Prolama faz 30 anos em 2024: Tudo nasceu de um sonho


Já lá vão uns bons anos que tivemos esta conversa, e já nessa altura o futuro da Prolama era cada vez mais ali, ao virar da próxima ideia. E tudo nasceu de um sonho. Estamos perto de entrar em 2024, ano em que a Prolama comemora 30 anos. Foi por esta altura, precisamente há 30 anos, que, tal como nos contou Carlos Silva. Navegador de Rui Sousa desde a primeira hora, é nele que ainda hoje é depositada a confiança quando se trata de “honrar a prata da casa”. Ou seja, quando o assunto é a Prolama – o seu passado, o seu presente, o seu futuro. Qualquer deles, com o seu próprio brilho. «Juridicamente, a Prolama existe há seis anos. Mas, na realidade, tudo começou muito antes. Como um sonho». As palavras fluíam da boca de Carlos Silva facilmente, como se já estivesse habituado a isso. E sem dúvida que está: «O projeto começou, em 1994, comigo e com o Rui, que nessa altura fazia o Troféu UMM. Eu vinha da Mitsubishi, onde corria com o António Bayona.

No final de 1993, a equipa terminou e o Rui convidou-me para participar no seu projeto.

A ideia principal era, então, fazer correr o Rui».

Nesse ano já longínquo, as instalações da equipa «eram na empresa do Rui, no Carregado ». As coisas funcionaram assim, até 1999. Neste ano, começou a “emancipação da equipa, como Prolama”. Tudo continuou a funcionar no Carregado, num espaço paralelo à metalomecânica de que Rui Sousa é proprietário – e onde são maquinadas muitas das peças que utiliza na preparação dos carros da sua equipa e para outros pilotos da disciplina. «Só viemos para este espaço, em Vila Nova da Rainha, em fevereiro do ano passado, 2006», recorda.

O espaço nos arredores da vila ribatejana constava de um edifício tipo armazém, onde coabitam as quatro viaturas que este ano a Prolama preparava, com um outro carro, tapado com um oleado: «É uma das primeiras Pick Up da Nissan. Ficámos com ela, aproveitamo-la para ajudar aqui e ali na preparação destes carros. Mas contamos pô-la a correr, de vez em quando, no Agrupamento T8, para carros já sem homologação», contava Carlos Silva, na altura assinalando ainda que «o espaço é pequeno para tanta azáfama e tantos carros. Mas temos um grande logradouro, onde iremos construir um novo hangar mal o nosso tempo livre o permita.

Porque isto é tudo muito bonito, temos as ideias na cabeça mas, quando começam as corridas, deixa de existir tempo para outras coisas. E tudo fica parado», disse-nos, há década e meia.

Tanto que mudou de lá para cá.

Especialmente o crescimento de Ricardo Sousa, que se fez homem e tornou piloto, hoje em dia um dos mais destacados do nosso plantel dos ralis nacionais. E ainda é um jovem…

Voltando atrás, o espaço coberto incluia ainda um local que irá ser adaptado para mecânica pura: «Os carros continuam no hangar principal, mas quando se trata de mexer na mecânica, os órgãos respectivos, como motor, eletrónica, suspensões, vêm para aqui». Ao lado está um armazém de sobressalentes, que será separado por secções – pneus, eletricidade, peças – e um escritório, onde está situada toda a componente burocrática e de informática da equipa.

Os últimos anos

Carlos Silva é incansável, quando se trata de falar do historial da Prolama. E em especial nos últimos anos, até 2007, quando o nome da equipa começou a constar dos anais da modalidade em Portugal: «Em 1999, com os conhecimentos que tinha e a ligação ao Lois, hoje o nosso principal mecânico (ndr, 2007), o Rui construiu um Terrano II com um motor V6 a gasolina. Foi com ele que vencemos a nossa primeira prova à geral, na Guarda (em 1999) e fomos terceiros no campeonato desse ano».

Factos que levaram o Entreposto a convidar a dupla para ingressar na equipa oficial: «Foi então que surgiu a Prolama. Tínhamos um leque seguro de patrocinadores e pensámos: o que vamos fazer com eles, um dia em que

o projeto com a Nissan termine? Nasceu assim a filosofia da Prolama. No ano seguinte, fizemos um Terrano II com motor Diesel, colocando ao seu volante pilotos conhecidos, como o Tiago Monteiro ou o Pedro Matos Chaves». Estavam definitivamente lançadas as bases futuras da Prolama: «A sua essência, então, era fazer correr pilotos convidados. E, um dia, aquilo que tínhamos previsto aconteceu: terminou a equipa da Nissan. Só que então, tínhamos já totalmente montada a estrutura da Prolama. Assim, adquirimos o material ao Entreposto e achámos por bem manter a assistência da Gransport, do Luís Dias, durante mais um ano. Só a partir de 2006 passámos a fazer a nossa própria assistência».

Por conta própria

O ano de 2006 marcou, assim, uma nova vida da Prolama. Entregues a si próprios, Rui Sousa e Carlos Silva ficaram sem mãos a medir. Além disso, abalançaram-se num projecto cada vez mais ambicioso: «Hoje, cada vez temos menos tempo para nós, ou para outra coisa além da Prolama. Tanto eu como o Rui sabemos que pelo menos um de nós deveria estar aqui a tempo inteiro – e cada vez mais acredito que isso irá suceder, mais tarde ou mais cedo. Por enquanto, não é possível».

Por isso, decidiram-se pela colocação de Manuel Moreira, o terceiro sócio da Prolama, ao leme das instalações de Vila Nova da Rainha: «É ele quem assegura a parte diária da oficina». Em finais de 2005, quando terminou a ligação à Nissan, «fizemos uma abordagem à Isuzu. Tínhamos os meios, as pessoas e, logo a seguir, este espaço. Por isso, no início de 2006 avançámos para um projecto completamente independente».

A Isuzu chegou a Portugal em setembro de 2005, e em 2006 disse-nos que iam fazer um carro, mas quiseram no T2, um carro de competição, mas igual ao que se compra no stand. O Rui aceitou o desafio e nós fizemos um campeonato fantástico com um carro que ninguém sabia sequer que existia. Ganhámos corridas, fizemos um excelente campeonato com essa Isuzu T2. Este projeto é reforçado em 2008 com a chegada de outro modelo de Isuzu, a marca propôs-nos fazer a Taça do Mundo FIA de T2, que correu muito bem, exceto a Baja Itália, pois a partir daí vencemos as corridas todas, e fomos campeões. Para o projeto Isuzu a começar, em 2006-2008 com um carro português, com uma estrutura portuguesa, pilotos portugueses, ganhar o Campeonato do Mundo de T2, foi mesmo muito bom”

O tempo passa, o projeto Isuzu foi ganhando consistência, e pelo meio começaram a aparecer clientes para a Prolama: “Começámos com um projeto de aluguer de carros, devemos ser das mais antigas equipas em Portugal a alugar carros de todo o terreno, e em 2011-2012 passamos a ter pilotos que acreditavam no nosso trabalho e começaram a colocar os seus carros na estrutura para desenvolver projetos, a partir daí começo a abrir-se mais o leque pois a ideia da Prolama nasceu para apoiar o projeto do Rui Sousa e do Carlos Silva, a determinada altura achamos que era importante aproveitar todo o know how que existia para trabalharmos para fora, foi isso que fizemos e a partir daí começámos a receber projetos interessantes, lembro-me por exemplo do Edgar Condenso, e a Consilcar que estiveram ligados connosco durante muitos anos, Alexandre Franco, Frederico Roque, mais recentemente o Georgino Pedroso, o Francisco Barreto, é uma grande aposta nossa, Fernando Barreiros, foi o nosso primeiro piloto na Prolama, foi o primeiro a usar o logotipo, recentemente, passados muitos anos regressou à competição, o Filipe Campos foi campeão com a Prolama, com uma das Nissan ex-oficial”.

Em 2012 nasceu algo diferente, o Isuzu Proto, de uma vontade de fazer algo diferente: “Foi um projeto mais da Prolama do que da própria Isuzu, eles sempre deram um valor muito importante à viatura de série, e nós percebemos, pois em termos de Marketing é muito mais interessante, eles poderem dizer que um carro igual aqueles que compra, é campeão nacional do que um protótipo, então na altura, tivemos algum tempo de maturação do projeto, e fomos envolvendo o João Seabra, que apoiou o projeto, que tinha na altura um motor Nissan, mas tínhamos de meter um motor Isuzu, então o projeto desse ano foi tirar o motor gasolina e meter o motor diesel da Isuzu, demorou algum tempo até estar em níveis competitivos aceitáveis, mas quando encontramos a fórmula certa para o motor, e acabámos por dar a primeira vitória à geral à marca, isso para nós enche-nos de orgulho, ganhámos em Proença-a-Nova, foi uma corrida memorável, onde andámos verdadeiramente depressa em luta com o Miguel Barbosa, discutimos a corrida até ao fim e conseguimos vencer. Foi também um marco muito importante”.

Depois, já em 2016, a Isuzu começou a lançar-nos o desafio que iria chegar uma D-Max nova, e que estaria homologada pela marca em T2. Começámos a desenvolver de novo, de raiz, na Prolama, e em 2017 nasceu a nova Isuzu D-Max, outra vez na categoria T2, e os responsáveis da marca apelaram ao Rui Sousa e foi o Rui que guiou o carro. E guiou-o muito bem, fizemos um ano fantástico, a ganhar as corridas todas da categoria e além disso a fazer o terceiro lugar do campeonato absoluto,foi um grande ano, e aí uma grande aposta de marketing a própria marca, tirou muito partido, um carro de série ser terceiro no campeonato absoluto, foi um ano muito bom, teve continuidade em 2018, voltámos a ser Campeões em 2018 e depois em 2019 construímos o carro para o Georgino Pedroso, que volta a ser Campeão, só interrompido em 2020, voltando a repetir o título em 2021, a nossa D-Max de 2017 a 2921, ficou com o título ‘engasgado’ por uma questão regulamentar, da alteração dos quilómetros da Baja de Portalegre, foi a única ‘mancha’ que temos no historial do carro, que tem dominado a categoria T2”.

Tendo em conta a amizade que liga Carlos Silva a Rui Sousa, foi com naturalidade que tenha sido Carlos Silva a acompanhar Ricardo Sousa na sua evolução inicial como piloto de ralis: “É uma história curiosa. Em 2015 eu ia vendo o Ricardo pegar num carro na oficina, ia dar umas voltinhas nas estradas de terra à volta da Prolama, tinha 19, 20 anos e a determinada altura, sou convidado para um jantar onde está o Rui, o Ricardo, o Dr. Calisto e eu, e foi ali que nasceu o projeto de ralis do Ricardo, em que fui convidado para fazer o primeiro ano com ele, depois acabaram por ser dois. Foram dois anos muito interessantes com um carro quase de série, o DS3 do troféu da Inside Motor era um carro quase de série, e deu-me muito gozo fazer aqueles dois primeiros anos com o Ricardo que hoje em dia é já um piloto seguro no nacional, com um andamento que eu considero muito bom, será um piloto de futuro, é uma nova vertente na Prolama que são os ralis”. É giro vê-los nascer e depois lutar por títulos… “Logo na altura se viu que ele era especial, para a idade que eu comecei com ele, não era normal ver a maturidade que ele tinha, a calma que ele transmite é de grande piloto, começou do zero, tem vindo a fazer esse percurso, é um piloto de valor no nacional e é um piloto de futuro”.

Agora é dar tempo ao tempo, o TT nacional está bem há muito, boas equipas, boas estruturas, os estrangeiros vêm cá a Portugal ver como fazemos e a Prolama tem boas razões para festejar três décadas. E que venham mais 30…

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