará o seu nome à Racing Point, o que contribui para a sua difícil posição no caso do “Mercedes Cor de Rosa”.

Apesar de poder ficar no ar a ideia de que Wolff está envolvido em papéis que poderão entrar em conflito, Binotto prefere não se envolver, sublinhando, contudo, que há quem tenha a função de perceber se esse é o caso. “Penso que não é a primeira vez no desporto automóvel, ou no desporto em geral, que temos pessoas com interesses e investimentos em companhias associadas, ou seja, o que for. Portanto, é difícil para mim julgar, mas, para mim, o que é importante é que há um conjunto de regras que garantem que não há conflitos de interesse e, se existe algum, não me cabe a mim julgar, mas alguém tem de o fazer e tenho a certeza de que, quem o tem de fazer, está simplesmente a fazê-lo e, se até agora não existem conflitos de interesse que foram levantados, provavelmente é por que não existem”, afirmou o italiano.

Na ressaca da decisão da FIA, cinco equipas – Renault, Ferrari, McLaren e Williams de um dos lados da barricada e a Racing Point do outro – mostraram interesse em apelar, mas apenas as duas primeiras e a formação de Silverstone prosseguiram com os seus intentos, tendo as duas que se mostravam contra esta e com ligações à Mercedes deixado cair as suas intenções de apelar.

Quando questionado sobre se a Racing Point e a Mercedes adotaram actos questionáveis, Binotto prefere escudar-se à resposta, mas sublinha que é importante clarificar toda a situação para o bem da Fórmula 1. “Honestamente, não creio que tenha a resposta e não creio que me caiba a mim julgar. A razão para que tenhamos confirmado o apelo… Penso que, pelo menos, temos de procurar clarificação e transparência. Penso que as condutas de arrefecimento dos travões são uma questão, mas penso que, eventualmente, as conclusões e a decisão do Tribunal Internacional de Apelação abrirão uma discussão mais aberta e alargada sobre o conceito do carro copiado, o que é importante para nós, é importante, também, para o futuro da Fórmula 1, dado que no fundo estamos a discutir a propriedade intelectual e penso que a propriedade intelectual é um bem importante ou um bem muito importante para uma companhia. Se alguém, de alguma maneira, copia de uma forma quase idêntica um carro do ano anterior de outro competidor, penso que, de alguma forma, os regulamentos deveriam proteger o próprio competidor e, por isso, penso que, de momento, é importante avançar e compreender. A clareza, transparência e justiça da competição e da Fórmula 1 é importante para o futuro”, frisou o homem da Ferrari.

O italiano considera que a decisão da FIA – quinze pontos deduzidos à Racing Point no Campeonato de Construtores e uma multa de quatrocentos mil euros – deixa diversas questões em aberto, apontando que será importante analisar a totalidade do RP20 Mercedes, voltando a sublinhar a questão quanto à propriedade intelectual, algo que parece não ser um problema para a Mercedes. “Antes de mais, ao sermos uma das partes que apelou, não quero entrar em muitos detalhes, não creio que seja apropriado. Por outro lado, penso que não, penso que são necessárias mais clarificações… Deixem me dizer, a decisão do Tribunal Internacional de Apelação será, de certa forma, mais aberta para a nossa discussão mais alargada e ampliada, que envolve todo o carro e não apenas as condutas de arrefecimento dos travões. É para isso que estamos a olhar, como disse antes, é uma questão de justiça desportiva, é uma questão de proteger a propriedade intelectual no futuro. Se olharmos para o passado, não me consigo lembrar de uma vez em que uma equipa tenha copiado com precisão, ou com quase total precisão, um carro, pelo menos desde que temos a regulamentação de 2009, e, portanto, creio que é necessário clarificar, dado que não considero que seja bom para a categoria, mas, uma vez mais, não me cabe a mim julgar e, por isso, penso que o Tribunal Internacional de Apelação será importante”, apontou Mattia Binotto.

Como se pode perceber, apesar da forma polida como respondeu a todas as questões, deixou bem clara a posição da Ferrari, transparecendo que os homens da formação de Maranello não estão satisfeitos nem com a Mercedes, que branqueia as ações da Racing Point, nem com esta, esperando uma decisão mais musculada da parte do Tribunal Internacional de Apelação.

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hellrun
hellrun
3 anos atrás

E quando é que podemos conhecer o acordo FF (Fia Ferrari)? Isso é que era clarificação.

kkk698
kkk698
Reply to  hellrun
3 anos atrás

O acordo foi pra retirar 80 CV ao motor Ferrari, ou proteger a própria FIA por espionagem industrial sobre a Ferrari, já que não conseguiram provar o ano passado que o motor estava ilegal

4RcNg
4RcNg
Reply to  kkk698
3 anos atrás

Ah, que fenomeno. O regulador e fiscalizador, espia os concorrentes!
Então não é o que deve fazer? Ver tudo, controlar, aferir, medir, monitorizar, tudo o que as equipas fazem técnica e desportivamente.
O que não é usual é ter decisões punitivas, baseadas em acordos e não em acordãos jurisdicionais, de cujo teor todos os interessados têm de ter conhecimento, ao tempo dessa decisão.

hellrun
hellrun
Reply to  kkk698
3 anos atrás

Portanto a FIA não consegue provar nada, e a Ferrari aceita passivamente retira potência ao motor, porque sim. Num acordo secreto. Faz todo o sentido, é mesmo o estilo da Ferrari. Volto a dizer: quero ver esse acordo, tal como todo o paddock.

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