Morreu Stuart Turner: um ‘gigante’ do ‘motorsport’ que moldou gerações

O mundo do desporto automóvel despede-se de uma das suas figuras mais influentes. Stuart Turner, um verdadeiro gigante do seu tempo, faleceu na segunda-feira, 8 de setembro de 2025, aos 92 anos. A sua carreira, que se estendeu por várias décadas, foi marcada por um sucesso notável como copiloto campeão, jornalista perspicaz, diretor de equipa visionário e, finalmente, diretor de desporto automóvel em duas das mais proeminentes empresas automóveis do mundo. O seu impacto no rali e no desenvolvimento do desporto é inegável e duradouro.

Dos ralis ao jornalismo: uma ascensão meteórica

Nascido a 14 de janeiro de 1933, Stuart Turner iniciou a sua formação como contabilista. Contudo, a sua vida tomou um rumo inesperado após uma experiência casual num carro de rali. Imediatamente cativado pelo desporto, especialmente pela arte da navegação, Turner rapidamente se tornou um copiloto muito procurado. Os seus primeiros anos foram repletos de conquistas, incluindo a vitória no inaugural Campeonato Britânico de Ralis em 1958 com Ron Gouldbourn, e novamente em 1959 com John Sprinzel.

A sua perícia como navegador levou-o a copilotar com alguns dos maiores nomes do desporto, como Erik Carlsson, com quem venceu o prestigiado RAC Rally em 1960. Competiu também em carros de fábrica para marcas como Austin Healey, Auto Union e Saab, cimentando a sua reputação internacional.

Após a sua carreira como copiloto, Turner transitou para o jornalismo, assumindo o cargo de Editor de Desporto da Motoring News. Esta posição aprofundou o seu conhecimento do desporto e do seu funcionamento interno, preparando-o para a próxima fase da sua carreira.

A era dourada da BMC sob a liderança de Turner

Em 1961, a reputação de Turner como uma figura conhecedora e perspicaz levou-o a uma mudança crucial na carreira: foi nomeado Competitions Manager na British Motor Corporation (BMC). Esta foi uma era dourada para a BMC, e Turner foi fundamental para o seu sucesso. Estrategicamente, otimizou o programa de ralis, concentrando-se no Austin Healey 3000 e no icónico Mini Cooper S.

Para além da gestão de projetos, Turner recrutou talentos de topo, incluindo os “Finlandeses Voadores” como Timo Mäkinen e Rauno Aaltonen, bem como a estrela britânica Paddy Hopkirk. Sob a sua liderança, o Mini Cooper S alcançou a famosa “chapeuzada” de vitórias no Rali de Monte Carlo em meados da década de 1960, um feito que se tornou lendário na história do desporto automóvel.

O legado duradouro na Ford e o título mundial

Após uma breve passagem pela Castrol, Turner juntou-se à Ford em 1969. Foi aqui que ele deixou o seu legado mais duradouro. Como Diretor de Desporto Automóvel, supervisionou um período de sucesso fenomenal para o Ford Escort nos ralis. A sua gestão testemunhou:

Domínio nos Ralis: A Ford venceu inúmeros eventos, incluindo o desafiante East African Safari Rally e o London-to-Mexico Rally.

Glória no Mundial: A Ford assegurou o primeiro Campeonato Mundial de Ralis de Pilotos com Björn Waldegård em 1979, ano em que também conquistou o título de Construtores.

Projetos Pioneiros: Turner foi uma figura-chave no desenvolvimento de carros de desempenho icónicos como o Sierra Cosworth e o RS200, que ainda hoje ressoam na memória dos entusiastas.

Stuart Turner retirou-se da Ford em 1990, mas permaneceu um defensor incansável do desporto automóvel. Foi cofundador do Motorsport Safety Fund, uma instituição de solidariedade dedicada a melhorar a segurança no desporto. Além disso, foi um autor prolífico, escrevendo mais de 20 livros sobre temas que vão desde o desporto automóvel até à oratória. A sua autobiografia, Twice Lucky, é leitura obrigatória para qualquer fã de ralis.

Ao longo da sua vida, Turner foi conhecido pelo seu humor, pela sua capacidade de contar histórias envolventes e pelo seu compromisso com as bases do desporto automóvel. Era um orador muito popular em jantares, partilhando histórias de uma carreira que o viu no centro da transformação do desporto, de um passatempo amador para um espetáculo profissional global. O seu impacto nos ralis e a sua dedicação à segurança e ao futuro do desporto serão uma parte indelével do seu legado. Que descanse em Paz.