HÁ 20 ANOS: Recordar a dramática vitória de Markko Märtin na Acrópole


Doze meses antes, foi um furo. Agora, foi o capot que subiu para cegar Markko Märtin e estabilizar a carga do seu Ford Focus RS WRC 03. Quando é que o Rali da Acrópole lhe daria uma oportunidade?

Em 2002, Märtin tinha disparado para uma vantagem de 50 segundos após a primeira etapa do clássico evento grego, deixando o companheiro de equipa da Ford, Colin McRae, e o resto das estrelas do WRC na sua poeira. Um furo no teste de Elatia, a meio do dia de sábado, custou mais de três minutos. Um dia e meio depois, McRae venceu e Märtin foi sexto. A ilusória primeira vitória do estónio no WRC tinha-lhe escapado.

Pior ainda, o escocês aceitou abertamente – sem o furo – que não havia nada que pudesse fazer para reduzir a diferença de quase um minuto para Markko.

Em 2003, a estrada a sul de Kamena Vourla afetou fortemente as esperanças de Märtin. Quando é que a etapa de Elatia lhe daria uma oportunidade? Percorreu cerca de 20 quilómetros com o capot encostado ao para-brisas.

“Conseguia quase ver por baixo do capot”, disse. “OK, a visão não era grande coisa, mas provavelmente o pior foi que o capot estava a bloquear a saída de ar no tejadilho, por isso não estava a entrar ar no carro. Estava tanto calor!”

Mas, desta vez, nada iria impedir a famosa vitória de Märtin e do seu sempre popular copiloto Michael ‘Beef’ Park. Há duas décadas atrás, este ano, conseguiram uma vitória extraordinária noutro drama grego.

O que o Autosport escreveu há 20 anos…

Ford regressa às vitórias no Rali de Acrópole: Markko Martin perde a ‘virgindade’

As ameaças acabaram por se concretizar. Depois de lançar um forte aviso à navegação com o novo Focus WRC03, a Ford regressa aos triunfos, proporcionando a Markko Martin a primeira, e possivelmente, a mais emblemática vitória da sua carreira.

A Peugeot e a Citroen terão, a partir de agora, que contar com mais um rival. O campeonato e os entusiastas agradecem…

Martin Holmes

Os mais cépticos ainda tinham dúvidas, mas quando Markko Martin apertou o seu capacete branco, à entrada da última classificativa, o destino estava traçado. Já nada poderia travar a sua primeira vitória absoluta no “Mundial” de Ralis. Encerrando uma maré de azar que o perseguia desde o ano passado, o piloto da Ford vingou a derrota do ano passado, e os dissabores do último Rali da Argentina, onde o seu domínio só foi quebrado pelos problemas de juventude do Ford Focus WRC03. Mas, na Grécia, num terreno que a Ford trata tradicionalmente por “tu”, o piloto estónio confirmou que o carro projetado por Louriaux é já o novo alvo a bater no “Mundial”, agora que a os problemas de fiabilidade parecem ter feito um pacto de “não agressão” com a equipa de Malcolm Wilson.

Um domínio avassalador, explorando principalmente a segunda etapa por forma a gerir o cronómetro no último dia de prova, deu um “gostinho” especial ao champanhe bebido por Martin, que credibiliza na Grécia a sua candidatura ao ceptro de pilotos.

Com a Ford a brilhar mais alto, coube, desta feita, à Peugeot, Citroen e Subaru uma posição subalterna. No primeiro caso, tratou-se do pior resultado da equipa de Provera este ano. Gronholm ficou de fora ainda na primeira etapa, depois de um problema com a bomba de gasolina do 206, Burns arrastou-se até ao fim poupando a caixa de velocidades do carro, a pensar nos cinco pontos que lhe permitiam manter a liderança do campeonato e Rovanpera jogou pelo seguro, depois da transmissão do carro francês o ter feito afastado da luta pela vitória. Ainda assim, o saldo não foi totalmente negativo ou não tivessem Burns e a Peugeot saído da Grécia à frente do campeonato.

Por seu lado, a operação “Acrópole” também não se revelou totalmente negativa para a formação da Citroen. Sainz esteve em particular evidência, substituindo a rapidez pela “resistência”, o que lhe valeu mais o segundo lugar consecutivo e a recuperação de três pontos face ao líder do campeonato. Com Loeb de fora muito cedo, McRae renasceu nesta prova, mas nem o facto de a já ter ganho por cinco vezes (incluindo as três últimas) livraram o escocês de um novo desaire no campeonato, muito por culpa da Xsara WRC que, na prova grega, não foi especialmente “compreensivo” para com ex-campeão do mundo.

Subaru “renasce”

Se houve equipa a merecer destaque na sexta ronda do “Mundial” de Ralis para além da Ford, as honras tem que ser dadas à Subaru. Com a ajuda do “calçado” da Pirelli que em terrenos duros e abrasivos tem outro à vontade, a formação de Lapworth repetiu as boas exibições dos últimos dez anos, onde assinou por quatro vezes o seu nome na galeria dos vencedores. Infelizmente, nem um super-motivado Solberg, conseguiu, desta vez, operar um milagre “grego”, mas ficou a certeza que o Impreza WRC está afinal ao nível do Focus, 206 e Xsara, algo que muita gente começava já a pôr em dúvida.

Igualmente irreverente apareceu Gilles Panizzi, que num Peugeot preparado pela Bozian, mostrou estar cada vez mais adaptado à terra, não tendo dificuldade em cotar-se como o melhor piloto privado, à frente do jovem Latvala que superou todas as expectativas ao volante do quarto carro da Ford.

1ª ETAPA: MARTIN ENTRA EM FORÇA

A primeira etapa começou e terminou sob o signo da Ford. Duval foi, de facto, o primeiro líder e Martin foi o segundo, mas enquanto o belga não passou da quinta especial, o estónio conseguiu segurar a liderança a partir da segunda classificativa, controlando todos os ataques de Rovanpera e Gronholm. Ao vencer três das sete classificativas (uma foi anulada), Rovanpera começou por ser a face mais visível da oposição a Martin ao longo deste primeiro “round”, obrigando o piloto do Focus a estar atento ao “retrovisor” e a concentrar-se numa política de gestão de tempo.

Para Gronholm, a etapa foi de altos e baixos, acabando da pior maneira com uma sofrida desistência a seis quilómetros do Parque de Assistência, onde poderia ser resolvido o problema de pressão de gasolina do 206 WRC.

Com o desaire do Campeão do Mundo, foi Solberg quem mais beneficiou, depois de ter “perdido” no terreno a contenda com Gronholm, em parte devido aos problemas experimentados na primeira “especial” e um pião. Prestação discretas tiveram os pilotos da Citroen, com Loeb a inaugurar o livro dos abandonos, Sainz a jogar pelo seguro e a terminar em quinto e McRae a hipotecar uma possível vitória depois de uma penalização de 50 segundos. Pior só mesmo Burns que sofreu o “handicap” de abrir a estrada, não evitando também graves problemas na caixa de velocidades que o atiraram para nona posição.

2ª ETAPA: SOLBERG BRILHA

Pelos amostra da primeira etapa, o segundo dia de prova indicava que se iria assistir ao jogo do gato e do rato. Martin à frente a tentar escapar a Rovanpera e Solberg. Mas, como prognósticos é, como dizia o outro, “só no fim do jogo”, as expectativas saíram goradas. Depois de começar por ser o mais rápido nos primeiros troços, o Subaru de Solberg enfrenta problemas de transmissão que o afastam, temporariamente, das primeira posições. Para Rovanpera o azar é ainda maior, pois a caixa de velocidades do 206 goza de pouca saúde e afunda-o na tabela classificativa. Mas, qualquer dos pilotos não se deixou bater pelo negativismo e, principalmente, Solberg encetou uma recuperação espantosa que o levou de quinto novamente para segundo, perante a impotência dos dois pilotos da Citroen ainda em prova (Sainz e McRae) e do próprio companheiro de equipa, que não tiveram como segurar o ímpeto do norueguês.

Apesar dos problemas de transmissão terem regressado, Burns conseguiu dar os primeiros sinais de vida, progredindo durante a etapa e aproveitando a falta de inspiração de Makinen para terminar o dia na sexta posição e com boas perspectivas de assaltar, na última etapa, o quinto posto do piloto da Subaru.

3ª ETAPA: SEGUNDO LUGAR AO RUBRO

Para a terceira etapa, os dados estavam lançados, mas só com uma grande dose de azar é que a concorrência poderia neutralizar a primeira vitória de Martin. Estrategicamente, o piloto da Ford adoptou um ritmo consistente que permitiu, mesmo com um problema nas barras anti-rolamento do carro, levar o Focus “em velocidade de cruzeiro” até ao lugar mais alto do pódio. Nestas circunstâncias, as atenções concentraram-se na luta pelo segundo lugar que Sainz não deixou escapar. Um forte ataque de Solberg nas duas primeiras classificativas permitiram ao piloto do Subaru recuperar a segunda posição por momentos, mas tratou-se de “sol de pouca dura” pois estava marcado novo encontro com o azar quando o piloto não evitou um pião que lhe fez perder 10 segundos. Mais amarga, foi a etapa para McRae que com o quarto lugar consolidado viu um problema de electrónica no Xsara relegá-lo para o oitavo posto.

Markko Martin emocionado à chegada a Lamia: “Finalmente aconteceu!”

As poucas palavras pronunciadas debaixo de enorme emoção por Markko Martin à chegada do último Parque de Assistência dizem tudo: “estou muito feliz! Finalmente aconteceu! Devo dizer que foi uma longa espera…”. O piloto estónio conseguiu, aos 27 anos, ser o 66º piloto da história a inscrever o seu nome na galeria de vencedores de provas do “Mundial”, deixando a impressão que não deverá ficar por aqui.

Depois de por várias vezes sentir a a vitória fugir-lhe entre os dedos, Martin fez questão de associar o seu nome às bodas de ouro do Rali de Acrópole. Mas, se o dia se tornou inesquecível para o piloto da Estónia, para a formação liderada por Malcolm Wilson também não foi menos marcante. Para além de conquistar a sua 44ª vitória no “Mundial”, igualando a Peugeot (apenas a Lancia se pode gabar de ser mais vitoriosa), a equipa de Malcolm Wilson venceu no seu terreno predilecto, somando o quarto triunfo consecutivo, oferecendo o primeiro sucesso ao novo Focus WRC03 projectado no início do ano por François Louraux. Ao terceiro rali em que participa, o novo carro tem já motivos de sobra para se orgulhar, tal como o director de equipa: “estou encantado com a vitória. Sabíamos que tínhamos um bom carro nas mãos e desta vez o Markko esteve muito bem. A segunda etapa foi crucial e foi aí que acabamos por ganhar o rali”. Merecidamente, resta acrescentar!

O capot aberto

Markko Martin foi obrigado a cumprir os últimos quilómetros da quinta especial com o “capot” aberto depois de um toque. Uma verdadeira aventura, conforme explicou o estónio: “ainda pensei em parar para fechar o ‘capot’, mas optei por ir mais devagar (curiosíssima a noção de “mais devagar” do piloto!)… mesmo assim só travava para as curvas quando lá chegava e só reagia mesmo no último momento pois não via mais do que 40 metros para a frente”.

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