Bjorn Waldegaard: O sueco voador


Ao longo dos tempos, sempre ouvi falar dos “Finlandeses Voadores”, quando o assunto eram os ralis. Acredito que os pilotos da Finlândia merecessem esse apoio e que o tivessem garantido através das acrobacias que naturalmente faziam ao longo das provas realizadas no seu país, em especial nos famosos 1000 Lagos. Certamente um nome errado, ou pelo menos enganoso – porque, a juntar aos mil lagos, essa prova tinha, isso sim, uns mil saltos! E terá sido de salto em salto que os pilotos de ralis finlandeses ganharam a fama de voadores.

Pois bem, hoje falamos de um piloto que não precisava nada dos saltos finlandeses para voar. O seu nome é Bjorn Waldegaard e, pela sua pilotagem exuberante, bem pode ser chamado de “Sueco Voador”. Foi graças a ele que muitos passaram a gostar de ralis – e foi também graças à sua inspirada técnica de derrapagem e de espetáculo ao volante que, mais tarde, adotei Henri Toivonen, praticante de uma técnica semelhante, como o meu (único) ídolo nos ralis.

O primeiro Campeão do Mundo

Bjorn Waldegaard nasceu numa cidadezinha com um nome curioso: Solna. Tinha apenas 18 anos quando se estreou, nas florestais do seu país, com um VW “Carocha”, depressa passando para o volante de um bem mais interessante Porsche, com o qual se foi divertindo, como privado, nos anos seguintes. E foi a Porsche a sua primeira “casa” oficial, em 1968, ganhando de imediato o Rali da Suécia.

No ano seguinte, consagrou-se no mítico Rali de Monte Carlo e, até conquistar o primeiro título de Campeão do Mundo de Ralis, em 1979 (primeiro ano do título de pilotos, 1977 e 1978 foi ainda Taça FIA de Pilotos), “Walle” assumiu-se com um piloto versátil, igualmente rápido e demolidor em qualquer tipo de piso, asfalto ou terra, mas especialmente virtuoso na neve. Senhor de uma enorme potência física e de um caráter orgulhoso, mantinha sempre uma calma glaciar nos momentos mais difíceis. A versatilidade de Bjorn Waldegaard levou-o mesmo a estender os seus interesses às provas de velocidade, como o Targa Florio, onde obteve um quinto lugar absoluto com um Porsche 908, em 1970.

Cinco anos mais tarde, foi contratado por Cesare Fiorio para pilotar o magnífico Lancia Stratos, dominando, com uma pilotagem de antologia, na neve da Suécia e ajudando a marca a conquistar o título mundial de construtores, façanha que repetiu em 1976. Porém, Waldegaard protagonizou no Sanremo desse ano um episódio que define bem a sua personalidade forte e competitiva: na frente da prova, com quatro segundos de vantagem sobre Sandro Munari à entrada para a última etapa, o sueco recebeu ordens para deixar passar o italiano, o que cumpriu. Porém, na derradeira classificativa desobedeceu às ordens recebidas e ultrapassou Munari, vencendo a prova. Em consequência, abandonou a Lancia e assinou pela Ford.

Logo em 1977, conquistou com o Escort três das principais provas de ralis de então: o Safari, o Acrópole e o RAC. Dois anos mais tarde, quando o título foi finalmente instituído, sagrou-se Campeão do Mundo, dividindo-se entre o leve e ágil Ford Escort e o poderoso Mercedes-Benz 500 SLC, com o qual bateu na derradeira prova do calendário, o Rali da Costa do Marfim, o seu principal rival, Hannu Mikkola, garantindo o cetro.

Em 1992, obviamente que durante mais um Safari, Waldegaard sofreu um violento acidente, partindo uma perna. Em consequência disso, decidiu que era altura para pendurar o capacete: tinha 48 anos e, ainda hoje, é dele o recorde de piloto mais velho a vencer uma prova do Mundial; adivinhe qual? O Safari, em 1990, aos 46 anos!

Questão de honra

No Sanremo de 76, a luta entre Munari e WaldegÃ¥rd estava ao rubro. O ambiente na Lancia era hostil e o seu diretor, Cesar Fiorio, decidiu intervir: na derradeira etapa, os dois pilotos deveriam abrandar e apenas na última PEC, partindo em igualdade de circunstâncias,  poderiam dar o tudo por tudo para chamar a si a vitória. Waldegaard chegou ao troço decisivo com 4s de vantagem e quando recebeu ordem de partida, esperou 4 s e só depois arrancou. Deste modo, e tal como combinado, partiria sem qualquer vantagem. Mesmo assim, igualou

o tempo de Munari no troço, vencendo a prova com quatro segundos de vantagem sobre o italiano.

Os números

Bjorn Waldegaard nunca perdeu a espetacularidade da sua pilotagem musculada. Dos 95 ralis pontuáveis para o Campeonato do Mundo, em que participou entre 1973 e 1992, ganhou 16. Waldegaard tornou-se o primeiro especialista nas picadas africanas, ao vencer o Safari, no Quénia, por quatro vezes (1977, 1984, 1986 e 1990) e o Costa do Marfim por três (1980, 1983 e 1986). Além disso, exibindo uma costela mundialista e manifestando que o “jet lag” não era com ele, ganhou também no Québec, em 1979, e na Nova Zelândia, em 1982. Hans Thorszellius foi sempre o seu navegador, até ser substituído, em 1986, por Fred Gallagher.

O piloto sueco estreou-se no Rali de Monte Carlo de 1973, realizou 95 ralis do WRC, o último dos quais o Safari de 1992. Obteve 16 vitórias e 35 pódios, sagrando-se Campeão do Mundo em 1979. Na sua carreira guiou carros tão díspares como o Fiat 124 Abarth Spider, Volkswagen 1303S, Porsche 911, BMW 2002, Toyota Celica, Opel Ascona, Lancia Stratos HF, Ford Escort RS1800, Mercedes Benz 450 SLC 5.0, Fiat 131 Abarth    Gr.4, Ferrari 308GTB, Toyota Celica Twincam Turbo, Toyota Supra 3.0i, Toyota Celica GT-4 (ST165) e Lancia Delta HF Integrale. Em boa parte da sua carreira, esteve ligado à Toyota. Bjorn Waldegaard é assim o primeiro duma lista de 15 campeões do mundo, desde que a competição se iniciou (Mundial de Pilotos) em 1979. Saí para cá, no topo dessa lista, não há dúvidas, sete título para Sébastien Loeb, Juha Kankkunen e Tommi Makinen, 4, Miki Biasion, Marcus Gronholm, Walter Rohrl e Carlos Sainz,2, Didier Auriol, Stig: Blomqvist, Richard: Burns, Colin McRae, Hannu: Mikkola, Timo: Salonen, PetteSolberg e Ari Vatanen, um cada.

Hélio Rodrigues

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