Lembra-se de: Draco Racing, escola de campeões


Quando se pensa na história de Portugal no desporto automóvel, um nome surge regularmente ligado às cores nacionais: a equipa Draco Racing. Fundada em 1989 por Adriano Morini e Nadia Segreti (que depois viria a tornar-se a Sra. Morini), a Draco não demoraria muito a deixar a sua marca nas competições de monolugares, não só devido à rápida construção de um palmarés de respeito, mas também pelas calorosas relações entre todos os membros da equipa, que se consideram uma família. Nadia Morini acrescenta que «os nossos pilotos ficam sempre nas nossas memórias, são como as nossas crianças que depois vemos crescer».

Quatro pilotos portugueses passaram até agora pelas fileiras da equipa: Pedro Lamy, Manuel Gião e Ricardo Teodósio na Fórmula Opel, e Pedro Couceiro na Fórmula 3000. Adriano Morini acredita que «a Draco já era uma boa equipa quando o Pedro Lamy correu connosco, depois simplesmente continuamos a atrair os melhores portugueses». O diretor da equipa italiana considera que Lamy e Couceiro foram os pilotos lusitanos mais competitivos que passaram pela sua equipa.

Desde 1998 que nenhum português representou as cores da Draco, mas a ligação ao nosso país continua sempre presente, como revela Nadia, que tem «um antepassado português. Por uma feliz coincidência, a minha primeira corrida foi em Portugal e quando passámos a fronteira de Espanha para Portugal em Badajoz, no longínquo ano de 1989, senti uma grande vontade de sair do carro e tocar no chão. Para mim, foi amor à primeira vista».

Desde a sua formação, a Draco conquistou nada menos que sete títulos de pilotos, e oito dos seus formandos conseguiram o desiderato de chegar à Fórmula 1. Nadia confirma que «a capacidade técnica da Draco está fora de questão. O Adriano é o melhor na escolha de pilotos e em fazer deles campeões. Para isso é importante fazer com que eles se sintam em casa na equipa, para que cresçam como pilotos e homens». Não é só quem se senta ao volante que é tratado como parte da família, pois na estrutura da Draco «temos pessoas que trabalham connosco há 20 anos». Apesar do sucesso conquistado em categorias como o Campeonato Europeu de Fórmula Opel, a World Series by Renault ou a Euro Fórmula 3000, Adriano Morini não tem vontade de levar a sua equipa à Fórmula 1, preferindo «ajudar os meus pilotos a chegarem lá. Prefiro manter uma estrutura familiar e gerir a equipa como gosto». Nadia acrescenta que «gosto mais de trabalhar com pilotos em crescimento. Quando eles chegam à F1 já atingiram o máximo e não poderia trabalhar com eles assim».

A história da Draco terminou em 2015, quando a equipa fechou devido a falta de fundos para continuar. Por lá ainda passaram nomes como Nathanaël Berthon, André Negrão, Adrien Tambay e Nico Müller.

Pedro Lamy

«A Draco foi a minha equipa apenas no segundo ano na Fórmula Opel, mas foi lá que ganhei a mentalidade para lidar com as exigências do desporto automóvel. Evolui muito em termos técnicos e aprendi a ser organizado e profissional. Foram uma segunda família para mim e mantive uma óptima relação com a Nadia e o Adriano Morini. Fui o primeiro português a correr com eles, mas não tive dificuldade em adaptar-me, porque fizeram sentir-me em casa. A equipa sempre teve muitos pilotos brasileiros e argentinos, pelo que era mais ou menos o mesmo tipo de mentalidade latina. Quando estive na equipa apenas não vivi em Itália, fiquei na Bélgica para ficar mais próximo das corridas».

Manuel Gião

«Tive o meu baptismo internacional com a Draco, foi a minha primeira equipa fora de Portugal. Aprendi muito sob a batuta do mestre Morini. Ele não tem formação de engenharia mas sabe mais que qualquer engenheiro e é a pessoa que mais trabalha para a equipa. Lembro-me de uma vez em que ele acordou às cinco horas da manhã porque lembrou-se de uma experiência que queria fazer com o carro. Ele não olha a meios financeiros para ganhar, e reserva muito do orçamento para testes. A Nadia tinha uma excelente capacidade de organização e o resto dos mecânicos têm uma grande fidelidade pela equipa. Era assim que uma estrutura familiar consegue fazer tremer as equipas profissionais».

Ricardo Teodósio

«Para mim a Draco não era só uma equipa de Fórmula Opel com que eu ia correr aos fins-de-semana, era como uma segunda família que eu tinha, o que foi muito importante no nosso relacionamento. A equipa era composta por um grupo de pessoas maravilhosas, tudo gente de primeira apanha. Adorei a minha experiência

quando estive lá e tenho muitas saudades de trabalhar com eles, pois foi na Draco que comecei a minha carreira internacional quando estava nos monolugares, e onde aprendi muitas coisas e pude crescer como piloto. Lembro-me em particular da Nadia Morini, que cuidava de todos os pilotos como se fosse a nossa segunda mãe. Éramos tratados muito calorosamente».

Pedro Couceiro

«Passei os anos mais importantes da minha carreira com a Draco, quando estive no último ano da Fórmula 3000. Foram sempre uma segunda família, o que era muito importante lá fora. Ao contrário dos outros portugueses, quando fui para a Draco, já tinha mais experiência em competição automóvel, mas integrei-me bem na equipa e fizeram com que eu me sentisse em casa. Uma parte importantíssima do sucesso deles foi transformar o que seria uma equipa numa estrutura familiar. Eles sempre tiveram boas relações com portugueses e também com brasileiros, e sentimo-nos como se estivéssemos em casa. O Morini também foi muito importante na F3000 porque sempre foi uma pessoa com muitos conhecimentos, e chegou a colocar-me em contacto com a Minardi.

Ano a Ano

A Draco ultrapassou as fronteiras de Itália em 1989 e, desde logo, encontrou o caminho do sucesso. Primeiro na Fórmula Opel, a equipa de Adriano e Nadia Morini acabou por trilhar quase todas as fórmulas de promoção, concentrando- se desde há mais de uma década nos principais patamares de acesso à F1.

1989 Início da aventura europeia, com a Fórmula Opel. Terceiro no campeonato (Mehry Neto), com 12 “poles positions” e cinco vitórias. Pilotos: Eduar Mehry Neto (Bra.), Paolo De Cristofaro (Ita.) 1990 Primeira vitória internacional, no campeonato de Fórmula Opel Euroseries, com Rubens Barrichello: 11 “poles” 10 vitórias. O brasileiro, então com 17 anos, tornou-se no primeiro piloto “mady by Draco”, a chegar à F1. Pilotos: Rubens Barrichello (Bra.), José Luis Di Palma (Arg.)

1991 Segunda vitória nas Euroseries de Fórmula Opel, com Pedro Lamy. Segundo o casal Morini, o português, que dois anos mais tarde estava na F1, era um grande talento, com um estilo de condução e uma classe impecáveis. Com este triunfo, o nome dos Morini e da Draco tornou-se sinónimo de garantia de sucesso.

Pilotos: Pedro Lamy (Por.), Djalma Fogaça (Bra.), Paulo Garcia (Bra.)

1992 Guálter Salles termina em segundo lugar no mesmo campeonato e só não é campeão por causa de um início desastroso de temporada. Primeira temporada de Manuel Gião com a equipa. Pilotos: Guálter Salles (Bra,), Manuel Gião (Por.)

1993 Terceiro título da Draco, no campeonato de Fórmula Opel, através de Patrick Crinelli. Foi o triunfo mais difícil. Gião continua com a equipa italiana. Pilotos: Patrick Crinelli (Ita.), Manuel Gião (Por.)

1994 Ano da chegada à equipa de Marco Campos, «o melhor de todos», conforme disse mal o viu a testar em Magione, Adriano Morini. O brasileiro tinha apenas 17 anos e depressa entrou no coração dos dois italianos, que passaram a considerá- lo com filho dilecto. O seu talento e carisma são avassaladores. O brasileiro dá à equipa mais uma vitória nas Euroseries e mais sete troféus. Pilotos: Marco Campos (Bra.), Albery Spínola (Bra.), Filippo Francioni (Ita.)

1995 A Draco forma uma equipa de F3000 para Marco Campos. Na primeira corrida, em Silverstone, termina em 5º e Frank Williams fica interessado no piloto, mandando segui-lo atentamente. Porém, na última corrida, um acidente em Magny-Cours foi fatal para o jovem brasileiro. Para o casal Morini, o golpe foi tão violento, que pensaram em terminar com a equipa e deixar a competição. Mas continuaram – e, durante muito tempo, com a equipa viajou o seu capacete, para ser sempre lembrado, onde quer que a Draco estivesse. Pilotos: F3000: Marco Campos (Bra.); Fórmula Opel: Luiz Fernando Uva (Bra,), Alberto Jacobsen (Bra.)

1996 Segunda temporada na F3000, com outro brasileiro, que vence no Estoril, no Mugello e em Pau. No final do ano, foi 4º no campeonato, com menos um ponto que o 3º classificado. Na Fórmula Opel, o algarvio Ricardo Teodósio fez equipa com o brasileiro Wagner Ebrahim. Pilotos: F3000: Ricardo Zonta (Bra.). Estebán

Tuero (Arg.); Fórmula Opel: Ricardo Teodósio (Por.), Wagner Ebrahim (Arg.)

1997 Na F3000, surge o português Pedro Couceiro, que foi segundo na sua prova de estreia, em Silverstone. O francês Cyrille Sauvage não termina o ano com problemas de “budget”.

Pilotos: Cyrille Sauvage (Fra.), Pedro Couceiro (Por.)

1998 Um ano difícil, com Bruno Junqueira, mais um brasileiro trazido para Europa pela Draco, a ter uma aprendizagem complicada dos circuitos. Apesar de ter deixado a equipa no ano seguinte, a sua simpatia ficou no coração dos Morini.

Pilotos: Bruno Junqueira (Bra.). Giovanni Montanari (Ita.)

1999 Regresso aos lugares de sucesso, com o francês Fabrice Walfish, num ano em que a Draco teve que suar as estopinhas para se manter no “top” das principais equipas de F3000.

Pilotos: Fabrice Walfisch (Fra.), Oliver Martini (Ita.)

2000 A Draco dá um passo atrás, da F3000 internacional para a italiana. Com outro brasileiro, Rodrigo Sperafico, conquista quatro pódios e duas “pole positions”. Em Assen, numa prova extra-campeonato, experimenta dois pilotos novos, Sascha Bert e Jacky van der Ende, com este a terminar no pódio.

Pilotos: Leonardo Neikotten (Bra.), Rodrigo Sperafico (Bra.)

2001 Novo ano, novo talento, novo brasileiro: Felipe Massa que, em oito corridas, na F3000 europeia, ganha seis e sai por sete vezes do primeiro lugar da grelha, vencendo o campeonato. No final da temporada, é chamado pela Sauber para a F1.

Pilotos: Felipe Massa (Bra,), Luca Vacis (Ita.)

2002 Augusto Farfus chega à Draco com credenciais de talento, com a firme intenção de adquirir experiência na F3000. Consegue um pódio em Spa. O outro piloto é italiano, vem da F3 e chama-se Matteo Grassotto – e dá aos Morini o segundo pódio da temporada, em Dijon.

Pilotos: Augusto Farfus (Bra.), Matteo Grassotto (Ita.)

2003 Segundo ano de Augusto Farfus na Draco, que agradece oferecendo à equipa o seu sexto título internacional, na F3000. O segundo piloto é o irmão mais novo de Nick Heidfeld, de seu nome Sven.

Pilotos: Augusto Farfus (Bra.), Sven Heidfeld (Ale.)

2004 Novo ano, novo piloto, novo título, agora com o holandês Nicky Pastorelli, no campeonato de F3000 Superfund – apesar da pouca experiência do jovem piloto.

Pilotos: Nicky Pastorelli (Hol.). Fausto Ippoliti (Ita.)

2005 A Draco divide-se por dois campeonatos, World Series by Renault e F3000. É um ano complicado, apesar do segundo lugar na estreia na competição francesa. Na F3000, a Draco vence novo título, agora de Equipas, com Lienemann em 3º lugar no de Pilotos e vencedor entre os Under-21, na frente de Bonetti.

Pilotos F3000: Alessandro Bonetti (Ita.), Timo Lienemann (Ale.); World Series by Renault – Christian Montanari (Ita.), Marcus Winkelhock (Ale.)

2006 O venezuelano Pastor Maldonado sobe ao pódio por quatro vezes (Mónaco, Le Mans, Misano e Spa) e é 3º no campeonato WSR. O checo Kostka é substituído, por problemas financeiros, pelo sérvio Milos Pavlovic, a meio do campeonato.

Pilotos: Pastor Maldonado (Ven.), Tomas Kostka (Che.), Milos Pavlovic (Ser.)

2007 Milos Pavlovic é confirmado e, nas WSR termina em 2º lugar, depois de seis pódios e 96 pontos. O espanhol Álvaro Barba sobe ao pódio por duas vezes, no Estoril e em Donington.

Pilotos: Milos Pavlovic (Ser.), Alvaro Barba (Esp.)

2008 A Draco contrata agora o irmão de Álvaro Barba, de seu nome Marco, juntando-o ao belga Bertrand Baguette, que termina em 6º no campeonato, depois de uma vitória, em Spa.

Pilotos: Marco Barba (Esp.), Bertrand Baguette (Bel.)

2009 foi o ano do último grande sucesso da estrutura com Bertrand Baguette a ser fundamental na conquistar o título na Formula Renault 3.5 Series, com Marco Barba ao seu lado. A equipa manteve-se em competição até 2015 mas a estrutra fechou nesse ano, por falta de meios para continuar.

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