Rali do Alto Tâmega 1990: Quando a Guerra do Golfo antecipou o fim da Diabolique

Por a 26 Julho 2020 13:51

O Rali Alto Tâmega, que entre 1983 e 1992 fez parte, ininterruptamente, do Campeonato de Portugal, foi palco de um marco histórico: a última prova da equipa Diabolique… antes do adeus. Estávamos em setembro de 1990 e a equipa portuense estreava o novíssimo Ford Sierra Cosworth 4X4 no rali transmontano. A Guerra do Golfo eclodira no mês anterior, criando alguma instabilidade a nível mundial, e acabou por contribuir para o final da equipa mais vitoriosa de sempre dos ralis portugueses.

A dupla Joaquim Santos/Miguel Oliveira trocava o “velho” Sierra RS Cosworth de duas rodas motrizes pelo novíssimo Sierra 4×4, a última arma da Ford no Mundial, para a penúltima prova da temporada, na tentativa de contrariar o domínio de Carlos Bica e do Lancia Delta Integrale 16V. A Diabolique entra nesse Rali Alto Tâmega com o pé direito, já que Santos foi o mais rápido no primeiro troço, mas logo a seguir uma saída de estrada coloca-o fora da luta pela vitória, ao perder quase um minuto. De resto, a competitividade do Sierra 4X4 face ao Lancia também não impressionara em demasia o patrão da equipa.

Joaquim Santos concluiu o rali na quarta posição, a 1m27s do vencedor Carlos Bica, que festejou em Vidago a conquista do “tri”, ao bater António Coutinho (Toyota Celica GT-4) por 41 segundos.

“Ainda antes do Rali Alto Tâmega, o Udo Kruse, administrador da Ford Lusitana, a propósito da Guerra do Golfo, confidenciou ao Miguel Oliveira que, face aos efeitos da instabilidade económica resultante daquele conflito, não tinha a certeza se tanto a Ford [norte-americana] como a Castrol [inglesa], duas empresas oriundas de países bastante comprometidos com aquela situação de guerra no Médio Oriente, continuariam a apoiar a Diabolique no ano seguinte. Com o campeonato decidido no fim do rali transmontano, o doutor decidiu que já não iríamos à última prova, no Algarve, e pouco depois entendeu avançar para a extinção da equipa”, recorda Joaquim Santos, ainda hoje o piloto com maior número de vitórias em ralis do campeonato principal: 39.

Embora preferisse os pisos de terra, Joaquim Santos confessa que se sentiu sempre como peixe na água nas classificativas de asfalto do Rali Alto Tâmega: “Basta ver que sou o piloto com maior número de vitórias, para se entender que sempre gostei do rali transmontano. Lembro-me, até, de um ano ter vencido por uma diferença muito pequena, 1 ou 2 segundos. O último troço era o de Boticas e eu tinha apenas um 1 segundo de vantagem para o adversário com quem discutia a vitória, julgo que um dos pilotos da Renault, Inverno Amaral ou Manuel Mello Breyner. Chovia copiosamente e eu lá me ia ‘segurando’ nas bermas, sempre na expetativa de que algo pudesse correr mal. Mas valeu a pena arriscar daquela maneira, pois vencei o rali”, contou-nos o piloto de Penafiel, sobre o momento “quente” e decisivo ocorrido na edição de 1987, quando bateu Manuel Mello Breyner, então no Renault 11 Turbo da equipa Renault Galp, por… 2 segundos.

Ao fim de 28 anos, o Rali do Alto Tâmega regressou, pela mão do CAMI Motorsport, ao Campeonato de Portugal de Ralis, onde anda se mantém.

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