APTT: “automobilismo devia lutar para ser o segundo desporto a nível nacional”

Por a 19 Dezembro 2022 12:35

Cerca de dois anos depois, o trabalho da APTT (Associação de Pilotos de Todo o Terreno) vai de vento em popa e já foram tomadas medidas muito importantes para o ‘bem estar’ da modalidade. A figura do ‘Advisor’ é um elo fundamental na ligação dos pilotos às organizações e não foi só esse importante trabalho que foi feito.

Nuno Madeira é um dos rostos da APPT e o piloto da Ford Raptor falou sobre alguns dos temas que atestam o trabalho que se tem vindo a fazer. Começaram a trabalhar diretamente com a FPAK, a associação ponderava o que fazer, apresentava e discutia sugestões com a FPAK e desta forma deixou de se criticar o que estava mal à posteriori, para as tentar resolver com antecipação.

O trabalho tem incidido na segurança, regulamentos e promoção. Como resultado, deve ser criada uma nova categoria T9, para ‘dividir’ o T8, Paulo Fiúza é a figura que torna a vida das duplas que andam na estrada no TT bem mais fácil e segura, há agora mais coerência no que surge nos road book das diferentes organizações, e por fim um ponto de fulcral importância para o TT: a promoção da modalidade.

“Temos tido uma grande recetividade da FPAK e tratado de muitos assuntos juntos, desde o calendário, novas classes como será a nova classe T9, em princípio teremos aprovação para carros iguais aos T8 mas sem chassis tubular e caixa sequencial. E há muitos outros assuntos, a entrada dos T1+ e outros que estivemos a trabalhar com a FPAK para os implementar para 2023.

Tem sido um grande trabalho, mas estamos satisfeitos, a recetividade da FPAK não podia ser melhor. Nós sentimos o maior apoio por parte da FPAK” começou por nos dizer Nuno Madeira, que fez o balanço do que tem sido o trabalho da APTT: “Tem sido uma loucura, o trabalho maior, mais visível tem sido com a pessoa que nos acompanha nos reconhecimentos dos percursos, começámos com três pessoas, Vitor Jesus, José Janela e depois o Hélder Oliveira, e depois entrou o Paulo Fiúza a meio do ano e acho que passámos para outro nível, o Paulo faz muito mais do que apenas reconhecer o percurso. Além de ter um critério de reconhecimento e dou como exemplo a Baja TT Norte de Portugal o prazer que tive a conduzir porque ele teve o cuidado que os desenhos das curvas estivessem iguais. Ele passou a ser diretor de Prova Adjunto a figura que nós pretendemos é ‘Advisor’ ou seja tudo, o que se passa na corrida passe por ele mesmo que o CCD seja independente para tomar as decisões, que ouça o Paulo Fiúza como uma pessoa experiente e eu acho que isso foi um passo brutal. Somos a primeira modalidade em Portugal a ter essa figura, mas eu acho que foi um passo enorme, eu sinto-me tranquilo por saber que o Paulo Fiúza lá está a gerir ultrapassagens, controlos, acho que tem sido um trabalho absolutamente fantástico” começou por dizer falando num ponto fulcral, os road book: “começamos a ganhar grande confiança. Para terem uma ideia o critério de perigo 3 não era claro para toda a gente. O perigo 3 poderia ser um perigo pequeno mas que o acidente tivesse uma consequência grave, e esse critério não estava escrito em lado nenhum, havia uma ribeira em Reguengos, que ninguém sabia porque numa direita parecia simples e era um perigo 3, porque se caísse era dentro de uma ribeira e não havia como tirar de lá as pessoas. Só que nós não estávamos preparados para isso. Um piloto que tira pé num perigo 3, e que tira em dois ou três que não era para tirar, e no quarto, não tira, e isso torna-se extremamente perigoso.

Agora existe critério, é um perigo em que se tem de ter atenção e sobretudo existe critério, independentemente de ser o A, B ou C. É sempre o mesmo de corrida para corrida.

Com as velocidades a que estamos a andar hoje é muito importante existir essa confiança.

Está-se a construir algo de muito positivo, eu relembro sempre que o nosso campeonato é o melhor do mundo, largo, portanto este trabalho é extremamente importante para que corra tudo pelo melhor” , disse.

Falou-se depois do que pode melhorar nas provas: “Eu acho que os clubes fazem um trabalho fantástico. Agora por dentro, percebo a dificuldade de organizar as provas, acho que na generalidade são muito bem organizadas e quem for correr a Espanha percebe bem a dimensão e as diferenças. O que eu acho que falta na modalidade é Promoção. Iniciámos este ano o processo das redes sociais com a FPAK, mas é muito pouco para o que a modalidade merece, e esse é um dos cavalos de batalha que temos com a FPAK. Agora é preciso investir bem em Marketing e Imagem, porque o futuro da modalidade, depende disso.

Dou um exemplo: sigo muito a F1 e há uma diferença enorme para o passado e o que sucede agora. A modalidade agora cria muita receita, há patrocinadores interessados, e isso é muito um trabalho que foi feito, sobretudo nas redes sociais e é isso que precisamos de fazer, estar unidos, criar plataformas próprias para divulgar a nossa modalidade, e trazer mais pessoas, eu penso que isso é o que há a melhor na modalidade ao dia de hoje.

A FPAK tem que ter um Departamento de Marketing/Social Media, para todos, não só para o TT, mas para todo o automobilismo, mas se no passado, se havia um bom conteúdo para divulgar dependia das televisões e isso hoje em dia não acontece. É preciso pôr na cabeça que temos de puxar pelo nosso automobilismo, eu acho que o automobilismo devia lutar, devia ser uma bandeira, para ser o segundo desporto a nível nacional, temos tudo para isso, temos é que pôr mãos à obra, também há capacidade financeira para isso, é preciso investir bem, medir o retorno para levar a modalidade para outros patamares, para que haja patrocinadores interessados em vir para a competição e isto não seja só uma corrida para quem tem capacidade financeira para o fazer…”

O risco é algo inerente ao automobilismo, os pilotos sabem-no, mas para quem alega que se está a andar depressa demais no TT, havendo mesmo quem defenda que a génese do TT é diferente, Nuno Madeira entende que a modalidade evoluiu e explica que a génese do desporto motorizado é a velocidade: “eu nunca acho que se anda demasiado depressa, isto é uma competição, e no dia em que for para lá, não para andar depressa, na minha visão, não estamos lá a fazer nada.

Os acidentes que existiram houve justificação para todos eles, foi uma infeliz coincidência, no meu caso a responsabilidade foi minha e do Filipe (Serra) não foi um acidente forte, mas teve consequências graves, obviamente temos que repensar sempre a segurança, mas sabemos que os clubes fazem um excelente trabalho, e pude comprová-lo com tudo o que fizeram no meu acidente, como nos resgataram, acidentes vai haver sempre, este desporto acarreta riscos e todos temos a noção disso.

De resto, eu respeito todas as opiniões, mas não me revejo muito nas pessoas que dizem que gostam muito do passado as coisas mudaram muito. Antes eu ia esperar que o AutoSport chegasse à tabacaria para saber os resultados e hoje sabem em tempo real.

Acho que não podemos negar as evidências, o desporto a sociedade está a evoluir, se calhar tem que haver outro tipo de corridas que sejam com esse espírito, não a competição pura, e é impossível de travar, pois cada vez os carros são melhores que gosta de corridas quer ter um carro melhor andar cada vez mais depressa. No dia em que não tiver confiança para andar ou que não me sentir confortável, fico em casa. A nossa modalidade é velocidade e é assim que tem de continuar a ser. “

Outro ponto muito importante é a cada vez maior dificuldade em encontrar ‘estradas’ para fazer provas. Há queixas de alguns organizadores que cada vez é mais difícil fazer TT em Portugal por causa do ICNF, Instituto Conservação Natureza e Florestas. Será que continua a haver muito espaço para bom TT? Poderão ter de se adaptar a uma nova realidade? “Eu acho que o TT está condenado por si só, vamos ver quanto tempo mais conseguimos ter TT, portanto temos que aproveitar o máximo possível.

Mas tenho que ser controverso, a responsabilidade desta situação é da Federação de Motociclismo, que permite que se treine 15 dias antes da data das corridas, e não só antes das corridas como depois, há vários relatos de motos que andam antes e depois das provas, eu sinceramente dos carros não tenho conhecimento, mas de motos há fotografias e vídeos.

Eu não me preocupa que eles treinem, mas há uma coisa que eu nunca vou aceitar, que essas pessoas ponham em causa um desporto que eu e tantos amamos. E portanto um indivíduo desses quando vai para uma pista, abre uma cancela, passa pelo meio do terreno de uma pessoa, devia ter o bom senso de perceber que está a prejudicar toda a modalidade. Já mandámos um alerta à FMP para mudar esse regulamento, e o que me preocupa muito e esse tipo de pessoa que está a por em causa o futuro da modalidade, não só isso com excessos que acontecem em zonas de velocidade controlada, imaginem quem vive numa terriola em que há um limite de velocidade de 50 Km/h e alguém passe a 120 Km/h.

Eu no dia a seguir iria falar com o presidente da Junta de Freguesia a dizer, olhe que eu não quero que isto passe aqui porque eu tenho aqui crianças. Portanto acho que há pessoas irresponsáveis, e isso afeta todos. Acho que a grande responsável por isso é a FMP que deve proibir os reconhecimentos, criar regras e depois ter coragem que, às pessoas que o fazem, sejam expulsas da modalidade. Não chega penalizar. Alguém que faz uma coisa ilegal e que põe em causa a modalidade, deve ser drasticamente castigada, na minha perspetiva. É para mim inaceitável pôr em causa o desporto, e isso, a mim afeta-me bastante.”

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