WRC: Recorde o campeonato até aqui…

Por a 14 Agosto 2018 12:41

Este fim de semana disputa-se o Rali da Alemanha. Enquanto o rali não começa, recorde as provas anteriores de 2018.

Rali de Monte Carlo

Apesar de ter estado uns anos fora do WRC, a FIA depressa percebeu que uma prova como o Rali de Monte Carlo é o palco ideal para a abertura da competição, pois o carácter do evento permite que, na maioria das vezes, os concorrentes tenham pela frente um enorme desafio. E foi exatamente isso que sucedeu este ano. A meteorologia ajudou, não faltou neve e gelo, e esse é desde logo o ingrediente principal para este ‘banquete’ que costuma ser o Rali de Monte Carlo. Para ajudar à festa, o Automóvel Clube do Mónaco fez algumas alterações que vieram em muito ajudar ao sucesso do evento, como, por exemplo, com a introdução do Sisteron como especial de abertura à noite. Era quase certo que não faltaria gelo no Col de Fontbelle, e esse foi um excelente ponto de partida para uma bela prova. Só nessa especial aconteceram mais incidentes do que em muitas provas do WRC inteiras, e essa é uma das ‘belezas’ do Monte Carlo. É certo e sabido que ninguém passa incólume a esta prova, e mais uma vez foi isso que aconteceu. Inclusivamente, o vencedor saiu da equipa que menos foi ‘penalizada’. Mesmo tendo feito um pião, Ogier saiu do Sisteron na frente e por aí ficou até ao fim – mesmo depois doutro pião e de ter sido ajudado por espetadores na PE7 – sempre seguido de perto, primeiro pelos homens da Hyundai, Mikkelsen e Sordo, depois por Tanak, que era quinto no final do primeiro dia. Já na sexta feira precisou apenas de três troços para chegar a segundo. Até ao final do dia o estónio chegou-se ainda mais a Ogier e terminou o dia a 14.9s do francês.

Só que o primeiro troço de sábado foi, provavelmente, dos mais complicados da história do WRC, e aí Ogier, apesar das dificuldades, ‘sobreviveu’, bem melhor que Tanak, que saiu dali a 1m18.4s do líder. Foi este o momento decisivo da prova. A partir dali, Ogier limitou-se a controlar, e ninguém mais se atreveu a arriscar a ir atrás dele. No sábado Tanak recuperou alguma coisa, mas no Col de Turini Ogier mostrou novamente as ‘garras’ e decidiu definitivamente o rali a seu favor.

Tanak preocupou-se em manter a posição, conservadorismo que Jari-Matti Latvala teve desde o início do rali, preocupando-se em fazer o melhor que podia sem arriscar muito, ao invés de lutar por ir mais além na classificação.

Se calhar, os dois piões do Sisteron assustaram-no, confessando no final que depois disso foi cauteloso demais. Este duo foi bem escudado por Esapekka Lappi, mas este estragou tudo no último troço com uma saída de estrada, caindo de quarto para sétimo da geral.

A luta pelo quinto lugar foi bem interessante, com Meeke, Neuville, Evans e Lappi a terminarem ‘dentro’ de 14s. Com o azar de Lappi, Meeke herdou a posição, mas também ele ganhou bem a batalha face aos pilotos da Hyundai e da Ford. Estes três pilotos passaram por grandes dificuldades na fase inicial do rali. Neuville, logo no Sisteron, perdeu 4m16s com uma saída de estrada. No dia seguinte, venceu três troços, mas também furou, recuperando de 17o para nono. Evans furou no Sisteron, perdeu 3minutos, subindo depois do 19o ao sexto lugar final. Venceu dois troços pelo meio, mostrou um bom andamento, e não ficou longe do quarto lugar. Vários pequenos erros levaram a que não desse para mais. Kris Meeke fez um pião, também no Sisteron, fez marcha atrás e caiu numa vala, perdendo 1m44.7s. Depois deste azar, esteve bem, recuperou e ainda venceu a PowerStage, algo que um C3 WRC nunca tinha feito. Esapekka Lappi não merecia o azar que teve. Talvez o facto de não conhecer bem o monte Carlo levou a que fosse sempre cauteloso e isso foi fazendo com que se mantivesse bem na frente. Um exemplo, o Sisteron, troço de onde o finlandês saiu… em terceiro. Até ele ficou surpreendido. Utilizou uma tática que não lhe dava para ganhar, mas o quarto lugar estava mais do que seguro… até ‘àquela’ curva.

Oitavo lugar para Bryan Bouffier, que esperava mais deste seu Monte Carlo, num resultado que ficou desde logo condicionado com a lesão do seu navegador na manhã em que a prova arrancava para a estrada. Teve que vir Xavier Panseri do Dakar direto para a bacquet do lado direito do Ford Fiesta WRC, o que nunca seria a mesma coisa. Talvez o desfecho não fosse muito diferente, mas que faz diferença, faz.

Craig Breen terminou em nono uma prova em que se começou logo a atrasar na PE1, depois de ter ficado preso numa vala 30 segundos, teve problemas de travões no dia seguinte e depois abrir estradas cheias de neve e gelo, não ajudou nada.

Andreas Mikkelsen terminou em 14º, depois de ter abandonado no segundo dia de prova com problemas com o alternador do i20 WRC, quando era terceiro. O que mostrou foi bom, e provavelmente teria lutado pela vitória. O mesmo se aplica a Dani Sordo, que se despistou na PE8 quando era terceiro, só que no caso do espanhol, foi um excesso, sendo traído por um piso muito escorregadio.

Rali da Suécia

Único rali disputado em pisos de neve e gelo no campeonato, o Rali da Suécia surpreendeu as equipas logo no momento dos reconhecimentos. O inverno rigoroso que se está a sentir este ano na Escandinávia transformou os troços e pilotos e co-pilotos tiveram trabalho redobrado. Na Hyundai, Thierry Neuville tinha pressão extra. O piloto belga tinha desperdiçado, quase inexplicavelmente, a oportunidade de fazer história na edição do ano passado. O belga tinha sofrido um acidente quando liderava de forma confortável e ficou pelo caminho. Já nessa altura mostrou que tinha argumentos para se tornar no terceiro piloto nascido fora da Escandinávia a ganhar na Suécia. Se for tido em conta que os dois primeiros são Sébastien Loeb e Sébastien Ogier, tal feito colocaria o belga num nível ainda mais elevado, mesmo se nunca venceu um campeonato do mundo e tem, agora, sete triunfos no WRC. Além disso, o arranque da época já não tinha começado bem e o piloto da casa de Alzenau tinha perdido preciosos pontos.

O Rali da Suécia começou bem, mas para a Toyota, em particular para Ott Tanak. Segundo na estrada, o estónio não parecia sofrer com isso, tal como acontecia com Sébastien Ogier. Não é por acaso que numa entrevista recente, Sébastien Loeb elege o piloto da Toyota como um dos nomes a ter em conta e a seguir com muita atenção em 2018.

Bastaram, porém, três troços. Ao fim do terceiro desafio, Thierry Neuville assumia o comando da classificação geral. Mais cedo do que o belga tinha planeado. Mas a partir desse momento não havia volta a dar. Era preciso segurar o resultado, mesmo com dois dias e meio de competição pela frente.

Aí, não bastaram os dotes de piloto. A fazer lembrar a escola francesa de Loeb e Ogier, o homem da Hyundai foi irrepreensível. Minimizou os danos nos momentos em que ia ser mais lento e perder tempo para, de seguida, ganhar vantagem.

Com Neuville na frente, a Hyundai queria mais. Ainda sonhou com um pódio só de i20 WRC, mas Andreas Mikkelsen e Hayden Paddon não o conseguiram. O norueguês conseguiu o melhor resultado com a marca coreana, enquanto o piloto da Nova Zelândia se apresentou confiante e revigorado, depois de uma temporada de 2017 cheia de altos e baixos.

Quem também não se vai esquecer desta edição do Rali da Suécia é Craig Breen. O irlandês também tinha uma história com a ronda escandinava. No ano passado obteve um dos melhores resultados com um WRC (foi quinto) mas o seu rendimento em 2018 era uma incógnita. Inclusivamente para o piloto da Citroën que tinha ambições, mas não equacionava a possibilidade de ter uma prestação praticamente irrepreensível do início ao fim. “Estou no topo do mundo. O último ano não foi fácil, mas os rapazes fizeram com que tudo funcionasse”, disse Breen numa clara alusão ao trabalho desenvolvido pela Citroën no sentido de tornar o C3 mais competitivo.

Quem passou praticamente ao lado do Rali da Suécia foi Sébastien Ogier. O campeão do mundo nunca conseguiu acompanhar os mais rápidos e teve na Power Stage a única forma de somar mais alguns pontos além do ponto relativo ao 10º posto que ocupou no final. Para o conseguir, consciente que a sua posição na estrada não era a ideal, o francês atrasou-se propositadamente para entrar no controlo no momento que mais lhe interessava. “Foi estratégia de equipa. No nosso lugar não tínhamos hipótese. Tentámos encontrar uma posição aceitável”, justificou o campeão do mundo.

Rali do México

Há uma música muito antiga do Paul Young, músico que é quase do tempo em que Sébastien Loeb começou a correr – passe o exagero e fique a ideia – que diz no refrão: “volta e, fica duma vez por todas desta vez…”. É o que apetece dizer ao francês, que depois de tanto tempo ausente, regressou quase como se nada fosse, disputando os primeiros lugares, chegando depois à liderança, que perdeu na sequência de um furo.

Realmente este Rali do México é useiro e vezeiro em criar excelentes histórias para o WRC, e assim de repente, quem não se lembra de Loeb em três rodas com o Citroën Xsara em 2005, ou de Ogier a parar para Ingrassia abrir um portão. Ou mais recentemente o famoso Titanak de 2015, ou o ‘circo’ do ano passado, aquando do passeio pelo parque de estacionamento de Kris Meeke.

Para este ano, a história antes do rali que se tornou na história do rali foi o regresso de Sébastien Loeb. Um herói do WRC, com os seus nove títulos de Campeão, que não se esconde dos desafios, enfrenta-os, e, regra geral, como foi o caso, brilha a grande altura.

Mas houve mais brilho. 10 anos depois da sua primeira aparição no Rali do México, Sébastien Ogier teve uma daquelas performances quase miraculosas, em que se sobrepôs ao facto de ter que ser o segundo na estrada no primeiro dia, em que perdeu 35 segundos. Depois, em sete troços, passou de sexto para primeiro. Enquanto isso, o seu veterano compatriota, Sébastien Loeb, realizou o tão esperado regresso ao WRC, impressionando as hostes ao passar pela liderança da prova, durante três troços, a meio do evento, até furar e perder 2m23.7s. Terminou em quinto, mas deixou claro a toda a gente que apesar de ter andado pelas pistas do WTCC, subido às nuvens de Pikes Peak, andado pela Rota da Seda, no deserto do Atacama e no meio das espetaulares corridas do Mundial de Ralicross, o seu ‘meio’ são mesmo os ralis. Compreende-se o cansaço, a saída, o querer experimentar outros mundos, e as saudades de agora. Foi preciso mesmo muito pouco para entrar no ritmo. Convém não esquecer que o ‘homem’ após o shakedown confessou que até as notas já eram estranhas.

Ogier teve o mérito de nunca virar a cara à luta e sabendo que os ralis são longos, sabia também que, a pouco e pouco, podia levar a água ao seu moinho. E assim fez. Quando Loeb e Sordo furaram, Ogier estava apenas a 15.5s, empatado com Meeke. Depois, o inglês da Citroën fez um pião e Ogier ficou na situação que mais gosta. De repente, os 35s que teve de atraso no primeiro dia, foram convertidos em 34.5s de avanço no segundo. O rali ‘morreu’ aí.

Na frente, ninguém mais quis arriscar em demasia, e Sordo chegou ao segundo lugar quando Meeke fez mais uma das suas já célebres ‘avarias’. Mas está melhor, porque desta vez só capotou metade. Antes, não tinha perdido o humor, pois publicou um post no Twitter a pedir aos espetadores que estacionassem mais ‘ordeiramente’ à volta dos troços. Não fosse o diabo tecê-las. Terminou no pódio, o que não foi nada mau. Mas podia ter feito bem melhor.

Quanto a Sordo, pela 25a vez na sua carreira foi segundo classificado, algo a que se habituou desde cedo a fazer. Dantes era um ‘Sébastien’, agora é outro.

A Toyota teve um evento terrível, pois apesar de Ott Tänak ter completado o primeiro dia em terceiro, bem na luta pela liderança, ficou muito cedo sem Jari-Matti Latvala e Esapekka Lappi. Inicialmente, o motor dos seus Yaris WRC sobreaqueceu, mas, na verdade, mais tarde Lappi e Latvala acabariam por desistir por outras razões. O finlandês mais novo bateu e Latvala cedeu devido a problemas com o alternador do Yaris. No dia seguinte, ambos regressaram sem hipóteses de lutar por resultados, e depois foi a vez de Tanak baquear devido a problemas com o turbo. Três carros longe das lutas na frente. Mas Tanak ainda salvou a honra do convento com o triunfo na Power Stage.

Se a Toyota esteve mal, a Hyundai também, exceção feita a Sordo. O primeiro dia foi um pesadelo para Thierry Neuville, que ainda ‘levou’ com a falha da pressão do combustível no i20. Assim é difícil ganhar títulos. Quanto a Mikkelsen, andou toda a fase inicial do rali a queixar-se da traseira do seu i20 WRC, e quando já estava muito longe, preferiu ver o que aquilo dava, e, com calma, para não estragar, ainda terminou em quarto. Muito ‘apagado’, o norueguês.

Ainda no primeiro dia, Elfyn Evans capotou a seguir a um salto e já não regressou, pois o navegador, Dan Barritt, teve uma concussão na cabeça. Nada de especial, mas o rali acabou ali para ambos.

Exceção feita a Ogier, o ‘resto’ da M-Sport foi um desastre, pois Teemu Suninen também abandonou depois de bater com o seu Ford Fiesta WRC. Com estes resultados, Ogier ganha 19 pontos a Neuville a comanda novamente o Mundial. O segundo pelotão está todo bem equilibrado, pois entre Mikkelsen, terceiro, e Tanak, sexto, há apenas oito pontos.

Nas equipas, muito equilíbrio. Lidera a Hyundai, mas entre primeira e última há apenas 17 pontos. Já houve quem tenha somado 40 numa só prova.

Depois do gelo de Monte Carlo, da neve da Suécia e da terra do México, agora é a vez do asfalto da Córsega. E com Sébastien Loeb de novo.

Rali da Córsega

On attendait Platini, cá fu Domergue”. Nunca mais me esqueci desta expressão que li numa revista sobre o Euro 1984, onde Portugal brilhou até cair nas meias-finais com a França. Esperávamos um livre do Platini, mas foi o ‘outro’ que nos saiu na rifa, e neste rali, que achávamos perfeito para Sébastien Loeb ‘afrontar’ Ogier, nada disso sucedeu. O que vimos foi uma lebre ficar presa numa ratoeira, outra ‘pirar-se’ a grande velocidade, e uma data de tartarugas a correr entre si pelo pódio.

Passe o exagero e fique a ideia, na segunda tentativa de três previstas este ano, Loeb voltou a não conseguir brindar-nos com a ansiada luta com Ogier. Nem nunca vamos saber se o conseguiria nesta prova, pois apesar de ter ganhado alguns troços, quando regressou no segundo dia, nessa altura já Ogier ‘vivia dos rendimentos’. Esta prova foi propícia a vários pilotos de top terem acidentes. Primeiro foi Loeb, depois Latvala ‘rebentou’ com o roll bar do seu Yaris e por fim Meeke ouviu um ‘5’ onde devia ter estado um ‘3’. Tal como disse depois, as leis da física não perdoam. Em asfalto limpo e seco, muitos pilotos andaram às ‘aranhas’ com as afinações dos seus carros. Por exemplo, os Hyundai, sempre com o mau hábito de fugirem de frente. Os Toyota começaram inconsistentes, mas melhoraram muito durante a prova. Quanto à M-Sport Ford, Ogier foi claro: “Progredimos, o carro é mais rápido que o ano passado”. Aliás, tem-se visto isso, três triunfos em quatro ralis! Apesar de tudo a Hyundai lidera os Construtores, quatro pontos na frente da M-Sport, e Ogier tem agora 17 pontos de avanço enquanto espera a decisão do apelo face ao que sucedeu no México. Sébastien Ogier dominou por completo o Rali da Córsega, abrindo uma margem grande desde o primeiro troço, passando a controlar no início do segundo dia, gerindo depois a seu bel prazer uma prova em que não teve adversários à altura. Sem o mínimo problema ou susto, venceu com (demasiada) facilidade, e voltou a destacar-se no campeonato.

Sébastien Loeb era um dos destaques desta prova, mas depois de ter ficado afastado da luta pelo triunfo no México na sequência de um furo, desta feita deitou tudo a perder quando se despistou logo no início da PE2, ficando desde logo afastado da luta pela vitória. Regressou no segundo dia, venceu troços, mas passou somente a divertir-se ao invés de competir. Quando lhe perguntaram no final do rali se seria capaz de se bater com os seus adversários caso não tivesse saído de estrada, respondeu que não sabia, mas percebeu-se claramente ter ritmo. Nunca iremos saber se poderia acompanhar Ogier, mas desconfiamos seriamente se houvesse alguém que o tivesse, na Córsega, era ele. Foi pena!

Grande prova realizou Ott Tanak. Apesar de um mau começo, afinal era a sua primeira vez com o Toyota Yaris WRC em asfalto, foi aprendendo e evoluindo, fez alterações a meio do primeiro dia, e passou de quarto para segundo. Só não chegou para Ogier, pois quanto ao resto dos adversários diretos ganhou tempo significativo a todos: “Não me posso queixar muito pois a Córsega sempre foi o meu evento mais fraco e um segundo lugar não é nada mau”.

Thierry Neuville foi terceiro. Na fase inicial lutou com falta de performance do carro, bem diferente do ritmo que lhe valeu o triunfo no ano passado. Começou com problemas nos travões, tentou apontar para o segundo lugar, mas nem isso conseguiu. A sensação que fica é que os adversários cresceram, e a Hyundai marcou passo: “Não conseguimos lutar e temos de esperar pelo próximo rali.”

Dani Sordo foi quarto numa prova em que o resultado foi bem melhor que a exibição. Perdeu mais de um minuto para a frente do rali logo no primeiro dia de prova, e o mais estranho de tudo é que termina a etapa atrás de Lappi, que nunca tinha guiado um WRC na Córsega. Acabou por subir posições devido a azares alheios: “Estou desapontado, lutámos muito com o carro, embora no fim o resultado não tenha sido mau”.

Elfyn Evans, que corria com um novo navegador, Phil Mills, foi quinto e não era fácil fazer muito melhor, e muito provavelmente não o faria, mesmo com o navegador habitual. Trocar de navegador no rali mais difícil do calendário, nesse aspeto, com troços com mais de 100 páginas de notas para ditar, é obra: “Sabíamos que não ia ser fácil, o Phil fez um trabalho incrível”. Esapekka Lappi estragou perto do fim do rali a boa prova que estava a realizar. O piloto finlandês deu um toque na especial mais longa do rali, realizado no último dia, e com isso desceu de quarto para sétimo, atenuando um pouco a questão com o triunfo na PowerStage, facto que lhe permitiu recuperar uma posição. No segundo dia, ninguém fez melhor que ele, chegando ao quarto lugar, bem mais perto do terceiro de Neuville do que o quinto de Sordo. Andreas Mikkelsen fez um rali horrível, a Hyundai tem muito para trabalhar o i20 Coupe WRC no asfalto.

Kris Meeke fez uma boa prova, lutava pelo segundo lugar quando um engano do seu navegador, Paul Nagle, estragou tudo, acabando fora de estrada. Jan Kopecky venceu facilmente o WRC2 e Yoann Bonato colocou o novo Citroën C3 R5 no top 10 na estreia ‘mundial’ do carro. Loeb ainda terminou em 14o, e agora só o voltamos a ver na Catalunha. E se preferir, no final deste mês em Montalegre, no WorldRX! Bryan Bouffier já não tem vida para este nível de WRC. Com um bom carro, o melhor que conseguiu foi um 5o tempo num troço curto, de resto andou sempre muito atrás. O WRC regressa dentro de três semanas na Argentina.

Rali da Argentina

O Rali da Argentina é pródigo em vitórias surpreendentes e, na verdade, quem olhou para a classificação geral após a segunda especial, não acreditaria que no final da prova alviceleste fosse Ott Tanak a subir ao lugar mais alto do pódio. Depois de uma equilibrada passagem pela novíssima super especial, preparada pela organização, em que o estónio conseguiu o segundo lugar, um pião no primeira especial do segundo dia de competição deixou o piloto da Toyota na 10.a posição da geral, a 23.8 segundos do então líder, Sébastien Ogier.

Este erro fez soar o alarme mental de Tanak que, daqui para a frente, fez uma prova irrepreensível, atacando nos mo- mentos certos e gerindo o andamento nas devidas ocasiões. Prova disso é a recuperação brilhante que fez ainda no decorrer do segundo dia, vencendo cinco das seis especiais disputadas após o incidente e terminando a etapa já com uma confortável vantagem de 22.7 segundos sobre Kris Meeke. Thierry Neuville, primeiro líder da prova argentina, ocupava a terceira posição ao final das primeiras oito classificativas, provando ser um dos pilotos mais regulares da atualidade, enquanto que o penta campeão mundial, Sébastien Ogier, ocupava a quinta posição, atrás do espanhol Dani Sordo. Por outro lado, Jari-Matti Latvala não viu uma pedra no interior de uma direita, e acabou por abandonar o rali de forma irreversível com problemas na suspensão do seu Toyota.

O terceiro dia do evento começou com muito nevoeiro no topo das montanhas argentinas. Estas condições atmosféricas criaram alguns problemas aos pilotos, em especial a Craig Breen que capotou acabando mais tarde por desistir. Lappi teve uma saída de estrada e perdeu cerca de meio minuto, enquanto que Elfyn Evans e Kris Meeke furaram e perderam tempo para a frente da corrida. Por seu lado, Ott Tanak mantinha a toada do dia anterior, vencendo mais cinco das seis especiais disputadas e tendo no último dia do rali argentino uma liderança confortável. Dani Sordo, com uma prova em crescendo, triunfava na 15ª especial, subindo ao terceiro lugar da geral. Neuville e Ogier, em ritmos de prova tranquilos, ocupavam a segunda e quarta posições, respetivamente.

O derradeiro dia de prova mostrou ao Mundo que os desportos motorizados ocupam um lugar privilegiado nas preferências dos argentinos. Prova disso foram as mais de 100 mil pessoas que assistiram ao vivo aos últimos quilómetros da prova argentina, formando filas intermináveis na região de El Condor. No que há competição diz respeito, entre os pilotos que ocupavam as posições da frente havia muito mais a perder do que a ganhar, e isso comprovou-se nos ritmos impostos nas últimas especiais. Ott Tanak geriu a vantagem e guardou a liderança para alcançar a sua terceira vitória no Mundial de Ralis, o mesmo número de vitórias que a Toyota atingiu após o regresso aos ralis, em 2017. O estónio somou ainda dois pontos da Power Stage, que podem ser muito importantes na luta pelo título Mundial, caso mantenha nas próximas provas o an- damento demonstrado na Argentina. Por seu lado, Thierry Neuville venceu a Power Stage, somou 23 pontos em solo sul americano e fica a 10 da liderança de Sébastien Ogier. Regular como habitualmente, o belga recuperou seis pontos para o líder e chega a Portugal com possibilidades reais de saltar para a liderança do Mundial. Dani Sordo, com uma prova em crescendo, trabalhou bastante para a equipa, ajudando a Hyundai a manter a liderança na tabela de construtores. Já Sébastien Ogier acabou por sorrir no final, uma vez que os pontos perdidos não refletem a diferença real de andamento verificada na Argentina.

Segue-se agora a 52a edição do Rali de Portugal, sexta prova do Campeonato do Mundo de Ralis de 2018, onde a emoção promete estar ao rubro. Neuville irá tentar pressionar Ogier, num rali em que o gaulês procura uma inédita sexta vitória individual, podendo superar Markku Alén (5). Ott Tanak também tentará manter a toada positiva, enquanto que Mikkelsen, Sordo, Meeke, Lappi e Latvala irão lutar pela primeira vitória da temporada no Campeonato do Mundo de Ralis.

Rali de Portugal

Quatro edições, quatro vencedores diferentes. Ainda ninguém conseguiu repetir a vitória no Vodafone Rali de Portugal desde que a prova do ACP Motorsport regressou à região Norte. Em 2015, Jari-Matti Latvala e a Volkswagen triunfaram no regresso do rali aos troços nortenhos; em 2016 foram Kris Meeke e a Citroën a ganharem; no ano passado Sébastien Ogier deu a vitória à M-Sport e empatou com Markku Alén nos livros da História; este ano foram Thierry Neuville e a Hyundai a reinarem num rali duro e cheio de peripécias entre os candidatos à vitória. A 52ª edição do Rali de Portugal voltou a afirmar a prova nacional como uma das me- lhores do calendário mundial, quer do ponto de vista desportivo, quer ao nível da organização, que teve inclusive de transportar dois pilotos (Meeke e Paddon) para o hospital por precaução. Na sexta prova do WRC assistiu-se a uma exibição madura de Neuville, que soube quando atacar e quando preservar a mecânica do i20 WRC nas duras classficativas de terra da região. Neuville passou para a frente do rali na sétima especial, quando o seu companheiro de equipa e anterior líder, Hayden Paddon, sofreu um acidente que deixou o i20 WRC a bloquear a estrada, obrigando à neutralização da especial de Ponte de Lima. Mas antes disso, a prova portuguesa já tinha ficado sem três dos mais fortes candidatos à vitória: Ott Tänak, que vinha de um triunfo claro na Argentina, ficou de fora com o radiador do seu Toyota partido na PE2, a primeira passagem por Viana do Castelo; Jari-Matti Latvala também não passou do troço seguinte, em Caminha, onde partiu a suspensão dianteira direita do Yaris WRC; Sébastien Ogier, que tentava desempatar com Markku Alén no recorde de triunfos no Rali de Portugal, saiu de estrada a baixa velocidade na PE5 (Viana do Castelo 2), ficando com o Ford preso numa vala. Ogier e Latvala ainda conseguiram regressar à prova em Rally2, ao contrário do azarado Tänak. A partir daí Thierry Neuville pressentiu a enorme oportunidade de passar para a frente do campeonato e desta feita esteve imune a erros, controlando as operações para vencer com 40 segundos de vantagem sobre Elfyn Evans. Foi a oitava vitória da carreira do belga no WRC e a segunda da temporada, depois do triunfo na Suécia. Ainda mais importante para Neuville, os 29 pontos acumulados em Portugal – 25 da vitória e quatro na Power Stage – permitem-lhe passar para a frente do Campeonato do Mundo após seis provas, com 19 pontos de avanço sobre Ogier.

Elfyn Evans, que se estreou a ganhar no WRC no ‘seu’ Rali de Gales/GB, em outubro, voltou aos bons resultados no Campeonato do Mundo depois de um início de época algo discreto. Sempre consistente, Evans ainda ameaçou dar luta a Neuville até ao final do rali, mas o belga deu uma estocada quase decisiva quando lhe ganhou nada menos do que 29 segundos nas duas passagens pelos 37,6 quilómetros do troço de Amarante, no sábado, praticamente sentenciando aí o rali. Outro piloto da M-Sport em destaque foi Teemu Suninen, que se mostrou rápido e sobretudo muito forte a resistir à pressão de Esapekka Lappi e Dani Sordo no último terço da prova. Estes três pilotos entregaram-se a uma batalha intensa pelo derradeiro lugar do pódio e o facto de Suninen ter batido os seus dois rivais, mais experientes, é um feito de registo para este jovem de 24 anos que, tal como Lappi, até começou por dar nas vistas nos campeonatos de karting na Finlândia. Lappi também fechou o rali em grande pois foi esmagou o recorde da histórica especial de Fafe, que é agora de 6m33,2s, e garantiu os cinco pontos extra da Power Stage, na frente de Neuville. O finlandês da Toyota foi prejudicado por um amortecedor traseiro partido na sexta-feira que o fez perder o contacto com os primeiros. Apesar de um forcing final, o compatriota Suninen resistiu à pressão. A par disso, Lappi ainda sofreu uma penalização de 10 segundos por um toque nos pneus da Porto Street Stage, terminando no quinto posto. Dani Sordo, que também foi penalizado em 10 segundos por ter levado um conjunto de pneus à frente na Porto Street Stage, colocou o seu Hyundai no quarto lugar. O espanhol não estava nomeado pela Hyundai para pontuar para o Mundial de Construtores mas também voltou a ficar algo aquém de Neuville em termos de andamento puro. O evento foi um dos piores do ano para a Citroën, que ficou sem Kris Meeke após mais um excesso do norte-irlandês, que capotou violentamente na PE12. Meeke, que tinha vencido em Portugal em 2016, era nessa altura o segundo melhor piloto da Citroën, atrás do regressado Mads Ostberg, que terminaria em sexto e na frente de Craig Breen, que no final seria sétimo. Ainda pior foi o desfecho final para Sébastien Ogier, com o pentacampeão do Mundo a sair de Portugal sem qualquer ponto. Depois do ligeiro erro que o colocou fora de estrada na sexta-feira, o francês correu sem qualquer objetivo no sábado mas apostava em atacar na Power Stage. Só que Ogier não conseguiu terminar esse troço de Fafe nos cinco mais rápidos. Contas feitos, o francês tem agora uma desvantagem de 19 pontos para Neuville no campeonato, mas sabendo que o belga terá de abrir a estrada no Rali de Itália – Sardenha, de 7 a 10 de junho. Para além disso, a M-Sport utilizou uma ‘brecha’ no regulamento, com o francês a ‘desistir’ na ligação, podendo dessa forma utilizar um motor novo em Itália.

Rali da Sardenha

Para além do despedimento de Kris Meeke da Citroën, não haviam muitas novidades no arranque do Rali Itália Sardenha: as estradas eram na maioria as mesmas dos últimos anos com a Power Stage a utilizar partes do troço usado no Shakedown e a terminar na praia junto ao Mediterrâneo. Não havia especiais ultralongas (a maior eram os 37 km de Monti di Ala) e a prova estava baseada no porto de Alghero, onde es- tava, também, o parque de assistências. Esperava-se uma prova complicada com pisos duros e cheios de pedras com estradas estreitas que não costumam perdoar. Um rali que desafiava os pilotos a encontrar um ritmo que não os fizesse perder demasiado tempo, mas que evitasse os furos. Curiosamente, depois da polémica instalada com as chicanes nas superespeciais, o Rali Itália Sardenha não tinha qualquer chicane.

Ao contrário do que tinha sucedido em Portugal, esta sétima prova do Mundial de Ralis não contava para o Campeona- to Nacional de Ralis e por isso a lista de inscritos tinha apenas 50 carros, entre eles 16 WRC e 21 R5, com destaque para o reaparecimento de Martin Prokop – ausente do Mundial desde o Rali da Sardenha do ano passado – e a inscrição de alguns “gentleman drivers” com WRC da geração anterior como o Ford Fiesta WRC e o Citroën DS3 WRC. Da lista de inscritos, destaque, ainda, para o piloto de desenvolvimento dos pneus indianos MRF (que estão homologados para o WRC2 a partir de 2019), o indiano Gaurav Gill ao volante de um Ford Fiesta R5. Ele que fazia a sua primeira prova do Mundial desde o Rali de Portugal de 2009. A MRF será a quarta marca de pneus a surgir no Mundial de Ralis, juntando-se a Michelin, Pirelli e D-Mack.

No rali em que o navegador de Jari-Matti Latvala, Mikka Anttila, cumpria o seu rali número 200 no Mundial, acreditava-se que Thierry Neuville conhecesse sérias dificuldades nas empoeiradas, abrasivas e duras estradas de terra do Rali da Sardenha, pois iria abrir a estrada. Porém, a chuva veio ajudar o belga que viu, assim, mitigada alguma da desvantagem por ser o primeiro a passar.

A prova começou com pisos húmidos pelo que a escolha de pneus foi simples: macios para todos, mesmo que as pedras fossem enorme preocupação, como dizia Latvala: “são tantas que nos reconhecimentos cheguei a parar para afastar dois pares de enormes rochas!”

A superespecial de Ittiri Arena foi um aperitivo para o que viria nos três dias seguintes, com Sebastien Ogier a ser o mais rápido nos dois quilómetros da especial. Mas por uma margem de apenas 0,1 segundos para Andreas Mikkelson. Estava dado o mote para uma prova animada, onde Sebastien Ogier queria dar o troco a Neuville, depois de dois ralis menos con- seguidos e que, pela primeira vez desde 2012, não tinha o seu nome a encimar a tabela da classificação do campeonato.

O primeiro dia de prova, a sério, viu alguns pilotos sofrerem contratempos. Se Ogier começou cautelosamente, respeitando estradas enlameadas pela chuva forte que caiu no dia anterior, Mikkelson entrou ao ataque, tal com o Mads Ostberg, ’obrigado’ a mostrar serviço a Pierre Budar, o patrão da Citroën Sport. Para felicidade de Thierry Neuville, abrir a estrada com estas condições não era tão problemático como pensava e estava na luta pela primeira posição. Já na Toyota, as coisas estavam complicadas. Latvala e Tänak queixavam-se do Yaris, Lappi dizia raios e coriscos da… estrada! Mais tarde descobriu que um furo lento era a causa para o seu desespero.

Mais adiante, era Teemu Suninen a es- tragar a aerodinâmica do Fiesta e a sentir dificuldades com o equilíbrio do Ford. Pior para Elfyn Evans! Acertou em cheio numa pedra em plena contrabrecagem e a di- reção não resistiu. O piloto galês deixou a luta pelos primeiros lugares ao depositar na berma da estrada quase um quarto de hora para reparar o Fiesta.

A chuva principiava a ‘brincar’ com os concorrentes e começavam a surgir as queixas dos pilotos. No campo da Citroën, ambos os pilotos queixavam-se do acerto do C3 WRC e, para piorar as coisas, escolheram pneus duros. Esapekka Lappi era o único Toyota sem problemas, enquanto que na Ford era Ogier o único a acompanhar os i20 Coupe WRC de Mikkelson e Neuville.

Como dizia na altura Malcolm Wilson, Sébastien Ogier andou a reconhecer as especiais com pisos enlameados e quando a chuva regressou, à tarde, o francês foi quem melhor lidou com a situação. Porém, uma sequência de acontecimen- tos ajudaram o cinco vezes campeão do Mundo: primeiro esteve intratável logo no primeiro troço da tarde e trepou para primeiro depois de oferecer 12,2 segundos a Lappi; depois viu Mikkelson conhecer problemas de transmissão que o atrasaram e obrigaram mesmo a abandonar; finalmente, assistiu à quase eliminação de Neuville quando este alargou uma trajetória e arrancou, literalmente, a asa traseira do Hyundai i20 Coupe WRC. Logo de seguida falhou um cruzamento e num ápice terminou o dia a 18,9 segundos de Ogier. No campo da Toyota, continuavam os problemas, com Ott Tänak a levantar voo e a cair descontrolado, causando danos suficientes para mais um abandono. Felizmente que desta feita sem ser terminal – regressou no dia seguinte em Rally 2. Nesse mesmo salto, Latvala quase cometia o mesmo erro, mas acabou por sair sem problemas. Destaque, ainda, para o despiste de Teemu Suninen – saiu da trajetória, bateu numa rocha e saiu disparado para o meio da vegetação e de lá já não saiu sem ajuda de um reboque. Também ele regressou em Rally2.

Depois do erro do dia anterior, Neuville tinha uma missão: apanhar Sébastien Ogier. E a verdade é que a pressão sobre o campeão do Mundo foi fazendo estragos e Ogier chegou mesmo a deixar o motor ir abaixo no arranque de uma das classificativas do dia, jogando pela janela mais dois segundos, numa altura em que Neuville já estava a menos de três segundos de Ogier. O francês acabou por ver a estrelinha dos campeões dar-lhe um segundo fôlego quando Neuville piscou os olhos e bateu numa pedra, gerando um furo que o atrasou e colocou a diferença em 6,8 segundos.

Mas não se deixou desmoralizar o piloto da Hyundai Motorsport que à entrada da penúltima classificativa do dia já tinha recuperado 2,5 segundos. Até final do dia, o belga conseguiu encolher a desvantagem para Ogier até aos 3,9 segundos. Ficava em perspetiva um último dia de competição de cortar a respiração! Entretanto, Jari-Matti Latvala entretinha-se numa luta muito interessante com o seu colega de equipa Esapekka Lappi: começaram o dia separados por 4,4 segundos, a meio essa diferença era de 4,9 segundos e terminaram a etapa com 5,3 segundos de diferença, com vantagem para Latvala face a Lappi. Infelizmente, o alternador não quis colaborar e o Yaris de Latvala foi forçado ao abandono na ligação para o parque de assistência.

A emoção vivida nos últimos quatro troços do Rali Itália Sardenha merece que relatemos, troço a troço, a luta entre estes dois verdadeiros campeões. A etapa era composta pela dupla passagem por Cala Flumini (14,06 km) e por Sassari – Argentiera (6,96 km) sendo que esta última seria a Power Stage.

Na primeira classificativa do dia, Thierry Neuville ganhou 0,8 segundos a Ogier, voltando a ganhar tempo no segundo troço do dia, no caso mais 1,8 segundos. A diferença entre os dois ficava em 1,3 segundos. No penúltimo troço, a segunda passagem pelos 14,06 quilómetros de Cala Flumini, Neuville e Ogier deram um fabuloso espetáculo, ficando separados por 0,5 segundos na classificativa e com o piloto da M-Sport Ford com a liderança pendurada por 0,8 segundos!

A tensão era tão forte que Sébastien Ogier não falou aos jornalistas no final desta classificativa e, pior que isso, arrancou sem que Julien Ingrassia tivesse recolhido a sua carta de controlo. Inexplicavelmente, Ogier não voltou atrás e foi o navegador de Ott Tänak quem trouxe até Ingrassia a carta de controlo. Escusado será dizer que Ogier acabou multado em 10 mil euros, mas a penalização de perda de pontos ficou suspensa. Foi neste clima que os dois candidatos à vitória entraram para os derradeiros 6,96 km de Sassari – Argentiera. Mesmo cometendo um ligeiro erro – que o fez andar em duas rodas! – Neuville esteve imparável e no final do troço ganhava 1,5 segundos a Sébastien Ogier e o rali por meros 0,7 segundos, exatamente o mesmo que ele tinha feito no Rali da Argentina a Elfyn Evans! Uma vitória muito saborosa porque foi alcançada na luta direta com Ogier e porque com a vitória na Power Stage conquistou 30 pontos e está agora com a liderança reforçada.

Foi o final épico de uma grande prova, que Ogier reconheceu ao dizer: “Nunca é bom perder no último troço, mas foi uma luta intensa e não posso estar insatisfeito com aquilo que fizemos no fim de semana. Tentei tudo, corri riscos, mas nunca estive preparado para correr tantos riscos como o Thierry neste fim de semana. Eu bem vi as suas trajetórias… Estou feliz porque vêm ai mais seis provas e em algumas delas não estarei a abrir a estrada. Tenho um belo desafio pela frente (ndr.: recuperar os 27 pontos de atraso para Neuville) mas aceito-o de boa vontade!”

Rali da Finlândia

Se este Rali da Finlândia for o espelho do que está aí para vir no WRC, então preparem-se, meus amigos, porque se a competição já estava interessante, vai ficar bem melhor. Tudo porque até aqui a correlação de forças era mais ou menos previsível, e só aqui e ali havia quem se intrometes- se na luta entre os dois melhores classificados no campeonato. Mas se já era esperado que a Toyota estivesse muito bem na Finlândia (tinha lá vencido o ano passado) não se contava com uma Citroën tão forte, e sem o azar inicial de Craig Breen, poderia ter conseguido também outro resultado.

Portanto, se a Toyota deixar de ser tão irregular e com a Citroën revitalizada, a luta pelo Mundial de Construtores ganha outro relevo, e a do Mundial de Pilotos vai ficar ainda mais interessante, pois a partir daqui nada garante a Thierry Neuville e a Sébastien Ogier que possam andar na frente por ‘decreto’.

Faltam cinco provas, e se na Alemanha parece claro que os protagonistas serão Neuville e Ogier, agora já não nos admirávamos tanto se a Citroën e a Toyota se misturassem na luta. E depois surgem os ralis de terra. Por isso, até ao fim do campeonato, a animação está garantida e neste momento é quase impossível antever o próximo Campeão. Que até pode ser Ott Tanak, se replicasse o que fez na Finlândia.

O estónio liderou em todas exceto seis especiais, acabando por bater Mads Ostberg num Citroën C3 WRC revitalizado. O norueguês susteve depois a pressão de Jari-Matti Latvala, que realizou também uma boa prova, dando sinais de ‘vida’. Como será nas restantes?

De resto, foi um evento quase desastroso para as duas mais pontuadas equipas do WRC. Na Hyundai, Neuville e Mikkelsen saíram de estrada, na M-Sport, Ogier desentendeu-se com as evoluções aerodinâmicas do carro. Entre ambas, só Ogier conseguiu vencer um troço, uma super especial de piso misto. Para que se perceba a confiança de Ott Tanak, depois duma prova fabulosa, quer durante a luta com Mads Ostberg no primeiro dia, quer depois disso a destacar-se e a gerir, ainda venceu a PowerStage. Enquanto muitos pilotos que chegam ao último troço tiram o pé para assegurar que terminam, Tanak nem pestanejou para vencer e convencer.

Foi também grande a luta pelo segundo lugar entre Ostberg e Latvala, com o piloto da Citroën a manter atrás de si o finlandês, apesar da recuperação deste. Quando foi preciso, Ostberg reagiu e no final assegurou um segundo lugar muito saboroso, para si e especialmente para a equipa. Foi também segundo na PowerStage, o que significa que somou mais quatro pontos, conseguindo quase tantos neste rali quanto nas três provas que já fez este ano com a Citroën. Terceiro lugar para Latvala, que fez um bom rali, recuperando, sem exageros, tempo aos seus adversários, exceção feita a Tanak. Foi pressionando Ostberg e chegou ao último troço a 2.5s deste, mas já não conseguiu bater o norueguês. Ainda assim, repetiu o terceiro lugar do Rali de Monte Carlo, até aqui o seu melhor resultado do ano. Tem passado por momentos difíceis este ano, aproveitou o seu rali ‘caseiro’ para ganhar confiança, mas vamos ver daqui para a frente se melhora.

Boa prova de Hayden Paddon, que foi quarto, dando mais um sinal de que está a voltar ao nível de piloto que já mostrou ser. Está recuperado psicologicamente da tragédia que o assolou e cada vez mais a mostrar o que vale como piloto. Em Portugal, bateu quando liderava, mas nas restantes provas que fez foi muito regular.

Sébastien Ogier terminou na quinta posição, depois duma penalização de Teemu Suninen. A M-Sport não desperdiçou dois pontos para Ogier, que bem podem fazer-lhe falta nas contas finais. O francês estreou uma nova aerodinâmica no seu carro, mas nunca teve confiança para andar mais depressa. Esperava andar nas lutas mais à frente, mas a ordem na estrada do primeiro dia não permitiu melhor do que terminar a sexta feira em sexto já a um minuto do líder. Recuperou um pouco no segundo dia, mas não muito. No global, reduziu a margem no campeonato para Neuville em seis pontos.

Um pequeno erro, na Finlândia, costuma ter grandes consequências, e foi isso que sucedeu a Esapekka Lappi, que depois de começar a prova com um pião na PE2 que o atirou para a 10a posição, a 33.2s da frente, foi recuperando, e era quarto no final do penúltimo dia. Ironicamente, abandonou quando estava a 36.2s de Latvala e sem hipóteses de lá chegar, tendo já ultrapassado Paddon. Elfyn Evans foi sétimo na frente de Craig Breen. O primeiro cedo percebeu que só conseguiria andar entre o 7º e o 9º lugar e por aí se manteve, enquanto o piloto da Citroën mostrou bem mais velocidade, venceu um troço, foi segundo noutro, mas o furo da PE2 fê-lo perder 47.8s e com isso qualquer hipótese de um bom resultado. Seguiu-se Thierry Neuville, nono. Abrir a estrada foi-lhe muito difícil e cedo percebeu que não iria fazer um bom resultado. Atenuou como pôde as perdas.

 

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