As incertezas do mercado na Fórmula 1

A ida de Ricciardo da Red Bull para a Renault teve dois reflexos imediatos – vedou a entrada de Esteban Ocon na formação de Enstone e abriu uma vaga na equipa de Milton Keynes – mas acaba por ter impacto em todo o mercado.

A Red Bull tem atualmente a chave do xadrez e, sem grandes pressas em decidir, até por que tem dois pilotos sob contrato, pelo menos, até ao final do verão, poderá bloquear movimentações durante o próximo mês e meio.

O candidato natural ao lugar deixado vago por Ricciardo seria Carlos Sainz, que está este ano emprestado pela Red Bull à Renault. No entanto, o espanhol incompatibilizou-se com Max Verstappen no ano e meio que estiveram juntos na Toro Rosso, havendo muito pouco respeito entre os dois, pelo que não foi com surpresa que se ficou a saber que Sainz iria rumar à McLaren para substituir Fernando Alonso.

É Pierre Gasly que está na calha para rumar à Red Bull. O jovem francês tem vindo a realizar uma boa temporada ao serviço da Toro Rosso, ‘aniquilando’ Brendon Hartley. Porém, o piloto de 22 anos é relativamente inexperiente e colocado ao lado de Verstappen num ambiente de grande pressão poderá não ter as condições para que possa florescer, como de resto já se verificou com Daniil Kvyat.

Favorável a Gasly está o facto de ser o primeiro ano da Red Bull com a Honda, esperando-se um ano de adaptação entre as duas entidades, tirando o foco das suas performances, para além do francês ter já um ano de trabalho com os japoneses, o que poderá ser benéfico para a sua causa.

Mas, na semana passada, muito embora tenha assumido que Sainz e Gasly são opções para a Red Bull, Horner deixou no ar a possibilidade de a equipa poder procurar soluções fora da sua ‘cantera’.

Fernando Alonso era um das chaves do mercado, mas como se sabe agora vai sair da f1 no final do ano. O bicampeão mundial, muito embora continue a mostrar em pista ser um dos melhores pilotos da história da Fórmula 1, está sem um carro capaz de fazer jus ao seu talento desde 2012 e a sua frustração, que foi crescendo este ano, com a incapacidade de a McLaren lhe fornecer um monolugar competitivo, redundou numa decisão que alguns já esperavam…

Como se sabe, a decisão foi abandonar definitivamente a Fórmula 1 e agora deverá rumar à IndyCar, onde tem como objetivo a conquista das 500 Milhas de Indianapolis para completar a Coroa Tripla.

Carlos Sainz é o senhor que se segue na McLaren, enquanto Stoffel Vandoorne tem mais uns meses para provar que merece ficar na equipa.

Mesmo com a saída de espanhol, o belga poderá perder o seu volante, abrindo espaço para uma nova dupla na formação de Woking que poderia ser formada por Sainz e Lando Norris, que tem mostrado potencial nas fórmulas de promoção.

Porém, a manutenção do jovem de dezanove anos sob influência da McLaren poderá ser difícil, uma vez que esta pretende assegurar os serviços de James Key, o diretor técnico da Toro Rosso. Os homens da formação de Faenza, contudo, sublinham que o britânico tem um contrato válido com a equipa-B da Red Bull, não estando dispostos a cedê-lo a troco de nada.

Com a possibilidade de Gasly rumar à estrutura de Milton Keynes e com a saída quase assegurada de Brendon Hartley, a Toro Rosso poderá ver-se na posição de ter de encontrar dois pilotos e Lando Norris é uma possibilidade que agrada a Helmut Marko e aos seus homens, o que poderá obrigar a McLaren a ceder o seu “jovem lobo” a troco de Key.

Se a indefinição na Toro Rosso é grande, na Force India não é menor, muito embora as pistas sobre o seu duo de pilotos tenham crescido nos últimos dias. Depois de ter entrado em administração judicial durante o Grande Prémio da Hungria, a estrutura de Silverstone foi salva por um consórcio liderado por Lawrence Stroll, o pai de Lance Stroll, o que parece deixar claro que, no final do ano, o jovem canadiano deixará a Williams para assumir as cores da Force India. Se não for antes, pois já há quem diga que a troca se fará já em Singapura…

O colega de equipa do piloto de dezanove anos, tudo leva a crer, será Esteban Ocon, seu grande amigo. O francês estava a caminho da Renault, com o beneplácito da Mercedes, mas com a surpreendente decisão de Ricciardo viu a porta fechar-se estrondosamente, tendo agora como solução manter-se em Silverstone.

Já Sérgio Pérez está de saída da Force India. Com a entrada de Lawrence Stroll no controlo da equipa, situação despoletada pelo mexicano ao forçar a entrada em liquidação da estrutura, o seu filho será um dos pilotos, ao passo que a Mercedes, uma das maiores credoras da Force India, vai assegurar um lugar para Ocon.

Porém, Sergio Pérez, bem apoiado por empresas do seu país, terá um lugar ao seu dispor na Haas, onde substituirá Romain Grosjean ao lado de Kevin Magnussen. O francês tem desiludido ao longo da presente temporada, cometendo demasiados erros, ao passo que o mexicano tem do seu lado, para além dos apoios financeiros e da sua consistência, o facto de o seu país ser o maior mercado a seguir aos Estados Unidos da América da empresa de Gene Haas, a Haas Automation. Como se calcula, ter um piloto mexicano é ouro sobre azul para Gene Haas.

Na outra equipa da esfera da Ferrari, a Alfa Romeo Sauber, as incógnitas são profundas. Charles Leclerc, a assinar uma época de estreia extraordinária, parecia a caminho da Ferrari, mas o súbito desaparecimento de Sérgio Marchionne poderá ter reforçado a posição de Kimi Raikkonen, que deverá manter o seu lugar ao lado de Sebastian Vettel. Se assim for, Leclerc continuará na formação de Hinwil por mais uma temporada, desconhecendo-se quem o acompanhará.

Marcus Ericsson tem vindo a ser batido consistentemente pelo novato monegasco, mas a Strongbow, ainda detentora do controlo da Sauber, parece apostada em defender a posição do sueco, o que deixa Antonio Giovinazzi sem espaço, muito embora a Ferrari gostasse de o ver colocado na estrutura suíça como piloto efetivo.

A Williams é a equipa que todos querem evitar, como se verifica com a movimentação de Lawrence Stroll para assegurar o controlo da Force India. O filho do canadiano deixará Grove no final da temporada, ao passo que Sergey Sirotkin deverá manter-se. Robert Kubica poderá ser uma opção para fazer equipa com o russo, mas a formação fundada por Frank Williams parece estar a caminho de estreitar as suas relações com a Mercedes – com a compra de, pelo menos, caixas velocidade, para além das unidades de potência – podendo aceitar um desconto no preço de material para colocar ao lado de Sirotkin, George Russel, piloto da companhia do construtor de Estugarda.

Percebe-se, portanto, que todas as equipas, exceto a Mercedes e a Renault, têm algo por definir e a decisão de Ricciardo não contribuiu para uma clarificação do plantel da próxima temporada e poderá verificar-se um congelamento de todo o xadrez até que a Red Bull se movimente. A exceção é a Ferrari cuja decisão é entre Raikkonen e Leclerc, não se refletindo nas restantes equipas, para lá da Sauber, caso decida manter o finlandês. Caso opte pelo monegasco, então o ‘Iceman’ será mais uma peça no mercado.