‘Estórias’ do Rali de Portugal 1991: O terrível troço da Freita


O troço da Freita do Rali de Portugal de 1991 é o único da história do WRC que teve asfalto, neve, gelo… e terra ao mesmo tempo, numa especial que exemplificou muito bem o que foi esse rali, em que choveu como há muito não se via. Infelizmente, outra ‘carga daquelas’, dez anos depois, em 2001, traçou o destino do Rali de Portugal, que só regressou ao WRC em 2007, e depois definitivamente em 2009, onde está até hoje.

Na altura, o Autosport escrevia: “Um verdadeiro rali de inverno. Neve e gelo com fartura. Armin Schwarz, que liderava o rali despistou-se no Toyota oficial, o mesmo sucedendo a François Delecour e a sua navegadora, Anne Chantal Pauwels, que foram parar ao hospital, por precaução. A especial é interrompida e mesmo em ligação, Bento Amaral despista-se numa placa de gelo.”

Depois de Arganil, a prova continuou para norte, em direção à Póvoa de Varzim, e as condições atmosféricas degradaram-se dramaticamente e provocaram um verdadeiro golpe de teatro no ranking da prova. Com a neve a surgir logo em Muna, troço que foi definitivo para as aspirações de José Miguel, que ficou sem uma roda a quatro quilómetros do final, tudo foi piorando no Caramulo, até que os 24,2 Km da Freita acabaram por se revelar o troço que mais polémica fez desabar sobre a caravana do Rali de Portugal.

Tradicionalmente difícil, a Freita ‘resolveu’ caprichar, aproveitando da melhor forma o temporal que se abateu na zona centro do país na tarde de quarta-feira “A neve chegava ao para choques do meu carro!” exclamava Fernando Peres.

Já na Póvoa: “Fiz oito quilómetros em primeira, porque não era possível andar mais depressa. Já na ligação, parei ao lado do carro do Alessandro Fassina, que se tinha despistado, e com o meu Sierra imobilizado comecei a senti-lo escorregar para o ‘buraco’. Só tive tempo de meter a primeira e “dar gás”!

Por seu lado, Carlos Bica afirmava: “O ‘Fanã’ bem que me avisava que, a andar daquela forma, iríamos penalizar em Arouca! Mas eu nunca quis saber, só pensava em que era preferível isso a ficar ali, no meio daquele troço cheio de neve. Só encontrava bocados de carros pelo caminho, para choques, plásticos… Não era possível andar naquelas condições!” Que o digam Armin Schwarz e François Delecour, os dois homens da frente e que acabaram as suas brilhantes atuações fora da estrada. O francês foi mesmo conduzido a uma unidade hospitalar, com uma luxação numa das pernas.

Em consequência da quantidade de incidentes e das notícias contraditórias sobre o sucedido com Schwarz (cujo carro não se via da estrada) e Delecour, o troço foi interrompido a partir da passagem de Fassina. Com o abandono de Schwarz e de Delecour, Massimo Biasion encontrou-se, subitamente, no comando da prova, posição que facilmente manteve até à chegada à Póvoa.

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