Rali Casino da Póvoa 2006: Mais neve que o Monte Carlo deste ano…


Um martírio para os pilotos, uma frustração para o público, o cabo dos trabalhos para os organizadores. De forma muito resumida, assim foi uma das mais conturbadas edições de sempre do Casino da Póvoa Rali. Encurtada em mais de metade da sua quilometragem, em boa parte devido ao mau tempo, a prova que abriu o Nacional de Ralis 2006 foi realmente atípica na forma como se desenrolou, mas de certa forma previsível no modo como voltou a consagrar Armindo Araújo … pela quarta vez consecutiva!

Marcada pelas adversas condições climatéricas em que se desenrolou, a prova inaugural do campeonato de 2006 viu o seu percurso cronometrado reduzido para menos de metade, consequência da anulação de duas especiais e a neutralização de duas outras – das sete inicialmente previstas. Mais do que a chuva ou até a lama, seria a neve a deixar alguns dos troços verdadeiramente impraticáveis, nomeadamente os que trilhavam o alto da serra da Cabreira – desde a tarde de sexta-feira coberta por um imenso manto branco. Apesar da beleza do cenário, sobretudo quando observado do centro de Vieira do Minho, cedo se percebeu que este não era o fim-de-semana ideal para se disputar um rali, pontuasse ele para o Nacional ou apenas para o Regional da especialidade.

Mas tomada a decisão de dar a partida na Póvoa de Varzim, na noite de sexta-feira, a organização não mais quis atirar a “toalha ao chão”, enfrentando a partir daí um conjunto de situações que exigiram resposta rápida, firme e coerente, mesmo se em algumas situações não nos parece que tenha enveredado pelo caminho mais seguro – como quando insistiu na realização da segunda passagem pela especial de Salamonde/Agra. No global, dir-se-ia que soube sempre manter a “cabeça fria” e resistir a todas as adversidades, mesmo aquelas que aconteceram à margem da intempérie, como foi o caso das duas neutralizações atribuídas em “Guilhofrei”. De qualquer forma, o efeito “bola de neve” que se despoletou a partir da anulação da primeira especial de sábado foi inevitável, acabando a maioria dos concorrentes por andar um pouco ao “sabor do vento” durante toda a segunda etapa, sempre na incerteza do que viria a seguir.

Sem surpresa, as críticas dirigidas à organização não se fizeram esperar no final, muitas delas em torno da segurança – questão sempre pertinente e impossível de contornar. De resto, é impossível esquecer que das 51 equipas que terminaram classificadas, 41 tiveram oportunidade de cumprir apenas 17,44 de percurso cronometrado em condições ditas normais… quando à partida estavam previstos quase 114! A única parte positiva é que realmente não houve nenhum acidente grave a lamentar.

Das sete classificativas inicialmente propostas pelo Targa Clube, apenas três se realizaram em condições normais por todo o pelotão: a super-especial da Avenida do Mar, na noite de sexta-feira, e a dupla passagem pela especial de “Anissó”, precisamente a mais curta da segunda etapa, com apenas 7,82 km

cronometrados. Devido ao espesso manto de neve que cobria grande parte da serra da Cabreira, logo pela manhã, a organização viu-se forçada a anular a primeira passagem pelo troço de maior extensão, “Salamonde/Agra” (32,5 km). Apesar do esforço que ainda foi feito na recuperação de algumas das zonas mais problemáticas, a verdade é que também a segunda passagem por este troço seria anulada, não sem antes o carro “00” ficar atolado na neve, bloqueando o caminho a Armindo Araújo, Miguel Campos e Fernando Peres, os únicos a quem chegou a ser dada a partida desta quinta Prova Especial. As outras surpresas desagradáveis ficaram reservadas para a classificativa de “Guilhofrei” (15,95 km), por duas vezes neutralizada pela organização: primeiro quando Pedro Leal ficou sem transmissão no seu Fiat Stilo, bloqueando a passagem a todos os que atrás dele seguiam; e depois quando Fernando Peres abriu a direcção do seu Mitsubishi Lancer, após o toque numa pedra, também ele ficando a impedir a passagem dos restantes concorrentes.

Contas feitas, dos 113,84 km inicialmente previstos, o Casino da Póvoa Rali viu disputarem-se apenas 49,34, portanto, menos de metade do percurso cronometrado, mas o mínimo indispensável (25 %) para que a prova pontuasse para o campeonato.O irónico da situação é pensarmos que, por força de todas as situações atrás descritas, apenas Armindo Araújo e Miguel Campos realizaram esta quilometragem em situação de corrida. Por seu turno, oito pilotos cumpriram um total de 33,39 km, enquanto as restantes 41 equipas classificadas regressaram a casa apenas com 17,44 km cumpridos em condições normais. Atípico é pouco…