Europeu de Ralis: do auge à sombra do WRC
Foi lenta perda de protagonismo do Campeonato Europeu de Ralis, mas a competição foi durante muito tempo destino ‘certo’ das marcas e dos campeões. A tradição resiste, mas já não lidera e das memórias de glória, agora restam os desafios da atualidade. Entre a história, a renovação e a perda de influência, recordamos o que tem sido o percurso do Europeu de Ralis, mais centrado no século XXI.
O Campeonato Europeu de Ralis (ERC) foi, durante várias décadas, o ex-líbris da modalidade no velho continente, atraindo as principais marcas e pilotos graças à sua enorme notoriedade, desafio técnico e estatuto internacional. Era o palco onde se faziam as grandes estrelas dos ralis e onde as equipas oficiais de fábrica apostavam boa parte dos seus recursos e talento.
Contudo, com o surgimento e crescimento do Mundial de Ralis (WRC) a partir de 1973, e sobretudo com o seu estatuto global e mediático, o ERC perdeu preponderância, tornando-se progressivamente uma competição de segundo plano para construtores e estrelas da modalidade.
A criação de diferentes categorias mundiais, como WRC2, reforçou ainda mais esta sombra mediática e desportiva: as marcas e pilotos mais influentes passaram a focar todos os esforços no WRC e respetivas categorias de suporte, tanto pela exposição mediática como pelo nível técnico e financeiro.
Na última década e meia, apesar dos esforços de modernização (redução e qualificação das provas, promotores dedicados e fusão com o IRC), o ERC não recuperou o prestígio do passado.
Tornou-se o espaço de afirmação para jovens promessas, privados e equipas semi-oficiais, sem a força mediática ou desportiva para rivalizar com o WRC e o WRC2.
O Europeu de Ralis é hoje uma plataforma de acesso e visibilidade intermédia, mas raramente atrai, como antes, os grandes nomes e marcas históricas, que quase sempre privilegiam o palco global dos campeonatos mundiais.

História do Campeonato Europeu de Ralis
O Campeonato Europeu de Ralis (ERC) é a mais antiga competição supranacional de ralis do mundo, organizado anualmente desde 1953 pela Federação Internacional do Automóvel (FIA). Tendo passado por várias fases ao longo das suas sete décadas, o ERC apresenta hoje uma combinação única de tradição e capacidade de se reinventar, mantendo-se como referência no desporto motorizado europeu.
Origens e evolução do ERC
O ERC foi criado em 1953 e, rapidamente, afirmou-se como o campeonato inaugural de topo na disciplina dos ralis, alternando eventos em asfalto e terra por diferentes países europeus. O surgimento do Campeonato do Mundo de Ralis (WRC) em 1973, e sobretudo o título mundial de pilotos a partir de 1979, fez com que o ERC perdesse algum protagonismo, mas continuou a ser uma plataforma de excelência para equipas e pilotos que ambicionavam afirmar-se internacionalmente.
Durante várias décadas, um calendário típico do ERC era vasto, com cerca de 40 ralis distintas por temporada. A complexidade da atribuição de coeficientes aos ralis (multiplicadores de pontos) tornou a classificação menos clara. Só em 2004 o regulamento foi simplificado, passando o campeonato a incluir apenas um grupo restrito das provas de maior coeficiente, com cerca de 10 a 12 ralis por ano, adquirindo maior clareza e identidade competitiva.
Entre 2007 e 2011, a FIA introduziu a obrigatoriedade de inscrição para pontuar, garantindo que os pilotos que apostavam no campeonato tivessem visibilidade e envolvimento sequencial. De 2013 a 2021, a promoção do ERC passou para a Eurosport, sendo posteriormente assumida pela WRC Promoter GmbH em 2022, num reforço do seu posicionamento internacional.

Desenvolvimento recente e importância atual
Com a fusão com o Intercontinental Rally Challenge em 2013, o ERC entrou numa nova era de visibilidade mediática e competitiva, consolidando-se como palco de estreia ou afirmação de muitos dos melhores talentos europeus.
A sensação que ficou da sua frutuosa ligação ao Eurosport é que a FIA receou a ‘sombra’ que o IRC estava a fazer ao WRC, e foi esvaziando aos poucos o ‘balão’.
Hoje em dia, o ERC é uma espécie de 3ª divisão internacional dos ralis, mas se o atual Promotor já tentou dar-lhe mais ‘tração’, a verdade é que esse mesmo promotor, que agora está de saída, não conseguiu manter o WRC onde devia estar, e portanto, muito menos fez pelo WRC.
A verdade é que o ERC continua interessante, não tanto pela tradição ou modernidade, mas por continuar a oferecer boas provas em diversas superfícies, desafios técnicos significativos, cenários icónicos, o que é vital para a cultura dos ralis na Europa, e também, claro, a ser um palco que permite o surgimento de jovens para os ralis, quando estes não têm orçamentos para o WRC.
Talvez com as mudanças que se aguardam para o Mundial de Ralis, o ERC beneficie a médio prazo.
Palmarés do ERC

Marcas mais tituladas no ERC
De acordo com o palmarés histórico, Lancia é a marca mais bem-sucedida do Campeonato Europeu de Ralis, com 15 títulos. Seguem-se Ford e Fiat, ambas com 8 títulos, e ainda Porsche, com 7 triunfos. Škoda soma 6 conquistas, mantendo-se também entre as referências do Europeu de Ralis.

Portugueses: brilho ‘cíclico’
O último piloto a surgir em lugares de maior relevância no Europeu de Ralis foi Armindo Araújo em 2022, e mesmo assim no 11º lugar do campeonato, muito fruto da competição ter tido duas provas portuguesas no calendário, Fafe e Açores, sendo que nesse ano tivemos Armindo Araújo no segundo lugar do Serras de Fafe e Ricardo Moura em segundo nos Açores, mas uns anos antes, Bruno Magalhães lutou dois anos seguidos, 2017 e 2018 pelo título até final. Depois de em 2014 ter sido 8º do campeonato fazendo apenas 7 das 11 provas, em 2017, Bruno Magalhães teve uma programa bastante bem delineado, com a ARC Sport e foi segundo do campeonato levando a luta pelo título até ao último rali, na Letónia, perdendo o campeonato para Kajto Kajetanowicz.
No ano seguinte, 2018, Bruno Magalhães e a ARC Sport voltaram a tentar, sempre com o Skoda Fabia R5, e foram terceiros do campeonato com uma vitória, sem ter ido às duas últimas provas, ficando atrás de Alexey Lukyanuk e Nikolay Gryazin.
Antes disso, seria necessário remontar a 2003 quando Miguel Campos (Peugeot) terminou o ano empatado em pontos com o Campeão Bruno Thiry (Peugeot) depois de vencer quatro provas, ou 2001 quando Adruzilo Lopes (Peugeot) foi igualmente vice-campeão atrás de Armim Kremer (Toyota).
O Europeu de Ralis continua a ser uma competição bem interessante, com boas provas que ‘sobem’ e ‘descem’ do WRC fruto do Promotor conjunto, e é pena que não tenhamos tudo pilotos portugueses na luta pela competição nestes últimos anos, mas tendo em conta o atual momento do CPR, talvez em breve isso mude…

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6 Outubro, 2025 at 9:08
Lembro-me do Rallye do Algarve quando contava para o Europeu…