Os primeiros Subaru no WRC


Os adeptos dos ralis sentem nostalgia pelos fantásticos Subaru Impreza que marcaram uma época no WRC, mas antes deles, outros carros da marca desbravaram o caminho. Vamos conhecer-lhes a história.

A história da Subaru no Mundial de Ralis foi fantástica durante década e meia. A primeira vitória surgiu apenas em 1993, mas a partir daí foi sempre a subir até ao topo da modalidade, com os títulos de pilotos de Colin McRae em 1995, Richard Burns em 2001, bem como três títulos de Construtores entre 1995 e 1997. Mas antes, muito antes, já os Subaru competiam no Mundial de Ralis, nos anos 80.

Tudo começou duma forma muito modesta, com uma participação de dois carros em 1980, no Rali Safari no Quénia. E assim foi durante algum tempo, com participações esporádicas com uma operação não oficial, baseada no Japão, utilizando o exigente Rali Safari como campo de exposição pública.

O nome Subaru era pouco conhecido fora da indústria automóvel, naqueles dias, mas a persistência das atividades de competição, desde o início dos anos 80 até ao final de 2008, foi a base para a criação de uma das mais importantes lendas do automobilismo.

Vamos saber como tudo começou.

Construir ‘zeros’

A história conta-nos que a Fuji Heavy Industries, o grupo mãe da marca Subaru, começou como um Laboratório de Investigação Aeronáutica, em 1915, chefiado por Chikuhei Nakajima. Em 1932, a empresa foi reorganizada como Nakajima Aircraft Company, Ltd e logo se tornou num grande fabricante de aeronaves, para o Japão, durante a 2ª Guerra Mundial. A Nakajima Aircraft foi reorganizada no final da segunda grande guerra, passando a denominar-se Fuji Sangyo Co, Ltd. Em 1946, a empresa criou a Fuji Rabbit, uma scooter, a partir de peças sobressalentes de aviões do tempo da guerra. Em 1950, a Fuji Sangyo foi dividida em 12 corporações menores, sendo que entre 1953 e 1955, cinco dessas empresas e outra recém formada, decidiram fundir-se para formar a Fuji Heavy Industries. Este, um nome que já diz muito à maioria dos adeptos dos ralis…

Leone e o Safari

A história da Subaru nos ralis começou em 1980, quando dois pequenos ‘saloon’ foram inscritos no Rali Safari de 1980, inscritos no Grupo 1 e surpreendentemente chamados Subaru 4×4. Na altura, tinham passado menos de seis meses que os carros de tração total tinham sido autorizados a entrar nas provas do Mundial de Ralis (um Range Rover competiu na Costa do Marfim) e a tradição dos ralis na Subaru começou em grande estilo quando Takeshi Hirabayashi terminou em 18º entre 24 concorrentes, vencendo o Grupo 1.

A equipa regressou em 1981 com cinco carros 4×4 chamados Subaru Leone, todos inscritos pela Subaru Motor Sports Club do Quénia, dois modelos Hatchback do Grupo 2, um Hatchback do Grupo 1 e um Estate Saloon do Grupo 1.

Os motores de 1.6 litros debitavam 120 cv no Grupo 2 e 100 cv no Grupo 1. Todos os carros tinham caixas de quatro velocidades, com duas relações alternativas, o que dava, efetivamente, oito velocidades para a frente. Dois carros terminaram, Yoshio Takaoka fê-lo no 12º lugar. Em 1982, nova equipa, desta feita com cinco carros, e especificações de carroçaria variáveis, mas todos com motores de 130 cv. Esta foi novamente uma operação com financiamento privado, o lendário diretor desportivo da Subaru, Noriyuki Koseki, proclamando que a equipa tinha 26 patrocinadores diferentes. Três carros da equipa terminaram no top 11. Takaoka foi quinto atrás de um Opel Ascona 400, dois Audi Quattro e um Datsun.

A lista de inscritos foi ‘inundada’ por Subaru Leone em 1984! Dez inscrições como versões Turbo, que surgiram pela primeira vez.

Shekhar Mehta já tinha levado um carro de 140 cv ao Rally Monte Carlo e para o Safari tinha um novo sistema de escape. O piloto privado britânico, Tony Fowkes foi inscrito por Koseki e foi o melhor classificado, no 12º lugar.

Tal como nos carros de competição da Nissan, era difícil descobrir a especificação dos Subaru em cada rali. Pelo meio, uma história encantadora, em que o britânico Jonathan Ashman alugou um carro a Koseki, que lhe disse ser uma versão Turbo, que o piloto só descobriu que não era quando abriu o capot. Para 1985 houve uma mudança completa. O RX Turbo tinha chegado, homologado um mês antes do Rally Safari.

Estes eram os tempos em que o Grupo B estava no seu ponto mais alto, os supercarros de ralis ocupavam os nove primeiros lugares nas tabelas de classificação geral das provas, mas o carro top do Grupo A era o Subaru RX Turbo de Carlo Vitulli, e dois lugares mais abaixo na geral estava outro Subaru RX Turbo, o de Javaid Alam. Apenas três Subaru chegaram ao fim.

Mas os tempos estavam a mudar no Japão. A equipa foi oficialmente inscrita no Rally Safari de 1986 pela Fuji Heavy Industries com algum pessoal contratado pela equipa ao Subaru Motor Sports Group. Mike Kirkland e Frank Tundo terminaram em sexto e sétimo, como os melhores carros do Grupo A.

Sementes do sucesso

Na Europa, houve também mudanças. Os Grupo B foram banidos no final do ano, afetando diretamente a Subaru, que cancelou os seus planos para um modelo do Grupo B, o XT Turbo que já tinha disputado a maratona Wynns Safari, na Austrália. A gama RX foi a primeira a competir frequentemente no Mundial de Ralis, fora do Rally Safari.

O neozelandês Possum Bourne tinha corrido com um destes carros com motor normalmente aspirado, o RX, durante alguns anos, e com ele obteve o melhor lugar no Grupo A, no Rali da Nova Zelândia de 1983 a 1985, (terminando mais tarde em terceiro no Rali da Nova Zelândia de 1987) levando ainda o seu carro aos EUA, para o Rali Olympus de 1986, mesmo no final da era do Grupo B. Já o chileno José Celsi levou o seu RX Turbo a voar sobre os Andes e terminou em oitavo lugar no Rali da Argentina.

Após o fim repentino do Grupo B, a Subaru mudou os seus carros para 1987, introduzindo os Coupe 4WD Turbo de três portas, que já tinham sido homologados pouco depois do Rally Safari de 1986. Este era um carro mais aerodinâmico do que o RX Turbo, tinha versões de tração à frente ou tração total. Foram pilotados por Per Eklund (5º), Ari Vatanen (10º) e pelo popular piloto africano local, Patrick Njiru (19º). Em 1988, os Coupe foram abandonados e a equipa voltou ao RX Turbo anterior, com Ian Duncan a terminar em sexto e Bourne em nono. A equipa concluiu que o modelo mais antigo tinha melhor distribuição de pesos e não possuía o complicado sistema de portas traseiras duplas que tinha tornado a troca de rodas muito complicada.

O ano de 1989 foi o último para o RX Turbo. Foi um Safari diferente para a Subaru, pois os seus carros foram inscritos pelo importador local ECTA (propriedade de Mehta), Bourne foi sétimo e Jim Heather-Hayes, nono.

No início de 1989 tive a oportunidade de viajar à sede da Subaru, e em Shinjuku, conheci Ryuichiro Kuze pela primeira vez. Ele tornar-se-ia o mentor por trás de todos os sucessos subsequentes da Subaru nos ralis. Depressa ficou claro que a empresa estava entusiasmada com o seu novo projeto Legacy, que começou com a conquista de recordes mundiais de alta velocidade em longa distância nos Estados Unidos da América. Já se sabia no Quénia que a Subaru estava prestes a começar os testes, pouco depois do Safari de 1989, uma indicação clara de que se tratava de um carro secreto não relacionado com os seus modelos atuais e, por insistência minha, fui autorizado a visitar a empresa KIT, de Koseki onde o protótipo do Legacy estava a ser preparado.

Um mundo totalmente novo para a competição na Subaru estava prestes a começar. O resto é história…

Texto e fotos Martin Holmes Rallying

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