Fiat 131 Abarth: Triplo Campeão do Mundo


Herdeiro do Lancia Stratos e antecessor do Lancia 037 Rally o bem sucedido Fiat 131 Abarth alcançou três títulos mundiais de Construtores e um de pilotos. A história do Fiat 131 Abarth nos ralis fica indelevelmente ligada a Portugal, já que foi na prova portuguesa do Mundial de Ralis que Markku Alen obteve a derradeira vitória do modelo no WRC.

Uma bela história dum modelo que venceu um terço das provas em que participou no principal campeonato de provas de estrada da FIA. Sob a direção técnica de Giorgio Pianta, mentor do projeto, o 131 estreou-se no Giro de Itália de 1975, ainda como protótipo. Contudo, só em Janeiro de 1976 ‘nasceu’ para os ralis o Fiat 131 Abarth. Com o motor de dois litros e 16 válvulas do Lancia Beta, caixa de 5 velocidades e muito ‘know how’ herdado do 124 Rallye, fez sucesso. Reza a história que a Abarth, na procura do melhor equilíbrio para o carro, no Rali do RAC de 1978, o banco de Christian Geistdoerfer, navegador de Walter Rohrl foi colocado atrás na tentativa de permitir melhor tração e equilíbrio. A FIA não gostou nada da ‘brincadeira’, e tratou logo de introduzir regras que obrigam o navegador a estar sentado ao lado do piloto. Até hoje. Com muito pouca margem…

Estreia vitoriosa

Poucos meses após o anúncio, o 131 Abarth estava pronto para substituir o mítico Lancia Stratos, uma responsabilidade muito grande, que Markku Alen logo tratou de carregar às costas. Na estreia do carro, no Rali Ilha de Elba em 1976 o finlandês ofereceu ao 131 o primeiro de muitos triunfos ao mais alto nível nos ralis. Meses depois, a primeira vitória no WRC surgiu nos 1.000 Lagos, terra natal de Markku Alen. Entre 1976 e 1981, o modelo disputou 55 ralis com a equipa oficial, onde obteve 18 vitórias, nas mais diversas localizações e tipo de provas. Finlândia, Portugal, Nova Zelândia, Canadá, San Remo, Córsega, Acrópole, Monte Carlo e Argentina, obtendo pelo meio vitórias absolutamente memoráveis, como por exemplo as obtidas por Markku Alen em 1978 depois dum duelo épico com Hannu Mikkola ou o a de 1981, quando após bater numa pedra na Peninha, o Fiat 131 Abarth de Markku Alen perdeu a roda dianteira direita e o finlandês fez os quilómetros finais em marcha-atrás, vindo ainda a vencer o rali. Ou a vitórias de Walter Rohrl em 1980, quando ‘deu’ 4m40s a Markku Alen no nevoeiro de Arganil, decidindo a seu favor um rali muito disputado pelos dois colegas de equipa na Abarth.

Três títulos de Marcas

O primeiro título de Marcas surgiu de imediato em 1977, ano que Markku Alen teria ganho o campeonato de pilotos caso a FIA já o tivesse instituído. Só o fez em 1979. No ano seguinte, em 1980, Walter Rohrl assegurou o título de pilotos e a FIAT as Marcas. Em 1981, o programa da Abarth nos ralis diminuiu em virtude do projeto Lancia 037 Rally, previsto para 1982, e Markku Alen ofereceu ao 131 Abarth a sua derradeira vitória em Portugal. No final, três títulos de Marcas em 1977, 1978 e 1980, e um de pilotos, para Rohrl, em 1980.

Características técnicas

Motor 4 cilindros em linha montado longitudinalmente à frente. Dupla árvore de cames à cabeça, 16 válvulas, 1995cc, 230cv, Suspensão com arquitetura McPherson nas quatro rodas, com barra estabilizadora ajustável à frente; triângulo inferior com braços longitudinais e barra estabilizadora ajustável atrás Transmissão Cx. 5 Velocidades, tração traseira. Peso 1.000 kg

Da noite de Sintra ao nevoeiro de Arganil

O FIAT 131 Abarth faz parte da lenda do Rali de Portugal. Não apenas pelos seus quatro triunfos, mas especialmente por duas “estórias”, verídicas, que sucederam nas edições de 1978 e 1980.

Sobre a primeira delas, passada na que ficou conhecida pela Noite de Sintra, mas sempre podemos acrescentar que o 131 Abarth era um carro tão especial que, depois de fazer uma classificativa em três rodas e de marcha-atrás, era ainda assim capaz de vencer um Rali de Portugal – na que foi a segunda das três que Markku Alen conquistou ao volante deste carro!

A segunda “estória” passou-se em Arganil, durante a edição de 1980. Então, a luta pela vitória era entre Alen e Walter Rohrl, ambos em FIAT 131 Abarth. Era a primeira passagem pelos 43 quilómetros da mítica classificativa, que se disputava durante a noite. Quando o gigante alemão saiu para a estrada, a Serra do Açor estava coberta por um nevoeiro cerrado e Rohrl partiu sem qualquer visibilidade. Acreditando piamente naquilo que o seu navegador, Christian Geistdörfer, lhe “ditava”, Rohrl praticou aquilo que o seu rival e colega de equipa chamava de “maximum attack” e ganhou 4m40 s Alen. Acredita-se que esta foi uma espécie de “vendetta” pelo facto de a FIAT não ter dado ordens de equipa aos seus pilotos, deixando-os livres para se atacarem mutuamente.

Seja como for, no final Rohrl justificou o “injustificável” por “ter treinado o troço mais vezes que o habitual.

Em cada momento tinha a certeza do sítio exato onde estava, mesmo sem ver nada. Se as notas referiam 150 metros eu podia fechar os olhos e sabia o que ia encontrar. Penso que o segredo foi ter percorrido mentalmente o troço deitado na minha cama do hotel. Foi perfeito e não falhei uma única curva. Agora, se aquilo seria possível repetir, não imagino…” Na altura, as especulações foram muitas e cada uma delas mais “maluca” que a outra, falando-se que o piloto tinha atalhado (por onde?), ou que estaria a usar óculos especiais para neveiro.

A verdade, contudo, é que ninguém mais repetiu a façanha.

Palmarés

1977 – Título Mundial de Construtores

1978 – Título Mundial de Construtores

1980 – Título Mundial de Construtores

1980 – Título Mundial de Pilotos (Walter Rohrl)

Estreia: Rali Ilha de Elba 1976 (1º Lugar)

1ª Vitória: Markku Alen (Finlândia 1976)

Vitórias: 18

Markku Alen (Finlândia 1976); Markku Alen (Portugal 1977); Fulvio Bacchelli (Nova Zelândia 1977); Timo Salonen (Canadá – Quebec 1977); Jean-Claude Andruet (San Remo 1977); Bernard Darniche (Córsega 1977); Markku Alen (Portugal 1978); Walter Rohrl (Acrópole 1978); Markku Alen (Finlândia 1978); Walter Rohrl (Canadá – Quebec 1978); Bernard Darniche (Córsega 1978); Markku Alen (Finlândia 1979); Walter Rohrl (Monte Carlo 1980); Walter Rohrl (Portugal 1980); Walter Rohrl (Argentina 1980); Markku Alen (Finlândia 1980); Walter Rohrl (San Remo 1980); Markku Alen (Portugal 1981).

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