Carlos Silva: 40 anos de carreira

Por a 3 Dezembro 2022 10:06

Na época em que comemora 40 anos de carreira, Carlos Silva junta mais um título ao seu vasto palmarés: Campeão Nacional de Veteranos, ao cabo de quatro décadas de muitas ‘corridas’, muitos amigos, títulos, e um fantástico companheiro de viagem, Rui Sousa.

É sempre um prazer sentar-me à frente de um protagonista do nosso desporto motorizado, e quando temos que revisitar 40 anos de carreira, já sabemos à partida que o tempo é pouco para tanto mais que haveria para dizer. Não são muitos os pilotos e navegadores desta nossa comunidade, que “andam há 40 anos nisto”, mas Carlos Silva é um deles.

Há quase trinta como fiel navegador de Rui Sousa, e de vários outros, recentemente até de Ricardo Sousa, filho de Rui Sousa, Carlos Silva assegura que não coloca barreiras a si próprio quanto ao tempo que vai querer por cá ficar a competir: “se sentir que já não tenho prazer em andar num carro de corrida, obviamente tenho que pensar algo na minha vida. Mas eu tenho uma máxima, minha , uma forma de justificar ainda andar aqui, eu digo sempre no dia em que eu desistir de uma corrida e não ficar aborrecido, aí está na altura de me ir embora. Mas quero ficar mais algum tempo. Enquanto tiver projetos e me sentir competitivo, vou cá ficar mais algum tempo.”

Durante o seu percurso, construiu um palmarés muito recheado, e só para referirmos os maiores destaques, depois de iniciar a sua carreira no karting em 1982, foi Vice- Campeão Nacional Karting em 1985, venceu a Taça FIA Bajas T2 de 2008, foi Vice-Campeão do Mundo de Bajas em 2005 e Campeão Nacional de Todo-o-Terreno em 2004

em termos desportivos, tudo começou em 1982, mas a paixão já vinha de trás: “o bichinho do desporto automóvel ‘bateu’ e eu comecei a tentar perceber qual era a melhor forma de entrar no desporto automóvel, de estar por dentro da modalidade e em 1980 fiz parte de uma equipa de ralis, de um amigo, já desaparecido, o Zé Luís Santos, e o ‘meu papel era ajudar limpar faróis, trazer rodas. Depois percebi que o caminho tinha que ser o karting, andei de AutoSport na mão à procura de um kart para comprar, e foi assim que me iniciei, no karting em 1982, na Categoria Verde, de iniciação. A minha primeira corrida foi no kartódromo do Estoril e essa foi a minha primeira experiência de competição a sério, até 1986 com alguns resultados interessantes, algumas vitórias no último ano muito interessantes em luta com grande amigo, e um grande piloto que se chama Manuel Gião, ele ganhou e eu fiquei em segundo, portanto foi um bom início” começou por recordar Carlos Silva.

Mas o karting, só foi possível devido a um acontecimento marcante, daqueles momentos chave, que serviu de ignição a tudo isto: “esta paixão pelos automóveis tem uma génese. Eu não tinha na família ninguém com ligação ao fenómeno, mas passava um evento à minha porta em Mafra, que se chamava Rali TAP, e aquele ruído, os carros com autocolantes, era algo que me fascinava, eu era garoto. Para além disso, Mafra tem o Quartel, onde os aspirantes a oficiais faziam o seu tirocínio, e eram todos meninos com famílias de algum poder, muitos deles tinham dois carros que me fascinavam, o BMW 2002, e o Alfa Romeo. À 6ª feira à tarde quando abria a porta do quartel para eles irem de fim de semana, passavam à minha porta em altas corridas, parecia Street Racing, faziam corridas uns com os outros. O barulho daqueles motores eram para uma criança, algo de transcendente. É esta a génese, as lembranças que eu tenho do início.

Depois as coisas foram evoluindo, mas não era como no futebol, para quem tinha talento, nos automóveis, as coisas foram difíceis, eu lembro-me de escrever 50 cartas com máquina de escrever, para patrocinadores, numa velha Olivetti, tenho ainda algumas guardadas e arquivadas. Apresentava-me como um jovem que queria fazer corridas de automóveis, não tinha dinheiro para o fazer e tinha um orçamento de X e gostaria que me ajudassem. Tenho histórias incríveis, emoções, uma delas é o meu primeiro patrocinador, um piloto que todos conhecem, o António Rodrigues.

Das 50 cartas que fiz no meu primeiro ano, recebi para aí 10 respostas, nove, agradeciam, achavam graça ao projeto, diziam para contactar no ano seguinte, e numa carta, do António Rodrigues, vinha um cheque de 35 contos. Isto é algo que não se explica. Em 1982, 35 contos deram para fazer a época toda. O António Rodrigues não me conhecia de lado nenhum, é uma coisa que para um miúdo o marca não há como não recordar esta história. Eu quando abri a carta, a emoção que passou dentro de mim, eu achei que aquilo não era verdade, mas era. Acima de tudo é preciso acreditar. Os autocolantes foram postos no kart, o meu fato tinha a marca do António Rodrigues, mandava-lhe informação após cada corrida, no ano seguinte voltou a ser meu patrocinador, depois apareceu a Duriforte, outro grande amigo, Carlos Bica, um patrocínio que ficou vários anos, “e até o contato de um preparador chamado Nuno Couceiro, que passou a preparar, numa cave da Avenida de Roma, os meus motores.”

Depois, veio o ‘Onde Está o Ás’, “Fiquei duas noites à porta do concessionário de Torres [Vedras] para conseguir inscrever-me!” e pouco depois, começa a paixão do TT com a UMM: “por 40 contos, comprei um UMM de série, transformei-o e fui ao Guadiana 500, ao volante, tendo o José Ferreira como navegador. Ganhámos a classe.”

“O TT chegou a Portugal em 1987. A primeira Baja de Portalegre acontece em 87 pelo saudoso José Megre. Nessa altura, os que estávamos ligados ao fenómeno automóvel não percebemos o que estava a acontecer. Lembra-me de ler que era uma corrida de jipes pela planície alentejana, mas ninguém sabia muito bem, portanto acabei por não fazer o primeiro Portalegre. No segundo ano há uma prova que o Zé Megre organizou e deu origem à Baja 1000, que se chamou Guadiana Sagres 500, saiu de Lisboa dos Jerónimos e terminava em Évora, e até esse momento foi a primeira que eu fiz ainda ao volante, na altura ainda continuava a defender a minha posição de piloto, e fiz com um UMM que compramos num leilão da EDP mais antigos que foi fomos comprar na empresa onde eu trabalhava na altura e acabamos. Por 40 contos, foi o primeiro investimento que eu fiz para o TT. Eram corridas com características completamente diferentes, 500 Km em linha sem assistência, só parava quem precisava, que não tinha nada para fazer, seguia as corridas nessa altura de todo-terreno eram non Stop”, disse Carlos Silva que continuou a correr de UMM ‘até 1992’, ano em que se ligou ao amigo, António Bayona: “em 1993 eu recebi um convite de um amigo e meu vizinho de Mafra, o António Bayona, tinha feito karting comigo e já tinha já vinha com um bom palmarés dos troféus, Citroen, etc, pediu-me para vir como navegador, porque não tinha. Respondi que nunca tinha sido navegador, não sabia o que era isso, ele disse que explicava e foi assim, fiz a viagem até ao Luso e quando cheguei ao hotel tinha no meu quarto uma camisa da Mitsubishi Castrol, fui jantar com a equipa, de ilustres colegas, os ‘manos’ Breyner, Maria do Céu Pires de Lima, uma série de pilotos que para mim eram ídolos. E lá fui eu para a corrida, Raid RTP, em Mortágua, fomos segundos e campeões nesse ano. A primeira nota que eu ditei como navegador, à saída do palanque em Mortágua junto à Câmara, mandei o António, todos os outros tinham ido para a esquerda, mas nós fomos para a direita. Tinha tudo para bater certo esta estreia como navegador….”

Depois surgiu um Senhor chamado Rui Sousa: “conheci o Rui num curso navegação promovido pelo Pedro Barreiros, o Campeonato de TT nessa altura tinha provas de velocidade e algumas vertentes de navegação, e a Mitsubishi mandou os navegadores fazer esse curso de aperfeiçoamento e nesse curso conheci o Rui. Trocamos telefones, e em 1994 recebo uma chamada dele a desafiar-me para o projeto dele, ia fazer o Desafio UMM. Começámos no Transalgarve de 94 a nossa colaboração, que vem até hoje…”, disse Carlos Silva, recordando o primeiro triunfo: “nestes processos não há só coisas boas, essas ficam gravadas, mais vincadamente, mas nem tudo correu bem tivemos algumas falhas de percurso, embora logo no primeiro ano com o Rui tenhamos ganho o Troféu UMM, um marco importante, foi a afirmação do Rui como piloto e eram troféus muito disputados e até ao fim andámos na luta com o Luís Costa, um piloto do Porto, bravíssimo, que andava muito depressa, e nos obrigava a andar muito depressa. Os UMM eram carros que terminaram no Top 10 das provas. Recordo-me numa numa Vodafone 1000, saímos às 7:00 do Estoril chegávamos às 3:00 da manhã ao fim da prova. Lembro-me de cair dentro de um buraco fundo, eu e o Rui achávamos que nunca mais íamos sair dali, mas o Rui com aquela determinação que lhe é característica começou a andar com carro para trás e para a frente, e não me perguntes como, mas até hoje eu não sei como saímos dali, mas saímos.

Depois vem a vitória na Guarda. Depois do Troféu UMM e da afirmação do Rui como piloto, ainda não existia a equipa que temos hoje, não era a Prolama, era o projeto do Rui Sousa. Mas a equipa evoluiu, com as Nissan V6, do Andre Dessoude, T1 na altura, agora T2, éramos competitivos e andávamos na frente das corridas, às vezes, e tudo corria bem, fizemos bons campeonatos até que a certa altura o Rui decidiu que íamos construir um carro de raíz. Com ajuda e com apoio do Entreposto, cederam-nos um Nissan Terrano II que o Rui transformou na empresa, um UMM com motor V6 já com uma caixa Sadev em H, amortecedores Proflex, um carro bem feito para o standard da altura, fizemos sempre boas corridas nesse ano, até que na Guarda, em luta com os pilotos da Mitsubishi, Nissan, Toyota, conseguimos vencer a nossa primeira corrida à geral e isso foi um marco incrível, para nós uma alegria enorme, motivo de comemorações, e depois coroado com uma coisa que foi o convite da Nissan no fim do ano para que nós integrassemos a equipa oficial, foi quando apareceram as primeiras Nissan Navara a correr em Portugal”, o que foi uma espécie de novo recomeço: “na altura há ali uma espécie de dois braços na nossa atividade, eu e o Rui na equipa oficial Nissan, muitas vitórias, na luta com a poderosa Mitsubishi, com o Carlos Sousa, João Vassalo, a Toyota com o Filipe Campos, já o João Ramos, José Rodrigues, Carlos Rola, grandes pilotos e com equipas muito sólidas financeiramente.

E cria-se uma coisa nova que se chama Prolama. O primeiro nome era PóLama, mas não foi aceite, porque qualquer motivos e por isso acabámos por transformar em Prolama, profissional da lama.

São os dois braços, que em 2004 se voltam a reunir, quando termina o projeto oficial Nissan. Acabámos por conseguir, com a ajuda dos patrocinadores, de adquirir a estrutura que tinha ficado da equipa oficial da Nissan, e em 2004, um ano memorável, em que conseguimos o nosso primeiro título nacional, o que foi bom, pela aposta, pelo risco que corremos, é um ano que ficará para sempre marcado. Há outros, mas 2004 é um ano que fica muito marcado. Isso deu-nos alento para prosseguir, logo com um projeto internacional, na Taça Internacional de Bajas, em que fomos vice-campeões com vitória na Baja Itália”.

Depois do título nacional, que é uma chegada ao topo, o Desafio tinha que ser diferente. E foi, já que em 2006 surgiu a Isuzu: “A longevidade que se consegue advém também da experiência que se vai adquirindo e nós percebemos com o projeto Nissan, que era muito importante para a Prolama encontrar uma marca, e surgiu a Isuzu, que chegou a Portugal em setembro de 2005, e em 2006 disse-nos que iam fazer um carro, mas quiseram no T2, um carro de competição, mas igual ao que se compra no stand. O Rui aceitou o desafio. Ele tem uma característica muito peculiar que é conseguir andar rápido com o que quer que seja que lhe ponham na mão, e nós fizemos um campeonato fantástico com um carro que ninguém sabia sequer que existia. Ganhámos corridas, fizemos um excelente campeonato com essa Isuzu T2. Este projeto é reforçado em 2008 com a chegada de outro modelo de Isuzu, a marca propôs-nos fazer a Taça do Mundo FIA de T2, que correu muito bem, exceto a Baja Itália, pois a partir daí vencemos as corridas todas, e fomos campeões. Para o projeto Isuzu a começar, em 2006-2008 com um carro português, com uma estrutura portuguesa, pilotos portugueses, ganhar o Campeonato do Mundo de T2, foi mesmo muito bom”

O tempo passa, o projeto Isuzu foi ganhando consistência, e pelo meio começaram a aparecer clientes para a Prolama: “Começámos com um projeto de aluguer de carros, devemos ser das mais antigas equipas em Portugal a alugar carros de todo o terreno, e em 2011-2012 passamos a ter pilotos que acreditavam no nosso trabalho e começaram a colocar os seus carros na estrutura para desenvolver projetos, a partir daí começo a abrir-se mais o leque pois a ideia da Prolama nasceu para apoiar o projeto do Rui Sousa e do Carlos Silva, a determinada altura achamos que era importante aproveitar todo o know how que existia para trabalharmos para fora, foi isso que fizemos e a partir daí começámos a receber projetos interessantes, lembro-me por exemplo do Edgar Condenso, e a Consilcar que estiveram ligados connosco durante muitos anos, Alexandre Franco, Frederico Roque, mais recentemente o Georgino Pedroso, o Francisco Barreto, é uma grande aposta nossa, Fernando Barreiros, foi o nosso primeiro piloto na Prolama, foi o primeiro a usar o logotipo, recentemente, passados muitos anos regressou à competição, o Filipe Campos foi campeão com a Prolama, com uma das Nissan ex-oficial”.

Em 2012 nasceu algo diferente, o Isuzu Proto, de uma vontade de fazer algo diferente: “Foi um projeto mais da Prolama do que da própria Isuzu, eles sempre deram um valor muito importante à viatura de série, e nós percebemos, pois em termos de Marketing é muito mais interessante, eles poderem dizer que um carro igual aqueles que compra, é campeão nacional do que um protótipo, então na altura, tivemos algum tempo de maturação do projeto, e fomos envolvendo o João Seabra, que apoiou o projeto, que tinha na altura um motor Nissan, mas tínhamos de meter um motor Isuzu, então o projeto desse ano foi tirar o motor gasolina e meter o motor diesel da Isuzu, demorou algum tempo até estar em níveis competitivos aceitáveis, mas quando encontramos a fórmula certa para o motor, e acabámos por dar a primeira vitória à geral à marca, isso para nós enche-nos de orgulho, ganhámos em Proença-a-Nova, foi uma corrida memorável, onde andámos verdadeiramente depressa em luta com o Miguel Barbosa, discutimos a corrida até ao fim e conseguimos vencer. Foi também um marco muito importante”.

Depois, já em 2016, a Isuzu começou a lançar-nos o desafio que iria chegar uma D-Max nova, e que estaria homologada pela marca em T2. Começámos a desenvolver de novo, de raiz, na Prolama, e em 2017 nasceu a nova Isuzu D-Max, outra vez na categoria T2, e os responsáveis da marca apelaram ao Rui Sousa e foi o Rui que guiou o carro. E guiou-o muito bem, fizemos um ano fantástico, a ganhar as corridas todas da categoria e além disso a fazer o terceiro lugar do campeonato absoluto,foi um grande ano, e aí uma grande aposta de marketing a própria marca, tirou muito partido, um carro de série ser terceiro no campeonato absoluto, foi um ano muito bom, teve continuidade em 2018, voltámos a ser Campeões em 2018 e depois em 2019 construímos o carro para o Georgino Pedroso, que volta a ser Campeão, só interrompido em 2020, voltando a repetir o título em 2021, a nossa D-Max de 2017 a 2921, ficou com o título ‘engasgado’ por uma questão regulamentar, da alteração dos quilómetros da Baja de Portalegre, foi a única ‘mancha’ que temos no historial do carro, que tem dominado a categoria T2”.

Tendo em conta a amizade que liga Carlos Silva a Rui Sousa, foi com naturalidade que tenha sido Carlos Silva a acompanhar Ricardo Sousa na sua evolução inicial como piloto de ralis: “É uma história curiosa. Em 2015 eu ia vendo o Ricardo pegar num carro na oficina, ia dar umas voltinhas nas estradas de terra à volta da Prolama, tinha 19, 20 anos e a determinada altura, sou convidado para um jantar onde está o Rui, o Ricardo, o Dr. Calisto e eu, e foi ali que nasceu o projeto de ralis do Ricardo, em que fui convidado para fazer o primeiro ano com ele, depois acabaram por ser dois. Foram dois anos muito interessantes com um carro quase de série, o DS3 do troféu da Inside Motor era um carro quase de série, e deu-me muito gozo fazer aqueles dois primeiros anos com o Ricardo que hoje em dia é já um piloto seguro no nacional, com um andamento que eu considero muito bom, será um piloto de futuro, é uma nova vertente na Prolama que são os ralis”.

É giro vê-los nascer e depois lutar por títulos…

“Logo na altura se viu que ele era especial, para a idade que eu comecei com ele, não era normal ver a maturidade que ele tinha, a calma que ele transmite é de grande piloto, começou do zero, tem vindo a fazer esse percurso, é um piloto de valor no nacional e é um piloto de futuro”.

No ano em que completa os 40 anos de carreira, e que assegura o título de Veteranos, Carlos Silva ainda decidiu lançar-se num novo desafio, as Novas Energias: “

Quando o desafiamos relativamente a onde acha que estará o desporto automóvel daqui a 10 anos: “provavelmente iremos lá chegar na abordagem desta última faceta que eu tenho, as Novas Energias, os carros sustentáveis e carros elétricos, eu não sei qual vai ser o futuro, mas tenho o feeling que vamos ter competição à mesma com carros com motor de combustão, talvez numa vertente mais de ‘clássicos’, mas como a competição estará daqui a 10 anos não consigo projetar. Creio que se estará a fazer corridas noutros regiões e com formas de mobilidade completamente diferentes. Não sei se será 100% elétrico, já há abordagens diferenciadas, veja-se o caso da Audi no Dakar, que é completamente diferente da Fórmula E. Uma coisa é certa, as Novas energias estão aí e não se pode fechar os olhos a isso. Honestamente, creio que o desporto motorizado, da forma como está agora, não pode ir muito longe. O Todo o Terreno em particular, e Portugal, vamos começar a ter muitos problemas com os caminhos, a utilização das zonas que temos que pisar, a maioria delas privadas, que depois ficam abandonadas, com as dificuldades que nós lá deixamos, com o trato que, quer queiramos quer não, os nossos carros deixam nesses trilhos, e isso vai ter um custo.”

Numa fase como estas da carreira, a questão inevitável: quanto tempo vais querer continuar a competir? “Essa é uma boa questão, eu não coloco barreiras a mim próprio em relação a isso, mas se sentir que já não tenho prazer em andar num carro de corrida, obviamente tenho que pensar algo na minha vida. Mas eu tenho uma máxima minha, uma forma de justificar ainda andar aqui, eu digo sempre no dia em que eu desistir de uma corrida e não ficar aborrecido, aí está na altura de me ir embora. Mas quero ficar mais algum tempo. Enquanto tiver projetos e me sentir competitivo, vou cá ficar mais algum tempo.

Num percurso tão ligado a Rui Sousa, é natural que a empatia seja muito grande: “O Rui, além de ser o meu piloto, é um grande amigo, e as coisas só funcionaram connosco nestes anos todos porque a amizade supera os bons e os maus momentos, não correu sempre tudo bem em termos desportivos, houve anos difíceis, resultados que não foram o que esperávamos, houve desilusões, mas o saldo é muito positivo, temos tido um trajeto recheado de êxitos e essas sobrepõem-se a tudo o resto.

Como piloto para mim, continuo a achar que é o melhor piloto português de Todo-o-Terreno, não tenho dúvida, tem características que não encontro na maioria dos outros pilotos, há pilotos que têm outras características, diferenciadas, bons, pilotos rápidos, não conheço as mesmas características num só, entre os que já andei, dos que conheço por já ter andado. A capacidade de estar a pleno antes da partida e antes da chegada. E tem outra, que é a capacidade de luta, ele acredita sempre, é um piloto com uma crença muito grande e acredita sempre, que aquela curva se vai fazer assim e quando assim é…

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