F1: O dia em que Rubens Barrichello tirou o pé, e o dia em que abriu o livro

Por a 19 Abril 2023 11:33

12 de maio de 2002! GP da Áustria de Fórmula 1. Não se vislumbrava no horizonte que alguém pudesse bater o pé à Ferrari e, como tal, os responsáveis da Scuderia bem poderiam ter deixado a verdade desportiva vir ao de cima e saudar a brilhante vitória de Rubens Barrichello. Mas não foi isso que aconteceu. O brasileiro liderou toda a prova para deixar Michael Schumacher vencer, ao abrandar já na reta da meta, a dezenas de metros do final da corrida.

No pódio, veio uma assobiadela monstra das bancadas e na sala de imprensa Jean Todt e os seus pares não fizeram o melhor por uma equipa cujos pergaminhos no desporto automóvel não se discutem. E Michael Schumacher, cuja ‘força’ dentro da equipa não se podia escamotear, bem poderia ter recusado este papel de protagonista numa “peça teatral” de má qualidade, com um argumento pobre e uma direção de actores para esquecer. Uma representação que bem poderia ter o nome de “O Bom, o Mau e o Vilão”!

Na altura, Rubens Barrichello teve que engolir o sapo mas anos depois, em 2008, o brasileiro acusou Jean Todt e a Ferrari do terem ameaçado com o despedimento imediato durante o GP da Áustria de 2002. O paulista proferiu essas declarações num programa da TV Globo, provocando na altura um pequeno terramoto no mundo da Fórmula 1 e reacções muito evasivas tanto da Ferrari como de Michael Schumacher.

Como os leitores do AutoSport estarão recordados, Barrichello já tivera de ceder o segundo lugar a Schumacher na mesma pista em 2001, quando ambos seguiram Coulthard até à última curva e, depois, o brasileiro abrandou para que Schumacher ganhasse dois pontos suplementares, mas em 2002 ninguém podia combater a superioridade da Ferrari nas pistas e, com Barrichello longe do alemão na tabela classificativa, esperava-se que – com ainda dez provas por disputar – a Scuderia não impusesse ordens de equipa.

Mas foi isso que aconteceu, levando o público austríaco a dar a maior vaia de sempre a umvencedor de um Grande Prémio, ao ponto de Schumacher se ter sentido constrangido a fazer subir Barrichello ao lugar mais alto do pódio, escutando o hino alemão a partir do degrau destinado ao segundo colocado. Um procedimento que valeu uma multa de um milhão de dólares à Ferrari e aos seus pilotos e levou à introdução duma norma no regulamento desportivo que passou a proibir as ordens de equipa.

Até aí Barrichello nunca revelara exactamente o que se passara naquele dia, mas sentindo que os seus dias na Fórmula 1 estavam a chegar ao fim o brasileiro decidiu contar o que aconteceu no A1-Ring: «A dez voltas do fim começaram a mandar-me deixar passar o Michael Schumacher, “por causa do campeonato”, segundo me diziam, mas eu fui argumentando que ele tinha uma liderança enorme e não necessitava de ajudas para ser Campeão. Mas as ordens por rádio foram aumentando de intensidade, até que o Jean Todt começou a falar directamente comigo, sobrepondo-se ao Ross Brawn. Continuei a pedir para me deixarem ganhar, pois tinha tido um início de Mundial muito azarado e uma vitória era mesmo o que eu precisava, mas ele continuou a mandar-me deixar o Michael passar. Nas últimas duas voltas ele mudou de discurso e disse-me claramente “pensa bem no teu contrato, pensa bem no teu futuro”, o que eu entendi como uma ameaça directa de despedimento. Eu tinha acabado de assinar um novo contrato com a Ferrari até ao final de 2004 e agora estava a ser ameaçado de despedimento imediato. Foi por isso que levantei o pé e deixei o Schumacher passar.»

Como é evidente a Ferrari foi imediatamente questionada sobre esta versão dos factos, com um seu porta-voz a limitar-se a dizer que, «quando se fizer a história, toda a verdade virá ao de cima», o que quer dizer que a Scuderia não desmentiu Barrichello. Já Michael Schumacher, também através da sua porta-voz, disse somente que «ninguém fica mais lento por causa dum contrato, pois se fores mais rápido não é um contrato que te vai abrandar.»

Interessante é o facto de Barrichello e Schumacher terem estado nesse fim-de-semana, no mesmo evento no Brasil, uma corrida karting organizada por Felipe

Massa, competindo por equipas diferentes. A verdade é como azeite em água…

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asfalto
asfalto
3 anos atrás

A diferença para os dias de hoje é que as coisas acontecem sem dar tanto nas vistas.

Frenando_Afondo™
Frenando_Afondo™
3 anos atrás

A maior vergonha de todos os tempos na F1. Foi o evento que fez a FIA proibir ordens de equipa. Para depois voltar atrás em 2010 após a Ferrari fazer o mesmo, mas tentando não dar tanto nas vistas, lol.

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