Pneus na Fórmula 1: A importância da base

Por a 26 Fevereiro 2017 21:45

Os pneus passaram a ser uma ferramenta importante para buscar mais velocidade desde que os slicks foram introduzidos nos anos 70. Agora, com novas medidas, voltam a ganhar importância como elemento de aderência, segurança e performance

Nos últimos anos, cada mudança regulamentar tem tido como objetivo reduzir a velocidade do carro e, teoricamente, melhorar a segurança para os pilotos. Desde os acidentes mortais de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger em 1994, a FIA tem reagido constantemente a qualquer sinal de que os carros vão ficar mais rápidos, dando corpo a medidas como a redução da cilindrada máxima, a eliminação de uma ou outra peça com função aerodinâmica, a reintrodução e nova proibição dos reabastecimentos, o uso recorrente dos safety cars ou as novas escapatórias de asfalto.

1_160052_test-pirelli-fioranoNo campo dos pneumáticos, a última década e meia viu a introdução de pneus com rasgos, o regresso dos slicks, a proibição e regresso das trocas de pneus, a obrigação do uso de uma marca de pneumáticos apontada pela organização e a redução da largura máxima.

Ao mesmo tempo, esta preocupação com a segurança e com a redução das performances foi apontada pelos fãs como a culpada pela redução do interesse do público na modalidade. Não é a única razão, mas tem a sua quota parte de responsabilidade. Os apêndices aerodinâmicos e os pneus slicks chegaram mais ou menos ao mesmo tempo à F1 e tornaram-se uma componente importante da popularidade da modalidade nos anos 70. As asas e os pneus largos e lisos eram imponentes, ameaçadores, davam corpo à imagem de superioridade tecnológica de que a F1 passou a gozar, mas cuja superioridade  era baseada em pormenores quase invisíveis a olho nu para os fãs menos especializados.

Por isso, numa época em que os próprios pilotos reclamam que a F1 não é excitante nem interesse, e quando o homem que controlava os destinos do campeonato, Bernie Ecclestone, procurava melhorar a imagem da sua competição, o apelo visual não podia ser descurado. Por isso, a largura do fundo plano do carro e da asa dianteira foi aumentada (esta passa para 1800 mm), e os pneus também ficaram mais largos, mais ‘gordos’, crescendo em cerca de 50 a 80 mm. Visualmente, quando testados nos carros ‘híbridos’ fazendo lembrar os pneumáticos usados há muitas décadas. Existem outros conceitos a rever para melhorar o espetáculo, mas no campo visual, a F1 está a ir na direção certa.

Ponto de inserção

Coulthard_Europa_105Apesar da obsessão da FIA em reduzir velocidades, a federação raramente tem avançado na forma mais simples de o chegar, algo que também permite reduzir custos na área de investigação que ‘suga’ mais dinheiro às equipas. E nem é por nunca ter sido pensado, pois é uma sugestão recorrente: aumentar a aderência mecânica e reduzir a aderência aerodinâmica.

Nas últimas décadas, a FIA tem feito precisamente o contrário. Não que não haja rédea curta da federação em relação aos avanços aerodinâmicos, mas a constante busca pela inovação dos departamentos técnicos da equipa rapidamente tem recuperado o tempo perdido cada vez que foram reduzida a aderência mecânica. Foi esse o caso em 1998, quando a FIA obrigou os fornecedores de pneus a montar sulcos (levando ao desaparecimento da histórica Goodyear da F1), e foi o mesmo em 2010. Como tem sido habitual, os aerodinamicistas mais hábeis rapidamente deram a volta a qualquer limitações, pois a FIA reage àquilo que viu (geralmente uma peça), e os diretores técnicos procuram sempre por novos pormenores para explorar.

Esta medida de aumentar a aderência mecânica deverá ser interessante para os pilotos, que assim poderão andar mais nos limites sem se preocuparem tanto com a degradação natural dos pneus, pois há mais área de contacto a aproveitar. Mas o quanto os compostos vão se degradar (e as escolhas dos mesmos para cada prova) vai ser sempre definido pela Pirelli.

F1 seria relevante com menos aerodinâmica

Sem TítuloA chegada dos novos pneus à Fórmula 1 também vem trazer uma nova oportunidade, que seria interessante explorar, ainda que não seja realista que tal venha a acontecer: a limitação da importância da aerodinâmica na performance dos carros. Numa era em que é sempre difícil justificar o dinheiro gasto no desporto automóvel como ‘pesquisa & desenvolvimento’, a F1 tem a vantagem de ser uma das competições desportivas mais vistas a nível mundial, servindo perfeitamente como ferramenta de marketing. Mas, a nível técnico, a aerodinâmica e os materiais exóticos utilizados na conceção dos chassis e da carroçaria são pouco relevantes para o automóvel normal.

A aerodinâmica, em especial, é a área menos interessante para os automóveis de produção, pois os projetistas dos monolugares de F1 querem aproveitar cada milímetro para gerar mais carga sobre o solo. Isso gera mais arrasto de ar, mas o pouco que é perdido em velocidade de ponta é amplamente recompensado com velocidades muito mais elevadas nas curvas e com distâncias de travagem mais curtas. Nos automóveis de estrada, pelo contrário, a tendência é para reduzir o arrasto e tornar carroçarias mais eficazes a cortar a ar, na busca pela redução dos consumos e das emissões poluentes, o que pode ser importante para efeitos de homologação, de impostos de circulação e de seguros.

Com menos carga aerodinâmica num monolugar de F1, um piloto teria que evitar cometer mais erros, mas também teria mais facilidade em recuperar tempo perdido. O quanto se pode controlar essa carga é mais difícil. Seria necessário encontrar um diferencial de peso sobre superfície (kg/mm2), estabelecer um valor máximo que os projetistas podiam fazer a superfície do carro no seu todo gerar a determinada velocidade, e poder medir esse valor em todos os circuitos para verificar a legalidade dos carros. Quanto tempo demoraria até os especialistas em aerodinâmica darem a volta à situação e recuperarem o tempo perdido?

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