Uma imagem vale mais que mil palavras

Não há nada como ir ver as corridas ao vivo. A emoção, o cheiro, a sensação de velocidade, o sentimento de partilha com os restantes fãs… assistir a um evento de desporto motorizado é algo especial e mesmo quem não gosta, não fica indiferente a energia que se sente.

Infelizmente, nem todos podem deslocar-se às pistas ou aos troços para verem as máquinas a passar. Apesar disso, a sua paixão não é menor. Talvez até seja maior. E isso deve-se ao trabalho de homens e mulheres que nos dão imagens que nos fazem sonhar.

Os carros, as motos e os pilotos são o foco dos fãs, mas para que os artistas brilhem há muitas pessoas que trabalham arduamente para que tudo corra pelo melhor. É muito comum (e injusto) esquecermo-nos das pessoas do Staff das equipas, das organizações, dos comissários, dos responsáveis das provas. Cada um com um papel bem definido, desempenhado com profissionalismo e dedicação, por vezes apenas pela paixão das corridas, sem qualquer contrapartida. Felizmente vão surgindo algumas homenagens, a justiça vai sendo feita. Mas neste texto o foco vai para os homens das fotografias. Aqueles que também ajudam nessas homenagens, mas que não aparecem, pois têm de ficar atrás das objectivas. Aqueles que numa imagem, nos conseguem transmitir as emoções das corridas.

Há alguns anos, fiquei maravilhado por um livro de fotografias de Rainer Schlegelmilch, um dos grandes fotógrafos da F1. Uma compilação de fotos, que são mais que uma coleção de imagens… são um registo histórico da evolução de uma competição que se tornou global e despertou paixões por todo o mundo. Tal como ele, outros fizeram vida a tentar captar num segundo a força, o sentimento e a paixão das corridas. Poderemos pensar que são privilegiados pois estão perto da ação, perto dos heróis e viajam para locais onde sonhamos ir um dia. Mas não podemos esquecer as condições difíceis que por vezes encontram, os perigos que enfrentam, as longas horas de trabalho em pista, nos troços e depois no computador, na escolha e edição das melhores.  São horas a fio, debaixo de sol intenso ou de chuva torrencial, na busca do ângulo perfeito e do momento certo. São eles que ajudam também as organizações a mostrar o melhor das provas, e que dão o seu contributo pessoal, que vai além das fotos. É também graças ao seu trabalho que as equipas entendem e descobrem alguns truques dos adversários (lembram-se da foto do terceiro pedal no McLaren de Hakkinen?). Não são apenas material para recordação futura, são provas para os engenheiros analisarem.

É um trabalho fundamental pois é graças a eles que teremos oportunidade de reviver no futuro os momentos que nos fizeram vibrar. Poderia gastar duas folhas a tentar descrever por escrito a largada do último GP da Bélgica, mas a foto dos quatro carros lado a lado no final da reta Kemmel, é o suficiente para que os fãs possam entender um pouco melhor o que ali se passou.  Poderia tentar explicar as forças a que um carro de F1 está sujeito, mas a foto do carro de Nico Rosberg em Suzuka é suficiente para que o menos interessado pela física entenda. Poderia tentar explicar a dureza e exigência do Dakar, mas nada melhor do que uma foto de um camião ao lado de uma duna gigante para entendermos o tamanho do desafio.

Mais uma vez, Portugal exporta grandes talentos e na arte da fotografia, alguns dos nossos compatriotas são respeitados e considerados dos melhores do mundo no seu ofício. E mesmo a nível nacional temos artistas que nos fazem chegar excelentes imagens dos campeonatos portugueses. É graças ao seu trabalho que a informação escrita ganha cor e forma. É graças a eles que os fãs podem imaginar como terá sido a prova ao vivo. É graças a eles que no futuro poderemos recordar momentos inesquecíveis e “explicar”, sem palavras, o que sentimos.  As corridas acontecem graças a muitas pessoas, mas é fundamental termos alguém que grave para sempre esses momentos. São eles que também ajudam a manter esta chama acesa. São eles que nos mostram que a força, a tecnologia, a competição também são uma forma de arte. Uma arte que, tal como a competição, acontece depressa, numa fração de segundos…, mas cujos resultados ficam para sempre.