Morreu Claudio Lombardi, mítico engenheiro da Lancia


Morreu Claudio Lombardi, engenheiro italiano da Lancia. Nascido em Alessandria em 1942, foi uma figura de referência do desporto automóvel, sobretudo no universo dos ralis e da engenharia de competição.

Formado em Engenharia Mecânica pela Universidade de Bolonha, integrou primeiro o centro de investigação da Fiat, antes de ingressar na Lancia em 1975, onde viria a marcar indelevelmente a história do Campeonato do Mundo de Ralis.

Durante 15 anos, entre 1975 e 1990, Lombardi ocupou o cargo de diretor técnico de motores da Lancia, sendo responsável pelo desenvolvimento de icónicos modelos de competição como o Lancia Rally 037, Delta S4, Delta HF 4WD e Delta Integrale. Foi um dos principais mentores do inovador motor Triflux, patenteado pelo Grupo Fiat em 1986 e utilizado nos modelos de rali. Trabalhou em estreita colaboração com Cesare Fiorio, o lendário diretor desportivo da equipa Lancia.

Na década de 1980, Lombardi foi peça fundamental na hegemonia da Lancia nos ralis, sendo responsável técnico por múltiplos títulos mundiais que garantiram à marca italiana estatuto lendário no WRC. Em 1989, após a saída de Fiorio para a Ferrari, assumiu interinamente a gestão da equipa oficial de ralis, guiando a Lancia até ao encerramento das atividades competitivas em 1992.

Após a experiência nos ralis, Lombardi transferiu-se para a Ferrari, onde liderou o departamento técnico e contribuiu para o desenvolvimento do último motor V12 vencedor da escuderia na Fórmula 1. A partir dos anos 2000, colaborou com a Aprilia no desenvolvimento do motor RSV4, determinante para os títulos mundiais da marca no campeonato Superbike.

O seu legado técnico ficou marcado não apenas pelos sucessos esportivos, mas pela aposta constante na inovação, na fiabilidade dos motores, e na capacidade de reformular soluções para desafios extremos das corridas.

Claudio Lombardi faleceu a 2 de outubro de 2025, aos 83 anos, deixando uma marca indelével na história da engenharia do desporto automóvel, especialmente nos ralis sob as cores da Lancia

O carros icónicos que desenvolveu

Claudio Lombardi desempenhou papel central no desenvolvimento dos mais icónicos carros de rali da Lancia, contribuindo decisivamente para a reputação técnica da marca e para múltiplos títulos mundiais nos anos 1980. Eis alguns dos seus projetos mais emblemáticos:

Lancia Rally 037 (1982-1986)

Último carro de tração traseira a vencer o Mundial de Construtores (1983).

Motor central de quatro cilindros, com compressor volumétrico Abarth.

Concebido para facilitar a assistência e reparação rápida nas provas e para máxima fiabilidade.

A versão evoluída “037 Evoluzione” foi a resposta à crescente concorrência dos 4×4. O desenvolvimento do motor contou com a liderança de Lombardi, que introduziu soluções inovadoras de compressão e distribuição de potência.

Lancia Delta S4 (1985-1986)

Plataforma criada de raiz para o Grupo B: tração integral, chassis tubular e dupla sobrealimentação (compressor + turbo). Equipado com o famoso motor Triflux, patenteado por Lombardi, que combinava turbo e supercharger para potência instantânea e máxima performance (cerca de 500 cv).

O motor inovador Triflux apresentava cabeçote cruzado de quatro válvulas por cilindro e um sistema avançado de admissão/escape, garantindo resposta rápida e robusta ao longo dos regimes de rotação.

Era tão avançado tecnicamente que serviu de inspiração para projetos futuros do Grupo Fiat, marcando uma era de inovação em engenharia desportiva.

Lancia Delta HF Integrale (1987-1992)

Evolução do Delta S4 para os regulamentos do Grupo A, com tração integral, suspensão avançada e motores turbo fortemente afinados por Lombardi.

Tornou-se o carro mais vencedor da história do WRC, conquistando seis títulos mundiais consecutivos de construtores entre 1987 e 1992.

A complexidade e robustez dos propulsores do Integrale são fruto do trabalho pioneiro de Lombardi nas gerações anteriores, com evolução contínua dos sistemas de gestão de turboalimentação e distribuição.

Outros projetos

Lombardi colaborou também em diversos projetos fora do WRC, incluindo o desenvolvimento do motor do Lancia ECV (Experimental Composite Vehicle), um protótipo de ralis que nunca competiu devido ao fim abrupto do Grupo B, mas que reuniu soluções técnicas avançadíssimas.

Teve envolvimento com Abarth, Aprilia e Ferrari, aplicando conceitos de sobrealimentação, fluxo cruzado e gestão eletrónica aperfeiçoada em competições de GT e F1.

A genialidade de Lombardi está patente nestes modelos, que desafiaram convenções técnicas da época e marcaram para sempre a história dos ralis mundiais. O seu legado vive nos automóveis lendários sob o emblema Lancia e nas soluções técnicas ainda hoje estudadas pela engenharia automóvel.

A influência de Claudio Lombardi fez-se sentir também no projeto do Kimera EVO37, em que Lombardi garantiu a autenticidade técnica e a ligação direta ao lendário Lancia 037 original dos anos 1980.

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