Fórmula 1: E agora, Renault?

Por a 30 Maio 2020 16:14

A Renault confirmou a sua manutenção na Fórmula 1, e agora o foco passa por saber quem vai substituir Daniel Riccardo para 2021. Os candidatos são de luxo: Sebastian Vettel, Fernando Alonso ou Valtteri Bottas. Qualquer outra alternativa será passar uma mensagem… estranha.

Foi com algum alívio que se ficou a conhecer a decisão da Renault de manter a sua equipa na Fórmula 1. Há muito que se sabia que a marca não está em boas condições financeiras, ao ponto do ministro da economia e finanças francês, Bruno Le Maire, ter admitido que a empresa poderia “desaparecer”, mas apesar da marca ter anunciado um plano de redução de custos de 1,8 mil milhões de euros, a equipa de Fórmula 1 vai permanecer na disciplina. Quem o disse foi a chefe executiva interina, Clotilde Delbos “confirmamos que pretendemos permanecer na Fórmula 1. O novo regulamento, novo teto orçamental que traça limites em termos de investimentos – porque gastámos muito menos dinheiro que alguns dos nossos concorrentes – significa que estamos aqui, e vamos ficar na Fórmula 1”, disse Delbos.

É um grande alívio, pois nas últimas semanas o que existia era incerteza, mas o que agora sucedeu prova que as medidas agora confirmadas para a Fórmula 1 a partir de 2021 são positivas, e já começam a dar frutos: A Renault permanece na F1.

Desde que regressou como equipa oficial em 2016, a Renault não tem mostrado grandes resultados, o melhor que conseguiu foi ser a melhor do ‘segundo pelotão’ em 2018, com o quarto lugar no Mundial de Construtores, mas o passo em frente, para se colocar mais perto das três grandes está difícil, e sofreu mesmo um revés em 2019, que a perda do quarto lugar para o ‘cliente’, McLaren.

Portanto e apesar da confirmação da manutenção do projeto, continua a haver enormes desafios para a Renault, que o diretor da equipa, Cyril Abiteboul não tem conseguido ultrapassar. A ida de Daniel Ricciardo para a equipa em 2019 não serviu de nada, e quem mais falhou não foi o australiano.

Alonso, Vettel ou Bottas?

Resolvida que está a questão que afligia muitos no seio da equipa, agora é tempo de olhar em frente, e com um lugar em aberto na equipa, não será certamente por falta de bons pilotos disponíveis que a equipa pode não evoluir. Nomes como Sebastian Vettel e Fernando Alonso estão livres de compromissos, e neste contexto será muito curioso perceber quem irá ocupar o lugar deixado vago por Daniel Ricciardo.

De saída da Ferrari no final de 2020, Sébastian Vettel já provou que com bons carros é ainda capaz de vencer corridas, o que não se sabe é que motivação pode ter para correr no meio do pelotão, depois de muito ter tentado lutar nos últimos anos, nem sempre bem, por vitórias e títulos. Que ninguém duvide que Vettel continua a ser um dos pilotos mais rápidos da grelha e a questão tem muito mais a ver com a sua vontade de continuar na F1.

Por outro lado, Fernando Alonso. Após algum tempo fora da F1, o espanhol continua a ser um piloto de topo e com a sua experiência seria certamente uma enorme mais valia para a Renault, a equipa onde obteve os seus dois títulos mundiais. Duvidamos que ainda vá a tempo de obter um terceiro, mas a verdade é que ninguém sabe o que irá sair do ‘baralhar’ das novas regras da F1 de 2022. Se a Renault acerta, não será do lado de Alonso que poderia fraquejar e aí sim, tanto Vettel quanto Alonso poderiam ser novamente campeões.

Contudo, acreditar que a Renault de 2021 para 2022 se reinventa e passa a ser a referência, vai uma enorme distância. É que neste momento tem quatro equipas à sua frente, tal como ditou 2019, e vamos ver ainda o que dita 2020.

Por outro lado, Fernando Alonso levaria consigo também patrocínios, algo que dá “um certo jeito” à Renault. Este é claramente o caso mais interessante de seguir nos próximos meses de ‘Silly Season’, sendo que quando os motores arrancarem, pouco mais se irá ouvir até ao dia que surja um comunicado oficial.

Se a Renault optar por chamar um dos seus pilotos da academia, Christian Lundgaard ou Guanyu Zhou, que estão ambos a competir na Fórmula 2, esse seria a assunção, ou o sinal para não contarem muito com ‘ela’ para grandes feitos a curto prazo.

Nos últimos tempos falou-se também de Valtteri Bottas, caso venha a ser substituído na Mercedes. O finlandês é um bom piloto, fiável, comprovado, e custaria muito menos, ou seja teria uma relação custo/benefício bem mais interessante.

Honestamente, se estiver motivado para isso, a melhor escolha parece-nos ser Vettel, mas com qualquer um dos três a Renault ficaria bem servida. Provavelmente, mais importante que escolher um destes três pilotos, importante mesmo para a equipa francesa é acertar na ‘mouche’ com o projeto de 2022. Aí sim, todas as equipas de F1 – umas mais do que outras, claro – têm uma boa oportunidade de mudar o seu ‘status’. A questão, como sempre, é que algumas mudam para melhor, outras vão em sentido contrário.

Portanto, resta esperar para ver o que vai conseguir fazer a Renault em 2020, e especialmente em 2021, quando a construção e desenvolvimento do novo carro estiver a ser feito.

Melhores condições

Não foi por falta de condições que a Renault não fez melhor em 2019. Nos últimos anos em Enstone, a fábrica desenvolveu-se, o número de funcionários cresceu quase para o dobro, todas as áreas melhoraram, ou foram completamente transformadas. Ou seja, a Renault equipou-se com tudo o que precisava para ‘responder’ aos desafios que sabia um piloto como Daniel Ricciardo lhes iria colocar.

Estivemos em Enstone em 2018, quando já se sabia que Ricciardo iria chegar à equipa e uma das coisas que Jerome Stoll, presidente da Renault Sport disse foi: “O Daniel Ricciardo vai desafiar toda esta gente. Ele vai exigir muito de todos e todos têm que saber responder a isso.” E não parece que isso tenha sido conseguido.

Enstone já viveu muitos momentos de glória, era a casa da Benetton em 1994 1995 quando Michael Schumacher levou a equipa a dois títulos, era a casa da Renault quando Fernando Alonso foi Campeão em 2005 e 2006, e neste momento tem todas as condições, inclusivamente pilotos, para lutar bem mais acima do que sucedeu em 2019.

Provavelmente, a administração da Renault teria preferido que o percurso de 2016 para cá tivesse sido feito de forma mais fluída, mas a verdade é que para lá dos muitos equívocos, provavelmente, o facto de sabermos que se tratava da Renault não nos permitiu ter o necessário distanciamento para perceber a enormidade de diferenças que existem entre as estruturas de Brackley/Bixworth (Mercedes) Maranello (Ferrari) e Milton Keynes (Red Bull), face ao eixo Enstone/Viry Chatillon. Elas existiam, e foram sendo colmatadas ao longo dos anos.

Olhando friamente, percebemos que só mesmo o ano de 2019 ficou abaixo do esperado, e ironicamente as palavras de Christian Horner a Cyril Abiteboul foram pouco menos que proféticas: “Se vais gastar tanto dinheiro a pagar a Ricciardo como vais tê-lo para desenvolver o carro?”. Terá sido este o desafio da Renault em 2019? Não nos parece. Mas muita coisa correu mal.

Na verdade, o discurso de Cyril Abiteboul parece sempre um pouco desfasado do que está realmente a acontecer. Depois de ter ‘roubado’ um às de trunfo à Red Bull – na prática, e em condições normais, Daniel Ricciardo iria surrupiar diretamente pontos à Red Bull e acrescentá-los à Renault – mas isso não aconteceu, não houve efeitos práticos, bem antes pelo contrário.

Cyril Abiteboul reconheceu ainda que 2019 expôs as fraquezas da equipa e que isso permitiu entender o que era preciso para encontrar o caminho do sucesso e a chegada de Daniel Ricciardo foi um dos fatores mais importantes: “Para mim, 2019 foi um ano em que ficámos sem nada para esconder. Com ótimos pilotos e um motor muito melhor, não havia como nos escondermos. Assim, fomos capazes de ver novamente que medidas precisamos tomar. Acho que os problemas que vimos já existiam no ano anterior.

Talvez não fossem tão visíveis porque 2018 foi uma progressão em relação ao ano anterior. Passámos de nono para o sexto, para o quarto lugar e acho que esse foi um resultado um pouco lisonjeiro. Precisávamos de um ano como este para entender as fraquezas da equipa, porque algumas delas estão aqui desde os tempos da Lotus, e não foram tratadas com cuidado e atenção suficientes.

É isso que me faz dizer que não foi um ano para esquecer. Acho que nunca conseguiríamos ir mais longe se não tivéssemos as dificuldades e também as reações que as acompanham. Em resumo, tendo feito tudo o que fizemos, só o fizemos porque passámos pelo que passámos. E passámos por isso também por causa das pressões infligidas a nós mesmos. Acho que foi realmente bom expor-nos assim” disse Abiteboul.

O que salta à vista é que a Renault não conseguiu um carro compatível com a categoria de Daniel Ricciardo, embora o seu nono lugar final no campeonato de 2019 também não possa ser totalmente atribuído à falta de qualidade do carro. Tratou-se provavelmente de um pouco das duas coisas, mais culpa da equipa do que do piloto.

Por isso, 2020 será um ano fundamental. Tudo vai depender do carro que a Renault construiu para este ano. Se estiver ao nível de 2019, esqueçam. Os sinais dos testes não foram nada maus. Mas são testes. E Ricciardo não terá uma super-motivação para se superar. Mas vai querer ser muito profissional, como sempre.

Portanto, e depois de termos receado que a equipa ficasse repentinamente pelo caminho, é muito positivo que a Renault se mantenha na F1, e ainda mais se fizer regressar Fernando Alonso ou ajudar a manter Sebastian Vettel na F1. Nesse aspeto, os próximos tempos vão ser muito interessantes.

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