Vodafone Rally de Portugal 2021: Elfyn Evans estreia-se em terras lusas


Elfyn Evans/Scott Martin venceram o Rali de Portugal, bateram Dani Sordo/Borja Rozada com Sébastien Ogier e Julien Ingrassia a terminar em terceiro. Ott Tanak/Martin Jarveoja dominaram boa parte da prova, mas abandonaram ingloriamente.

Uma vitória com ‘mão’ portuguesa! Elfyn Evans/Scott Martin triunfaram no Rali de Portugal com muita ajuda lusa, já que o Engenheiro de Elfyn Evans, é Rui Francisco Soares. Parabéns ao piloto, navegador, engenheiro e equipa. Neste tipo de desporto, como tantos outros, há quem dê a cara, mas por trás tem que haver competência e os resultados estão à vista.

Está de parabéns também o ACP por ter conseguido colocar de pé aquele que terá sido, provavelmente o seu mais difícil Rali de Portugal de sempre. Com as restrições resultantes da pandemia, montou uma prova elogiada por todos, com muito público (muito menos que o habitual, é certo), e com grande espetáculo na estrada com a decisão a dar praticamente em cima da meta.

Um elogio também para o público, que soube ultrapassar todas as condicionantes, e também para a GNR, que teve este ano um trabalho ainda mais difícil para levar a cabo.

Em termos desportivos a prova foi muito interessante, está provado que a estrutura atual, um dia no Centro dois no Norte é muito boa, e por fim, os pilotos e as equipas proporcionaram um grande espetáculo nos troços. O rali teve três mudanças de líder, três líderes diferentes, seis vencedores de troços e um piloto, Armindo Araújo, que foi o Melhor Português pela 10º vez.

Evans muito fiável

Elfyn Evans/Scott Martin venceram o Rali de Portugal, pois foram quem estava em melhores condições de aproveitar o azar de Ott Tanak e Martin Jarveoja, sabendo depois disso, gerir as emoções e a pressão de Dani Sordo e Borja Rozada, para vencer o Rali de Portugal com todo o merecimento. Se até ali, a dupla estónia da Hyundai parecia estar a preparar-se para repetir a vitória de 2019, um contratempo mecânico, uma peça da suspensão direita traseira que cedeu, levando a dupla ao desespero, e ao abandono.

A prova de Elfyn Evans e Scott Martin foi exemplar, chegaram ao final do primeiro dia de prova apenas a seis segundos de Tanak, escolheram bem os pneus, e escaparam de problemas, terminando o dia bem posicionados.

Durante segundo dia, nova performance consistente foi premiada com a liderança ao fim da tarde, quando Ott Tanak desistiu. Sempre sólidos e consistentes, com um trio de segundos melhores tempos em troços, quando o líder foi forçado a parar, Evans apanhou as rédeas da prova, terminando o dia com 10.7s de avanço, depois de Dani Sordo reagir na super especial da Foz. No domingo, à promessa de Sordo em atacar forte, o galês depressa tirou o triunfo da ideia do espanhol. Basicamente ’cilindrou-o’ em Felgueiras, ganhando-lhe 9.6s aí e depois sempre mais tempo até à PowerStage, definindo antes da ‘bandeirada final’, o vencedor da prova.

Pressão de Adamo não chegou

Andrea Adamo, Chefe de Equipa da Hyundai fez os seus habituais ‘mind games’, e avisou que o seu piloto ia ganhar, mas mais uma vez enganou-se. Dani Sordo/Borja Rozada (Hyundai i20 Coupe WRC) terminaram o rali na segunda posição, depois de não terem conseguido responder à prestação de Evans no dia decisivo.

Entraram na prova com uma excelente posição na estrada, e fizeram o melhor uso dela, passando para a frente do rali logo no segundo troço, levando essa liderança até à saída de Arganil, mas em Mortágua, um erro num gancho, deixaram o motor do Hyundai calar-se e com isso caíram para o terceiro lugar, numa especial em que Ott Tanak passou para a liderança da prova, seguido de Thierry Neuville.

Neuville abandonou em Mortágua, troço em que Sordo se deixou passar por Elfyn Evans. Durante o dia de sábado, o espanhol bem tentou, mas Evans nunca lhe permitiu veleidades, sendo o galês, que era segundo quando Tanak baqueou, a assumir a liderança.

No último dia de prova, Sordo não foi capaz do mesmo ritmo de Evans, que esteve absolutamente imparável. Ainda assim, um belo segundo lugar no regresso e na estreia do novo navegador.

Toyota muito certinha

Já se sabia que Sébastien Ogier/Julien Ingrassia (Toyota Yaris WRC) teriam dificuldades nesta prova, já que arrancar na frente no primeiro dia era meio caminho andado para se atrasarem demasiado, e esse cenário esteve em cima da mesma muito tempo.

Saíram de Arganil em sétimos a 41.0s da frente, mas com uma fantástica prestação em Mortágua, não só venceram o troço como reduziram para 22.7s, o tempo que os separava da frente e isso foi um grande balão de oxigénio para a dupla.

Do quinto lugar na altura, ainda foram buscar Takamoto Katsuta, ganhando depois mais um lugar com o abandono de Ott Tanak. E Ogier não fez as escolhas certas de pneus, como confessou no final do dia. Curiosamente, ser primeiro na estrada, também lhe permitiu poupar pneus, porque com tanta terra para limpar os pneus ‘roçam’ menos na parte dura e isso é um ponto positivo. Ainda não foi desta que bateu o recorde de Markku Alén, mas não pode sair descontente de Portugal, pois um pódio sem que Tanak e Neuville lhe ganhassem pontos é muito positivo.

Takamoto Katsuta/Dan Barritt (Toyota Yaris WRC) foram quartos, e alcançaram em Portugal a sua melhor classificação de sempre no WRC. Até aqui, era o sexto lugar no Rali de Monte Carlo. O quarto lugar ainda não reflete o que é o seu andamento, mas o jovem japonês tem vindo a evoluir consistentemente e convém lembrar que à chegada a Portugal tinha apenas nove ralis com um World Rally Car. Duvidámos nos primeiros tempos que o japonês se pudesse tornar num grande piloto no WRC, mas confessamos que Tommi Makinen teve olho e Katsuta está a trilhar um caminho muito positivo. Teve altos e baixos, é verdade, mas a forma como se bateu face a Ogier mostra evolução.

M-Sport positiva

Provavelmente, Gus Greensmith/Chris Patterson (Ford Fiesta WRC) gostavam que houvesse mais provas no calendário como o Rali de Portugal, pois no nosso país mostrou que não é assim tão mau piloto (no contexto do WRC) como por vezes parece.

Igualou o seu melhor resultado de sempre no WRC, que obteve o ano passado na Turquia, mas em Portugal, apesar de ter beneficiado de abandonos, andou bem, no seu contexto. Terminou o primeiro dia em sétimo, fez por exemplo o terceiro tempo na Lousã 1, fez segundo na Lousã 2. Danificou uma roda em Góis 1 e perdeu 50s. Basicamente passou metade do dia no top 3 das especiais, o que não foi nada mau. No segundo dia, esteve menos bem, mas foi um problema com o acelerador que o fez perder muito tempo e com isso pode dar-se por muito feliz com o quinto lugar em Portugal, que não é uma posição natural, mas que foi merecida, pela persistência.

Depois da bela exibição da Croácia, pode dizer-se que a M-Sport está a descobrir uma nova estrela: Adrien Fourmaux. Há quem já o compare a Loeb e Ogier, mas passe o exagero que só se pode comprovar bem mais lá para a frente, a verdade é que fez uma prova muito interessante em Portugal, cumprindo quase à risca as indicações de Malcolm Wilson.

Não cometeu erros complicados, levou o carro até ao fim, fez um rali positivo. Foi quarto à geral na PE3, teve performances consistentes. Alguém se lembrou de Teemu Suninen? Nós não! Um furo e um pião no primeiro dia, atrasaram-no, no segundo dia, ao abrir a estrada, percebeu as dificuldades, e aí perdeu mais tempo, terminando atrás de Greensmith.

Hyundai azarada

Ott Tanak e Martin Jarveoja (Hyundai i20 WRC) não mereciam o que lhes sucedeu em Amarante 2, mas os ralis são assim mesmo. O que fizeram até aí ter-lhes-ia permitido vencer o Rali de Portugal com toda a naturalidade, mas não foi isso que aconteceu. Tudo o que fizeram foi bem feito. Segundo revelou o piloto, não tocaram em lado nenhum que justificasse a quebra da suspensão. Acontece!

Terminaram o primeiro dia na frente, depois de chegarem à liderança em Mortágua, quando o motor do i20 WRC de Sordo se ‘calou’. Curiosamente chegaram à frente com o piloto a confessar que o carro estava longe de estar ao seu gosto. Desistiram 3.5 km do final dos 37.92 km de Amarante 2, com a suspensão traseira direita danificada. Inglório.

Thierry Neuville e Martijn Wydaeghe (Hyundai i20 WRC) foram outros dos azarados do Rali de Portugal mas neste caso por culpa própria. E tudo começou nos reconhecimentos em que uma nota exageradamente otimista de uma curva em Mortágua redundou num capotanço e muitos danos na suspensão traseira, e como se provou mais tarde, até no chassis, que ficou torto.

Até aí a Hyundai Motorsport parecia dominante, com Tänak e Sordo a vencerem cinco troços em seis, Neuville era terceiro, atrás dos dois colegas de equipa no fim da primeira passagem pela Serra do Açor. A dupla tentou reparar o carro na ligação, mas não conseguiu e na assistência percebeu que era preciso mais tempo pelo que o belga voltou a retirar o carro da prova no segundo dia.

Outra dupla a quem não correu nada bem o Rali de Portugal foi Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota Yaris WRC). Depois do acidente da Croácia o jovem poderia aproveitar bem a sua ordem na estrada, mas a posição em que estiveram mais cima foi em quarto na PE2, Góis. Falharam na afinação do carro, e o jovem nunca teve confiança para andar mais. Precisa de mais experiência de Arganil! Só na tarde de sábado deu um ar da sua graça com um segundo lugar em Cabeceiras de Basto, mas logo a seguir desistiu devido a um problema mecânico. Esperava-se muito mais, mas não lhes correu nada bem esta prova.

Pierre-Louis Loubet trocou de navegador para Portugal. Mas não teve muito tempo para se adaptar a Florian Haut-Labourdette, pois saiu de estrada em Góis e já não voltou. O jovem francês mostra, a espaço bom andamento, mas em sete ralis com um World Rally Car sair tantas vezes de estrada só prova que está a colocar a “carroça à frente dos bois”. Deve andar um pouco menos, certificar-se que termina ralis, acumular experiência e depois aumentar o ritmo aos poucos. Se era verdade que não estava a conseguir ‘comunicar’ com o anterior navegador, para já a ligação com o novo também caiu cedo…

A fechar o top 10 ficaram Esapekka Lappi (Volkswagen Polo GTI R5), Teemu Suninen (Ford Fiesta Rally2) Mads Østberg (Citroën C3 Rally2) e Nikolay Gryazin (Volkswagen Polo GTI R5), mas com nomes tão sonantes, ninguém estranhou. O Mundial de Ralis prossegue dentro de duas semanas na Sardenha.

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