Fórmula 1: Patrick Head mudou de ciclo há 10 anos… mas regressou


No final de 2011, Patrick Head anunciou a sua ‘reforma’ da Fórmula 1. Contudo, regressou em 2019, para atuar como consultor técnico da Williams, devido à má fase da equipe na Fórmula 1. Hoje em dia, Patrick Head não viaja para as corridas, mas atua a partir da fábrica de Grove.

Curiosamente, Patrick Head e o AutoSport percorreram linhas paralelas. Ambos tiveram impacto na estreia logo em 1977; e ambos avançaram para novas tecnologias em 2012 (edição digital). Fica uma pequena homenagem ao homem que ajudou Frank Williams a chegar ao sucesso, depois de dez anos de tentativas frustradas, isto numa altra em que perdeu o seu grande amigo.

Às vezes a chave para o sucesso está onde menos se espera. Frank Williams era visto na F1 como um rapaz esforçado que nunca chegaria a lado nenhum, depois de muitos projetos abortados ou sem sucesso: tinha comprado um Brabham para o seu amigo Piers Courage correr em 1969; associara-se à Dallara e à de Tomaso em 1970; comprou um March para Henri Pescarolo em 1971; construiu o seu primeiro chassis – com o patrocínio da Politoys – em 1972; prosseguiu no ano seguinte com o apoio da Iso e da Marlboro, mas em 1974 só a tabaqueira a ficou, graças à manutenção de Arturo Merzário na equipa; e, no ano seguinte, o segundo carro foi sempre entregue a quem chegava aos circuitos com dinheiro na mão. Em 1976, Williams teve mesmo de vender a sua equipa a Walter Wolf e parecia ter chegado ao fim da linha na F1.

Foi então que do encontro com Patrick Head nasceu a dupla mais fabulosa dos últimos 35 anos da F1, mesmo se é inegável que boa parte do sucesso inicial se deveu à capacidade de Williams convencer os sauditas da Saudia Airlines a patrocinarem a sua equipa. O FW06 de 1978 foi o primeiro projeto a solo de Patrick Head e, no ano seguinte, Alan Jones e Clay Regazzoni deram cinco vitórias à equipa, com o australiano a garantir o título em 1980. Daí até 1997, a Williams ganhou um total de nove campeonatos de construtores e sete de pilotos, entrando, depois, em declínio, sobretudo depois da ligação à BMW ter ficado muito aquém das expectativas de uma equipa que tinha tido grande sucesso em associação com a Honda e, sobretudo, com a Renault.

PRAGMATISMO ABSOLUTO

A marca distintiva de Patrick Head foi sempre o seu pragmatismo absoluto. Com um ego muito bem controlado, o inglês não teve problemas em assumir que lhe faltavam conhecimentos de aerodinâmica para acompanhar as novas tendências no início dos anos 90 e contratou Adrian Newey, que acabara de ser despedido pela Leyton House, dando início a uma senda de sucessos que se iniciou em 1992 e terminou em 1997, falhando apenas os títulos de pilotos em 1994 e 1995 e o de construtores neste último ano.

Quando Newey rumou à McLaren, por pretender controlar todo o projeto, Head continuou a delegar boa parte dos seus poderes, mas face aos confrontos com a gestão da BMW também não teve problemas em ceder o seu lugar a Sam Michael no meio da temporada de 2003. Daí para a frente, Head pôde concentrar-se naquilo que realmente gosta – a parte mecânica dos F1, sobretudo a nível de caixa de velocidades e restantes elementos da transmissão – até decidir, no início do ano passado, que estava na hora de mudar de vida.

Evitando falar em público das razões mais profundas para esta sua decisão, que terão a ver com um total desacordo com a forma como Adam Parr gere a Williams, Patrick Head sai da Williams Grand Prix Engineering, mesmo se, como nos disse em Interlagos, “não tinha intenções de deixar os Grandes Prémios no final de uma temporada tão fraca da minha equipa.” Diplomático em público, Head prefere dizer que, “ao analisar o que poderia ser a minha contribuição para o chassis de 2012 e como poderia ajudar o Mark Gillan e o Mike Coughlan, concluí que não lhes seria útil e preferi sair.”

O novo desafio é o de tornar a Williams Hybrid Power, de que é diretor, numa empresa de sucesso e estender os limites das novas tecnologias, sempre uma paixão de Head, sem perder de vista a F1, que mais cedo ou mais tarde vai ter de se converter a energias alternativas.

UM LEGADO IMPRESSIONANTE

Se a Williams Grand Prix Engineering é um legado permanente à obra de Patrick Head na F1 de 1977 a 2011, ao longo do paddock não faltam discípulos ilustres do homem que ajudou Sir Frank a alcançar o sucesso. Adrian Newey e Ross Brawn são os dois nomes mais famosos dos que aprenderam muito com Head antes de terem sucesso por conta própria, mas Geoff Willis, Sam Michael, Paddy Lowe, Frank Dernie, Neil Oatley, Enrique Scalabroni, entre muitos outros, também dirigiram equipas de F1 aplicando os ensinamentos do genial engenheiro inglês, que fez escola na história do Mundial.