«Vamos dar o título ao Kimi?»

As contas do Mundial de fórmula 1 não são muito complicadas. Mesmo que Kimi Raikkonen ganhe as três corridas que faltam disputar este ano, bastam a Lewis Hamilton outros tantos terceiros lugares para terminar o Mundial na frente do finlandês; já Fernando Alonso, no mesmo cenário de vitórias finlandesas, necessita de um segundo e dois terceiros lugares para também garantir que bate o nórdico no final da temporada. Neste contexto, fica bem claro que, mesmo se a tarefa do piloto da Ferrari não é impossível, nem por isso deixa de ser extremamente complicada, necessitando muito da ajuda de Felipe Massa para ser campeão, mas precisa, igualmente, que algo de pouco comum aconteça aos pilotos da McLaren.

E é aqui que “a porca torce o rabo”! Dado o elevadíssimo grau de fiabilidade dos MP4/22 – que iniciaram 28 Grande Prémios e concluíram-nos todos, 27 vezes nos pontos e por 23 entre os quatro primeiros (!) – percebe-se que dificilmente será por uma falha mecânica que Hamilton ou Alonso vão ficar a zero em Fuji, Xangai ou Interlagos. Mas há um cenário bastante realista que pode favorecer Kimi Raikkonen e que teve o seu ensaio geral nos primeiros 700 metros do GP da Bélgica: o de um acidente entre os dois pilotos da McLaren, que deixe um deles, ou mesmo os dois, fora duma corrida, permitindo a Raikkonen uma recuperação de dez pontos numa só assentada!

De Indianapolis a Spa-Francorchamps

Apesar de terem rodado perto um do outro anteriormente, o primeiro confronto directo entre os dois pilotos da McLaren aconteceu em Indianápolis quando Hamilton defendeu a sua liderança de forma musculada em plena recta da meta e Alonso ficou claramente enraivecido com a manobra do inglês. Muitos observadores, entre os quais o abaixo assinado, admitiram logo que no próximo confronto entre ambos o espanhol não tiraria o pé e caberia a Hamilton decidir se evitava o acidente, ou se também não tirava o pé.

Circunstâncias várias – problemas na qualificação, penalizações ou maus arranques – fizeram com que nas seis corridas seguintes os dois McLaren nunca estivessem muito perto um do outro, mas em Spa-Francorchamps Alonso e Hamilton qualificaram-se, finalmente, lado a lado e tanto em La Source como na entrada do Radillon estiveram muito perto de se tocar.

Como se esperava Fernando Alonso manteve o pé no acelerador até ao fim e foi Hamilton – que já ganhara confrontos idênticos com Massa e Raikkonen – quem teve de ceder, o que lhe aconteceu pela primeira vez desde que chegou à F1. Mas o inglês não poderá ceder da próxima vez, para não correr o risco de ficar em desvantagem psicológica face ao seu grande rival e, por isso, a possibilidade dos dois homens da McLaren se tocarem no início dum dos próximos Grandes Prémios é grande.

Em Fuji vamos ter uma forte travagem logo na primeira curva, pois a recta da meta é longa e chega-se à primeira curva em ligeira descida, para um autêntico gancho de segunda velocidade. Hamilton tem dado nas vistas pela forma agressiva como ataca a primeira curva de cada corrida, mas Alonso também não pode ceder. Se os dois se tocarem aí e Raikkonen não for envolvido no acidente, o finlandês entrará claramente na luta pelo título, pois já se viu que a McLaren não tem qualquer controlo sobre os seus pilotos e esse acaba por ser, ironicamente, o melhor trunfo que o nórdico da Ferrari tem… em mãos alheias.

Luís Vasconcelos