Pedro Salvador é unanimemente reconhecido como um dos maiores talentos da sua geração e um dos melhores a passar nas pistas nacionais. O AutoSport falou com ele, propondo-lhe um desafio.

A ideia base para esta conversa é simples. O que é preciso para ser piloto de competição? Uma pergunta que a grande maioria dos adeptos do desporto motorizado já alimentou, nem que por apenas alguns segundos. Todos admiramos a capacidade dos pilotos, mas no fundo também nos questionamos se não seriamos nós capazes de fazer igual, qual talento desperdiçado que nunca teve a oportunidade de se mostrar. Há também a visão dos miúdos que começam agora a competir, em busca de um sonho difícil de concretizar. O que é preciso para chegar ao topo? Para responder a essa pergunta falamos com Pedro Salvador, um dos melhores pilotos nacionais e que além de piloto é chefe de equipa. A sua visão privilegiada permite entender o que é preciso, quer do lado de dentro da pista como do lado de fora. Além disso, falamos do “estado da nação” e do que deve ser melhorado para termos um motorsport melhor, sempre com frontalidade que carateriza Salvador.

“ Desconfio que a paixão pelas corridas tenha nascido em Vila Real”

A primeira pergunta foi mesmo a que deu o mote para esta conversa. O que é preciso para ser piloto? Uma questão de resposta simples, mas ao mesmo tempo complexa:

“Acima de tudo é preciso querer, querer muito, ter muita vontade, o que vai ditar a determinação e o espírito de sacrifício de cada um. Antes disso, para ser piloto de competição é preciso ter dinheiro, seja próprio ou através de apoios. Mas o dinheiro apenas não garante o sucesso e vemos os miúdos que estão nas categorias de acesso à F1, que trabalham imenso e têm de ser 100% dedicados, caso contrário não conseguem atingir a performance que é necessária. Mas creio que a base é mesmo essa, a paixão pela competição, pela condução, pelas corridas, que permita fazer todos os sacrifícios necessários e inevitáveis. Não falamos apenas de sacrifico físico, mas sim abdicar de estar com a família, com os amigos . Quanto te dedicas ao desporto motorizado de corpo e alma há coisas que ficam para trás porque não há tempo para tudo. Determinação creio ser a palavra-chave.”

Para Pedro Salvador o sonho surgiu de forma algo inesperada. A paixão nasceu e cresceu em Vila Real, mas ganhou uma dimensão maior quase por acaso:

“Desconfio que a paixão pelas corridas tenha nascido em Vila Real, onde vivi numa fase inicial da minha vida, mudando-me depois para a zona de Chaves. Mas era em Vila Real que ia ver corridas portanto é natural que tenha sido aí que a paixão começou. Mas não foi algo que alimentei, porque achava que era um sonho impossível de conseguir. Aos treze fiz umas férias desportivas e por coincidência cruzei-me com o Tiago Raposo Magalhães e o Tiago Carvalho da Kia, porque fizemos todos o troféu Costa de Cristal do ACP no Cabo do Mundo. Não fazíamos a menor ideia que nos tínhamos cruzado por lá e ainda há pouco tempo nos rimos muito, porque naquela altura fui “altamente aviado” pelo Tiago Raposo Magalhães. Mas foi aí que andei de kart pela primeira vez, foi aí que tive o primeiro gosto pelo karting e pela competição.”

Passado dois anos surgiu a possibilidade de fazer corridas. Nunca tive o sonho de chegar à Fórmula 1, queria apenas fazer algo que gostava de fazer e que eventualmente teria algum jeito para tal. A partir do meu terceiro ano de corridas foi preciso encontrar parceiros e patrocinadores para tornar isto possível e fazê-lo da melhor forma. A paixão por conduzir é algo que existe desde sempre e passado tantos anos noto que é aquilo que gosto verdadeiramente de fazer. Não gosto apenas de corridas. Gosto de conduzir e por vezes gosto de o fazer nos carros mais disparatados que se possa imaginar e talvez por isso me diverti tanto a andar quer de Transit, de Punto, ou de Porsche.”

Pedro Salvador: “Desconfio que a paixão pelas corridas tenha nascido em Vila Real”

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