Há 10 anos: O Campeonato de Portugal dos Pequeninos!


Não foi em Coimbra, mas no Algarve que há 10 anos o CPR 2011 encerrou para balanço… forçosamente negativo! Quando um concorrente do Regional Sul vence o último rali do ano à geral com dois minutos de diferença sobre o mais rápido do CPR, algo está mal. E estava mesmo. Recordemos a história…

Já nem o epíteto de ‘poucos, mas bons’ salvava o Campeonato de Portugal de Ralis. Com o abandono das marcas, dois anos antes, a crise a entranhar-se também no tecido dos ralis e a política federativa liberalista do ‘laissez faire, laissez passer’ não restavam dúvidas que aquele que no início do século XXI era ainda um exemplo de vitalidade, padecia nessa altura de vigorosa saúde e, pior, parecia estar prisioneiro duma espécie de mobilidade mórbida.

O CPR já não caminhava por si só. Simplesmente, se arrastava. Os ‘quilos de gordura’ que lhe prendiam os movimentos não apareceram de um dia para o outro, mas foram antes o resultado de erros acumulados durante anos. Porque é que o CPR chegou à última prova com apenas 10 concorrentes, um número, de resto, não largamente inferior, ou das restantes provas do ‘Nacional’?

Porque é que o Parque de Assistência do Rali Casinos do Algarve tinha um aspeto desolador, ‘meia dúzia’ de espetadores e nem um sinal da palavra ‘promoção’?

Como se chegou ao ponto de um rali ter dois vencedores diferentes e de haver uma diferença de 550 € nas inscrições entre os concorrentes do CPR (1100 €) e da Taça de Portugal de Ralis ou do Campeonato Regional de Ralis Sul (550 €) para cumprir as mesmíssimas classificativas?

Estas e muitas outras questões foram levantadas na altura por quem geria os destinos dos ralis em Portugal e por todos os que ajudaram à sua morte lenta e lhe roubaram toda a sua dignidade. Mas uma coisa parecia ser certa: enquanto não houvesse visão para criar um campeonato acessível, o CPR iria continuar a afundar-se em areias movediças até desaparecer totalmente.

Felizmente, a FIA não andava longe de tirar um coelho da cartola depois dos S2000, viriam os R5, que a pouco e pouco, na direta proporcionalidade que a crise vinda da América do Norte ia desaparecendo, os ralis do ‘nacional’ foram melhorando a cada ano que passava, até se tornarem em algo completamente diferente.

Hoje, após dois anos de pandemia, os alicerces tremeram, mas não caíram e agora só há que tomar boas decisões e

Teodósio e Meireles repartem louros

Nessa prova, para além da pálida imagem do que era nessa altura a ‘Primeira Liga’ dos ralis nacionais, o Rali Casinos do Algarve teve história. Uma história, estranhamente, contada em dois atos ou, por outras palavras, com a originalidade, de ter dois vencedores diferentes. Em termos absolutos, Ricardo Teodósio e João Luz, serviram-se do seu habitual tratado de rapidez nas especiais algarvias que tão bem conhecem para levar um teoricamente desatualizado Mitsubishi Lancer Evo IV à vitória, enquanto que Pedro Meireles e Mário Castro passearam no CPR, assegurando o seu segundo triunfo do ano, num mais recente Mitsubishi Lancer Evo X. Entre os dois vencedores ficaram 2m10s de diferença, o suficiente para condenar desportivamente o interesse da luta pela vitória e para deixar confusos os adeptos dos ralis que, por certo, terão dificuldade em perceber porque é que um concorrente do Regional Sul, bateu um dos principais protagonistas do CPR.

Em termos práticos, o triunfo de Teodósio (que venceu também a TPR e o CRRS) não mereceu qualquer contestação já que o seu Lancer Evo IV (as ‘más línguas’ dizem que ‘travestido’ de Evo X) chegou e sobrou para toda a concorrência, vencendo confortavelmente as oito especiais e, sendo, em média, mais rápido um segundo por quilómetro que o segundo classificado Pedro Meireles.

Contudo e para que justiça seja feita em relação o piloto do Lancer mais recente, também será preciso dizer que Meireles teve como principal preocupação vencer a prova do CPR, resistindo à tentação de partir em busca de Teodósio, o que, automaticamente, colocaria em risco os 25 pontos da vitória que tanto jeito lhe deram para assegurar o último degrau do pódio, em termos de campeonato.

Ainda assim, um furo na última especial do rali, ia pregando uma partida a Meireles, que perdeu grande parte da margem conquistada ao longo das oito especiais para João Silva (o vencedor entre o CPR 2L/2RM e novo campeão da categoria). O piloto do Renault Clio R3 obteve a sua melhor classificação de sempre no CPR (2º) depois de mais um interessante duelo com Ivo Nogueira cujo Citroën DS3 R3T acusou parte fraca ao nível dos travões já na fase final da prova e lhe transformou o segundo lugar (do CPR e vitória no CPR2) e num bem mais amargo quarto lugar.

Entre as duas jovens esperanças dos ralis nacionais, da altura, ficaram Vítor Pascoal (4º absoluto e 3º do CPR) e Renato Pita (5º absoluto e 2º TPR). Mas se o piloto a quem não faltava experiência no escalão máximo dos ralis nacionais se viu prejudicado por algumas limitações técnicas no Lancer Evo VIII (só tinha os diferenciais de série) que acabaram também por limitar a sua confiança sobretudo com os pisos molhados, já Renato Pita realizou tempos interessantes com um Lancer Evo VII, provando que está apto para dar o salto para o CPR depois de ter conquistado o vice-campeonato da TPR e do Open.

CLASSIFICAÇÃO Rali Casinos do Algarve

Elegibilidade: CPR (8/8), CPR2 (6/6), TRP (6/6), CRRS (5/6) Concorrentes à partida: 10 (+ 27) Concorrentes à chegada: 10 (+ 12)

CL. PILOTO/NAVEGADOR CARRO TEMPO/DIF.

1º Ricardo Teodósio/João Luz Mitsubishi Lancer Evo IV (1º TNR e CRRS) 1h11m54,6s

2º Pedro Meireles/Mário Castro Mitsubishi Lancer Evo X (1º CPR) a 2m10,2s

3º João Silva/José Janela Renault Clio R3 (1º CPR2) a 2m47,4s

4º Vítor Pascoal/Luís Ramalho Mitsubishi Lancer Evo VIII a 3m05,8s

5º Renato Pita/Jorge Carvalho Mitsubishi Lancer Evo VII a 4m01,0s

6º Ivo Nogueira/Vítor Hugo Citroën DS3 R3T a 5m01,5s

7º Paulo Neto/Daniel Amaral Citroën DS3 R3T a 5m36,6s

8º Márcio Marreiros/Pedro Conde Mitsubishi Lancer Evo VI a 6m11,2s

9º Miguel Barbosa/António Costa Mitsubishi Lancer Evo IX a 8m02,8s

10º Hugo Mesquita/Nuno R. Silva Renault Clio R3 a 8m14,2s

(11º Júlio Bastos/Aníbal Pereira (BMW M3), a 10m01,5s; 12º José C. Paté (BMW 325 IX), a 10m30,1s; 13º Nuno Venâncio/André Barras (BMW 325 IX), a 10m52,3s; 14º Ricardo Marques/Paulo Marques (Citroën C2 R2 Max), a12m13,4s; 15º Diogo Gago/Cristiano Queiroga (Peugeot 206 GTI), a 12,32,8s; 16º Vasco Tintim/Pedro Silva (Citroën Saxo Cup), a 15m35,9s; 17º José Coelho/Nuno Afonso (Opel Kadett GSI), a 16,11,9s; 18º Gil Antunes/Diogo Correia (Opel Astra GSI), a 17m36,6s; 19º Victor Calisto/Joaquim Batalha (Citroën Xsara 2.0 16v), a 19m58,5s; 20º Isabel Ramos/Rubina Gonçalves (Renault Clio R3), a 21m53s; 21º Nuno Carreira/Fernando Almeida (Opel Kadett GSI), a 30m21,6s; 22º José Rei/André Lopes (Citroën AX GT), a 41m32,9s).

Principais abandonos: L. Nunes (Após PE 2, avaria); L. Mota (PE 2, despiste); O. Nogueira (PE 8, despiste)

Vencedores de Especiais: Absoluto. – R. Teodósio (8); CPR – P. Meireles (6), J. Silva (1) e I. Nogueira (1)

Campeonatos

CPR – Absoluto: 1º R. Moura, 128 pontos; 2º V. Lopes, 96; 3º P. Meireles, 75; 4º V. Pascoal, 68; 5º J. Silva, 58; 6º I. Nogueira, 54; 7º P. Antunes, 37; 8º P. Peres, 33; 9º P. Neto, 32; 10º C. Oliveira, 23. CPR 2: 1º J. Silva, 126 pontos; 2º P. Antunes, 83; 3º P. Neto, 76; 4º I. Nogueira, 72; 5º H. Mesquita, 45; Turismo: 1º J. Silva, 91 pontos; 2º P. Neto, 78; 3º I. Nogueira, 71. Produção: 1º R. Moura, 107 pontos; 2º V. Lopes, 89; 3º V. Pascoal, 79. TPR: 1º J. Bastos, 73 pontos; 2º R. Pita, 68; 3º N. Almeida, 39.

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