Entrevista a Petter Solberg: A ESTRELA DOS FIORDES

Por a 8 Janeiro 2020 13:10

Por Nuno Branco

Fotos: Redbull, VW, Martin Holmes, Subaru e arquivo Autosport

Cresceu rodeado de ferramentas e latas de óleo, desenvolvendo, ainda em criança, apetência para a afinação de motores. Com a carta de condução no bolso, estreou-se sem demoras na competição, ficando com a certeza de que as corridas preencheriam a sua vida e que preferia vivê-la atrás do volante. Perdeu-se um mecânico, ganhámos um piloto. Rendido aos encantos dos ralis, e depois de uma fugaz passagem pela Ford, integrou as fileiras da mítica Subaru, sagrando-se, em 2003, campeão do mundo, feito inédito que lhe conferiu o estatuto de herói nacional no país dos fiordes. Com o mesmo à-vontade com que, em adolescente, triunfava nas pistas de dança de Spydeberg, Solberg desenvolveu uma especial relação com os palcos e com as luzes da ribalta, tornando-se um fenómeno de popularidade que lhe valeu a alcunha de “Mr. Hollywood”. No último Rali de Gales, a poucos dias de completar 45 anos, decidiu pendurar as luvas e o capacete para acompanhar o seu filho Oliver na perseguição de um sonho que também foi o seu. Irá o corredor da fama do WRC conhecer, pela primeira vez, descendência? A história encarregar-se-á de nos dar a resposta…

Os dias intensos do Rali de Gales estavam ainda bem presentes na memória de Petter Solberg. Na verdade, tenho dúvidas se alguma vez serão esquecidos. A subida à rampa do pódio colocado na pitoresca Promenade de Llandudno significara muito mais do que o assinalar do décimo lugar na prova britânica. Representava o adeus ao volante e a celebração de uma vida dedicada quase por inteiro às corridas. A estreia do filho Oliver, precisamente na prova que escolhera para se despedir da competição, assumia os contornos de uma espécie de passagem de testemunho. O caloroso abraço de Phil Mills, o seu navegador e companheiro de aventuras, assim como os cumprimentos de Malcolm Wilson e David Richards e a ovação do público presente não deixavam margem para dúvidas: valera a pena. Ainda a digerir as emoções de uma decisão difícil mas consciente, Solberg aceitou nosso o desafio e predispôs-se a fazer um balanço da sua vida. Conversámos sobre as quase quatro décadas que dedicou aos automóveis e falámos de sonhos, dos que que concretizou e dos que estão ainda por cumprir…

Antes de subires aos pódios do automobilismo, já triunfavas em torneios de dança na Noruega. Perdeu-se um dançarino profissional?

Bem, a minha carreira de dançarino decorreu numa altura em que me dedicava também às corridas de carros telecomandados e às competições de tratores, na quinta dos meus pais. Na quinta não se passava muita coisa e, basicamente, eu e o meu irmão Henning, jovens adolescentes, começámos a participar em concursos de dança para nos divertirmos e para ter sucesso com as raparigas. Acabei por ser bem-sucedido, quer na dança, quer nos carros telecomandados mas, já nessa altura, era a mecânica que me fascinava.

Como é que um jovem se sente cativado pela mecânica? Acredito que não tenha sido alheio ao facto de os teus pais competirem na altura…

Os meus pais corriam no bilcross, uma espécie de ralicross muito mais barato, em que cada concorrente construía o seu próprio carro. Eu e o Henning dávamos apoio e, aos dez anos, já mexia na parte mecânica dos carros até que comecei a construir os motores para os carros com que os meus pais competiam. Os meus conhecimentos de mecânica evoluíam, fui construindo motores cada vez melhores e eles acabavam por ganhar todas as corridas.

Não é fácil imaginar um miúdo a construir motores. Onde ias beber conhecimentos sobre mecânica?

Era um autodidata e tinha uma enorme paixão pela mecânica. O meu pai não era um grande mecânico e eu achava que podíamos sempre melhorar qualquer coisa. Passava os meus dias à volta dos motores, na quinta e dava-me um prazer especial quando os meus pais tinham sucesso com os carros que nós construíamos.

Foi nessa altura que se revelou a tua obsessão pelos pormenores e pela busca da perfeição na preparação dos carros?

Isso começou quando fazia corridas de carros telecomandados, onde os detalhes fazem toda a diferença para garantir o máximo de aderência do carro. A obsessão acabou por me acompanhar ao longo de toda a vida já que, desde muito novo, aprendi que os pequenos detalhes podem fazer uma grande diferença e essa busca pela perfeição foi moldando a minha maneira de estar no desporto motorizado.

Quando completaste dezoito anos, fizeste a tua primeira corrida. Essa participação baralhou as perspetivas que tinhas para o futuro?

Assim que tirei a carta, estreei-me na numa corrida de ralicross, ficando em segundo lugar. À segunda tentativa, ganhei e Isso acabou por ter uma enorme influência nas minhas escolhas já que, até aí, o meu objetivo era ser mecânico. Depois dessa vitória, passei a perseguir o sonho de ser piloto. Fiz mais corridas de ralicross, algumas de autocross e comecei depois a competir em rampas com um Escort MKII.

Como se dá a viragem para os ralis?

Depois de ganhar tudo o que havia para ganhar nas rampas e no ralicross, queria ter a certeza de que tomava o rumo certo. Fiz uns testes em velocidade, num daqueles Renault Sport Spider que alinhavam no troféu de suporte às corridas de F1 e decidi depois experimentar os ralis, comprando um Volvo 240. Fiquei em segundo no meu primeiro rali, batendo o campeão norueguês mas, mais importante do que isso, nesse momento tive a certeza de que correr em ralis era aquilo que eu queria fazer já que aquela prova me havia dado mais prazer do que qualquer uma outra…

A partir dessa altura, a ambição de fazer carreira nos ralis teria que ser acompanhada por um maior investimento monetário, o que te obrigou a alguma “ginástica” financeira…

É verdade. Todos os carros que adquiri nessa altura foram comprados com recurso a empréstimos bancários e tinha que trabalhar no duro para poder pagar as prestações. Trabalhava como pintor e ainda construía motores para outros pilotos. Enfim, não tinha escolha, queria mesmo ser piloto e era preciso correr alguns riscos, investindo o que podia para mostrar o meu valor, alcançar o sucesso e atrair patrocinadores.

Tu e o Henning competiam nos mesmos ralis, batiam-se nos troços e lutavam pelos lugares da frente. A competição afetava a relação entre os irmãos?

Sim, na altura, andávamos picados! Depois do Volvo, comprei ao Henning o Toyota Celica ST165 enquanto ele dava o salto para o Celica ST185. Apesar de termos carros diferentes, o meu primeiro objetivo era ser mais rápido do que ele e isso aconteceu várias vezes. Em 1997, comprei o Celica ST185 e, no ano seguinte, com o Celica ST205, sagrei-me campeão de ralis da noruega, batendo o Henning com carros iguais, assim como o Mats Jonsson. Foi um período engraçado durante o qual éramos grandes adversários. Depois, quando fui para o WRC, o Henning venceu o campeão norueguês cinco anos consecutivos.

Depois de triunfar no teu país, assumes a ambição por voos mais altos e envias um vídeo para todos os diretores de equipa do WRC que não passou despercebido a Malcolm Wilson…

Na Noruega já não havia nada a provar e eu queria mesmo dar o salto. A Ford convidou-me, juntamente com outros pilotos, para um teste. Acabei por ser o mais rápido e isso convenceu o Malcolm a dar-me a oportunidade de participar em algumas provas do WRC numa equipa júnior. E assim começava a minha aventura no mundial de ralis…

De repente, em 1999, vês-te na contingência de substituir o lesionado Thomas Rådström e tornas-te piloto oficial da Ford, tendo ao teu lado uma das maiores estrelas de então: Colin McRae. Quais os maiores obstáculos que tiveste pela frente nesta adaptação ao WRC?

Bem, em primeiro lugar, tinha, como disseste, o Colin na equipa e o primeiro grande desafio é não sentires demasiada pressão com esse facto. Depois, foi a questão da língua. Na altura, tive que ir viver para Inglaterra e falava mal inglês, pelo que a adaptação foi complicada. Foram tempos difíceis. Tinha a velocidade mas faltava-me experiencia e a pressão chegou demasiado cedo. Isso refletiu-se em demasiados erros quando tentava andar depressa. Nesse capítulo, o Colin McRae teve um papel muito importante. Ajudou-me bastante a melhorar, a andar depressa cometendo menos erros. E assim fui evoluindo, aprendendo com os melhores…

Como era a tua relação com Colin McRae?

Eu era um piloto novato e procurava ir ter com ele várias vezes, entrar no seu carro e aprender com a sua experiência. Acabámos por criar uma grande amizade e divertíamo-nos muito, juntos. Na altura, estava a ser desenvolvido o videojogo “Colin McRae” e nós passávamos horas a testá-lo no quarto do hotel… O Colin era um pouco louco enquanto piloto mas, na verdade, era um grande amigo e foi ele quem, nesta fase, tomou verdadeiramente conta de mim…

No Rali de Portugal de 99, estreia-se ao teu lado o navegador Phil Mills, que viria a ser o teu histórico companheiro de aventuras. Como é que os vossos caminhos se cruzaram?

Conheci o Phil num bar em Inglaterra. Na Ford, queriam que eu tivesse um navegador que falasse inglês e apresentaram-me alguns possíveis. O Phil acabou por ser o escolhido, acompanhando-me durante grande parte da minha carreira nos ralis. E graças a ele, eu melhorei substancialmente o meu inglês (risos). Nessa prova, tive, pela primeira vez, contacto com a incrível atmosfera do Rali de Portugal. Apesar de o rali não nos ter corrido bem, valeu pelo ambiente fantástico, pelos fãs e por aquelas classificativas míticas que, ainda hoje, são, em parte, disputadas.

Como surge a oportunidade de integrares a equipa Subaru no ano 2000?

É uma longa história. A Subaru já me havia desafiado algumas vezes a integrar a equipa. A verdade é que, nos dezoito meses em que estive ligado à Ford, nunca tive um contrato assinado e a Subaru propunha-me um contrato de longa duração, o que acabou por pesar.

Chegas à Subaru com um papel diferente daquele que tinhas na Ford e sobre ti recaía agora uma expectativa diferente relativamente aos resultados. Como lidaste com essa pressão adicional?

Na Ford, eu era um jovem piloto em aprendizagem. Quando cheguei à Subaru, a situação era diferente. Fora contratado para ganhar e chegara a uma equipa icónica que, emocionalmente, para os fãs, representava nos ralis aquilo que a Ferrari simboliza na Fórmula 1. A pressão era grande mas, ao mesmo tempo, tratava-se de uma oportunidade única para mostrar o meu valor e que me permitiu, no segundo ano com a marca, vencer o meu primeiro rali do mundial e, no ano seguinte, sagrar-me campeão do mundo.

Quando chegas à Subaru, tens, uma vez mais, um britânico como ponta de lança da equipa. Como recordas Richard Burns?

O Richard era igualmente um fantástico piloto. Era muito focado e trabalhava muito para ser rápido. A sua forma de estar, muito compenetrado no trabalho, tornava mais difícil haver cooperação do que, por exemplo, com o Colin. Ambos tinham estilos diferentes mas foram igualmente bem-sucedidos e muito profissionais.

No final de 2002, consegues, na Grã-Bretanha, o teu primeiro triunfo no WRC. A primeira vitória é sempre um momento mágico?

Para ser honesto contigo, foi uma loucura. Depois de um período de adaptação difícil, estava finalmente a conseguir ser rápido com o Impreza, o carro estava bom e a aprendizagem e a experiência que acumulei, começavam a dar frutos. Os instantes que vivi após o rali são indescritíveis e, quando regressei à Noruega, esperava-me uma grande festa, com alguns milhares de pessoas na minha quinta. Na verdade, aquele era o primeiro grande momento de desporto motorizado da história da Noruega, tornando-se, por isso, numa ocasião muito especial.

No ano seguinte, sagras-te campeão do mundo. Que fatores contribuíram para a conquista do tão desejado título?

A rapidez e a consistência foram a chave para a conquista, mas não foi fácil. Nos primeiros ralis da época cometi alguns erros mas, na segunda metade do campeonato, consegui ser mais consistente e foi isso que me permitiu lutar e chegar ao título. O Subaru Impreza estava muito bom e eu adorava conduzi-lo. E quando estamos na luta pelo campeonato, trata-se de entrar numa outra dimensão no que respeita a lidar com a pressão. Sentimos pressão quando temos que mostrar que somos rápidos, quando queremos chegar à primeira vitória mas, depois, quando estamos a um passo de conquistar o campeonato do mundo, a pressão entra num outro patamar e, lidar com ela, requer uma nova aprendizagem.

O Rali de Gales serviu, uma vez mais, de palco à decisão do título e, portanto, terá sido aí, que, como dizias, a pressão entrou numa outra dimensão. Como se controla a ansiedade e se mantém a concentração quando está em jogo vencer um campeonato do mundo?

O último dia foi o mais complicado mas havia que estar concentrado e manter o ritmo sem cometer erros. Sentia-me confiante. Aquele era o meu dia, tudo estava a correr bem e, mesmo no último troço, consegui ser o mais rápido, ganhando 11 segundos a Loeb. Mantive o meu foco e, quando cruzei a linha de chegada e vi os sorrisos da gente que me esperava, da minha mulher, Pernilla, e do Tommi Mäkinen, que vieram ter comigo para me abraçar, percebi que era campeão do mundo. É um daqueles momentos que não nos acontecem todos os dias…

Qual é a sensação?

É indescritível. Ter grandes estrelas como o Colin ou o Carlos Sainz, que cresceste a admirar, à tua volta, felicitando-te pela conquista do título, é um momento único. O Tommi era o meu companheiro de equipa e também ele ficou feliz por mim. Ele havia já sido quatro vezes campeão do mundo e a partilha da sua experiência foi uma grande ajuda naquele período da minha carreira. Inclusivamente, após ao rali, emprestou-me o seu avião particular para regressar a casa, onde uma multidão de dez mil pessoas me aguardava em Spydeberg, incluindo o Rei, com transmissão em direto por parte da TV norueguesa. Enfim, foi um daqueles momentos em que temos vontade de nos beliscar para ter a certeza de que não é apenas um sonho…

O que mudou na vida de Mr. Hollywood depois de se sagrar campeão do mundo?

Enquanto pessoa, penso que nada mudou. Sou o Petter de sempre mas, ao nível da notoriedade, especialmente no meu país, as coisas passaram a ser diferentes. Comecei a aparecer diariamente nas notícias e isso muda a tua vida. A exposição mediática era grande mas, ao mesmo tempo, a vontade de me focar na próxima meta e de trabalhar para lá chegar também aumenta. O segredo é conseguir manter o foco e, apesar de uma maior exposição, penso que o consegui pois a verdade é que 2004 acabou por ser o meu melhor ano em termos de performance.

Nesse ano de 2004, um fenómeno chamado Sébastien Loeb iniciou uma caminhada que só terminou quase uma década depois, com a conquista de nove títulos consecutivos. Como explicas este domínio tão avassalador por parte de Loeb?

Como disse, 2004 foi um ano muito bom para mim. Ganhei cerca de trinta troços a mais que Loeb ao longo do ano, consegui cinco vitórias e não cometi erros. No entanto, alguns problemas técnicos impediram-nos de repetir a conquista do título. No ano seguinte, começámos bem, ganhámos na Suécia e o carro estava fantástico mas depois veio o novo Impreza de 2005. Nenhum piloto queria correr com o carro porque era mais lento e a verdade é que, a partir desse momento, começou a fase descendente da Subaru, afetando, obviamente, a evolução da minha carreira. No final de 2005 tive um convite da Citroën para me juntar à equipa mas recusei-o e, hoje, acho que não o devia ter feito. Talvez seja a única coisa de que me arrependo mas, na altura, tinha o compromisso da Subaru de que tudo ia ser feito para melhorar o carro e a verdade é que havia a esperança de que isso viesse a verificar-se mas não aconteceu. Enfim, são coisas que podem acontecer a qualquer piloto. Na altura não havia muita gente que pudesse aconselhar-me, decidi seguir o meu instinto e acabou por ser um erro…

Era frustrante competir durante todos aqueles anos em que Loeb e a Citroën não deram hipótese à concorrência?

Era muito frustrante. Eu estava certo de que tinha a velocidade para me bater de igual para igual com ele. Aliás, nessa altura, era o único a oferecer concorrência ao Loeb mas, a falta de competitividade do Impreza, impediu-nos de lutar e acabou por deixar caminho livre para ele conquistar uma série de campeonatos seguidos. De qualquer modo, isso não lhe retira o mérito. Loeb era um grande piloto, inserido numa grande equipa, tinha consistência e inteligência e eu gostava particularmente de lutar contra ele.

Ficaste surpreendido com a notícia do abandono da Subaru do WRC, em 2008?

Fiquei obviamente surpreendido e triste quando recebi a notícia mas, ao mesmo tempo, sabia que não havia muito a fazer. A equipa não conseguia ter um carro verdadeiramente competitivo. Desde a distribuição de pesos à geometria do chassis, a falta de competitividade era evidente e isso deixava a marca numa situação complicada.

De repente, vês-te sem um volante para conduzir em 2009. Como surgiu a ideia de criares a tua própria equipa?

A ideia foi pensada e concretizada em vinte e quatro horas! A Subaru ajudou-me a criar as condições para que tal fosse possível porque, de alguma forma, queria evitar que a minha carreira ficasse comprometida com a sua saída do WRC. Rodeado das melhores pessoas, dos melhores engenheiros, comprei os carros e começámos a aventura. Uma estrutura privada nunca é a mesma coisa que uma marca oficial mas, apesar disso, conseguimos ficar em terceiro lugar no campeonato do mundo de pilotos em 2009, acabando por ser uma espécie de medalha que premiou todo o esforço e dedicação da equipa e isso deixou-me muito orgulhoso.

Que ensinamentos retiraste dessa experiência de competir na tua própria equipa que não havias vivido quando eras piloto oficial?

O trabalho é muito mais duro quando estamos numa equipa privada, sobretudo quando temos que, ao mesmo tempo, pilotar e gerir a equipa. Eu tinha que controlar tudo enquanto numa equipa de fábrica há alguém que controla e tu conduzes. Isso faz uma diferença muito grande. Apesar do esforço, neste tipo de iniciativas, as coisas acabam por nunca correr exatamente como desejas e talvez tenha sido por isso que decidi abandonar o projeto e mudar para o ralicross.

A tua mulher, Pernilla, filha do ex-piloto sueco Per-Inge Walfridsson, cresceu igualmente no meio motorizado, tendo tido, inclusivamente, uma carreira de sucesso enquanto piloto. Além de esposa, ela tem sido um importante apoio durante a tua carreira?

A Pernilla tem sido inacreditável. Trabalhou muito durante todos estes anos para que atingíssemos os nossos objetivos. Era uma fantástica piloto e essa experiência de competição foi crucial, quer quando criámos a equipa no WRC, em 2009, quer, mais tarde, no WRX. Ela moldou toda a equipa, cuidou dela e foi determinante para levar o projeto para a frente. É uma mulher incrível.

A chegada ao WRX foi uma espécie de regresso às origens?

Na altura, não havia muitas equipas de fábrica no WRC, o que quer dizer que os lugares disponíveis não abundavam. Hoje, os ralis estão novamente em grande forma, há mais construtores envolvidos mas, na altura, não era assim e a vontade de continuar a competir, fazendo aquilo de que gostava, levou-me a procurar outros sonhos, outras perspetivas. As coisas correram muito bem no WRX e estou bastante satisfeito com os anos que passei naquela competição.

Venceste dois campeonatos no WRX, sendo, até hoje, o único piloto a conquistar títulos no WRC e no WRX. Sabemos que, tecnicamente são muito diferentes mas, do ponto de vista da emoção e da diversão, consegues comparar estas duas competições?

O ralicross é desafiante, tem muita ação, muitos detalhes, muitos aspetos para melhorar e grandes pilotos envolvidos mas rali é rali. É difícil descrever as emoções que os ralis proporcionam e o prazer que nos dá dominar o carro perante as dificuldades que cada troço nos coloca…

Recentemente anunciaste a tua decisão de abandonar as competições. O que pesou nessa decisão?

Em primeiro lugar, foi uma questão de saúde. No ano passado estive bastante doente (ndr: sarcoidose pulmonar) e isso pesou na minha decisão. Felizmente estou recuperado mas as coisas estiveram complicadas. Depois, a nível profissional, estava previsto ser o piloto responsável pelo desenvolvimento do carro elétrico da Volkswagen para o WRX 20/21 mas, com o retrocesso ao nível dos regulamentos, o projeto ficou em stand by e eu decidi dedicar-me a acompanhar a carreira do meu filho o melhor possível para que não cometa os mesmos erros que eu cometi. Trabalho com ele nos detalhes, nas questões técnicas, enfim, tento apoiá-lo da melhor maneira para que concretize os seus sonhos.

Emocionalmente, quão difícil é tomar uma decisão como esta?

Não foi tomada de ânimo leve. Foi ponderada durante o ano de 2018. Estou no desporto motorizado desde 1982, todos os dias, todos os fins-de-semana e adoro conduzir mas percebi que consigo ter todas essas sensações quando o Oliver está a conduzir e sentir a mesma alegria quando ele vence.

Além de acompanhar o Oliver, a que vais dedicar a tua vida?

Tenho novos sonhos e vou dedicar-me a eles. Mas não tenho pressa. Estou muito feliz pela forma como correu a minha carreira e pelo sucesso que obtive. Gostaria de gerir uma equipa e disputar WRC. Vamos ver o que o futuro nos reserva. Estou a trabalhar nisso…

Como geres as emoções quando vês o Oliver ao volante de um carro de competição?

Não é fácil para um pai ver o seu filho competir, qualquer que seja o desporto. Queres sempre que lhe aconteça o melhor, tentas desfrutar com ele e estás feliz quando corre bem e muito triste quando corre mal. Temos que o apoiar em ambas as circunstâncias e, sobretudo, ser cúmplices da sua paixão. Quando sentes que o teu filho está a fazer aquilo de que gosta, que o apaixona e comprovas isso no sorriso que ele tem estampado no rosto, é fácil apoiá-lo e fazer tudo para o acompanhar nessa paixão…

Achas que, depois dos títulos no WRC, no WRX e na Dança, a família Solberg pode bater mais um recorde ao ver pai e filho tornarem-se campeões do mundo de ralis?

O sonho do Oliver é ser, um dia, campeão do mundo de ralis. Esse é o seu principal objetivo e é para isso que ele trabalha todos os dias. Vamos ver. Há ainda muito trabalho pela frente…

Consegues partilhar as emoções que viveste no último Rali de Gales?

O Rali de Gales foi o culminar de uma série de eventos em que participei este ano e que assinalaram a minha despedida. Foi memorável por várias razões, a começar pelo facto de o Oliver também participar, fazendo a sua estreia no WRC. Infelizmente, para ele, a prova não correu bem mas quando os problemas foram resolvidos, ele fez tempos impressionantes. Do meu lado, foi um rali carregado de emoções, voltando a ter o Phil Mills ao meu lado, no seu Rali de Gales, a desfrutar cada minuto. Voltar a um sítio que me traz tão boas memórias e rever tanta gente que teve um papel importante na minha carreira, foi um fantástico momento na minha vida.

Qual foi o maior ensinamento que o desporto automóvel te proporcionou?

Se quiseres alguma coisa, tens que trabalhar mais do que os outros, sentir paixão mas uma paixão controlada e sobretudo sorrir, ser feliz e viver cada minuto porque não sabes quando vai acabar…

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