GP Alemanha: terá salvação?

Por a 17 Julho 2018 18:41

Para muitos observadores, uma fórmula 1 sem Grande Prémio da Alemanha não faz sentido, mais ainda quando a equipa dominadora é alemã e espera-se a chegada de mais um contingente alemão com as novas regras. Porém, a prova germânica esteve ausente o ano passado e desde 2006 que é realizado, alternadamente, entre Nurburgring e Hockenheim. Como não se realizou o GP da Alemanha em 2017, a prova regressa ao circuito localizado no vale do Reno, estado de Baden Wurttemberg.

Desde 1970 que o traçado germânico faz parte do Mundial de Fórmula 1, tendo sido disputadas 35 corridas num traçado que começou por ser um “Dreieckskurs” (triângulo) quando foi construído em 1932 com um perímetro de cerca de doze quilómetros. Desenhado por Ernst Christ, não passava de três ganchos ligados por três retas diferentes com curvas mais ou menos acentuadas pelo meio.

Passou por muitas versões, sendo a cada uma delas encurtado. Em 1938 passou a ter pouco mais de sete quilómetros e foi introduzida a famosa “Ostkurve”, sendo quase destruída com a segunda guerra mundial.

Terminado conflito mundial, Willhelm Herz, ex-piloto de motos cm a DKW r NSU, pegou no circuito e começou a promove-lo, primeiro com as motos e depois com os automóveis. O circuito, na altura, contava com as duas retas maiores do traçado original, a Ostkurve no meio da floresta e o gancho dentro da vila de Hockenheim.

As queixas sobre a segurança do circuito na parte da floresta foram aumentando de tom até que a FIA decidiu revogar a homologação da pista. Em 2002 o traçado alemão foi redesenhado por Hermann Tilke, com o financiamento do governo da região, ficando muito diferente. O novo traçado voltou a gerar polémica pois evidencia aquilo que sempre foram os problemas dos circuitos feitos pelo engenheiro alemão: falta de zonas técnicas e de coragem em favor de uma segurança absoluta que, no Hockenheimring se traduziu na perda do carácter da pista.

O primeiro GP da Alemanha ali realizado foi em 1970 depois dos pilotos terem boicotado a prova no circuito de Nurburgring, exigindo alterações no circuito. Os pilotos fizeram vingar a sua reivindicação e a prova alemã regressou ao renovado Nurburgring em 1971 onde se manteve até 1976. A partir desse ano e até 2006, foi este o palco para o GP da Alemanha.

Bernie Ecclestone decidiu em 2006 que só se realizaria uma prova do Mundial de Fórmula 1 em solo alemão, pelo que o Nurburgring perdeu o GP da Europa. Entrava-se, assim, numa fase de alternância do GP da Alemanha entre Nurburgring e Hockenheim.

As perdas cifradas em mais de 5 milhões de euros por fim de semana de Grande Prémio fizeram com que em 2015 e 2017 não houvesse GP da Alemanha já que o acordo entre os promotores e a FOM terminou em 2010. As provas foram disputadas porque havia um acordo entre os circuitos e a FOA que dizia serem os prejuízos cobertos pela FOA. A verdade é que nada disso se concretizou e Ecclestone nunca facilitou a vida aos alemães.

Estes também não estiveram pelos ajustes e incapazes de absorver os prejuízos do GP da Alemanha – a Mercedes paga as bancadas, mas a bilhética e a área VIP não cobrem os custos da organização e do pagamento à Liberty – radicalizaram a sua posição. E os organizadores já avisaram que não estão dispostos a pagar as verbas astronómicas exigidas para ter um Grande Prémio na Alemanha, até porque o Estado alemão não contribuiu com um euro que seja para o evento.

Infelizmente para os alemães, a Liberty Media não parece disposta a pegar na corrida alemã e salvar a prova e por isso este poderá ser, mesmo, o último Grande Prémio da Alemanha disputado em Hockenheim, perdendo-se mais uma prova carismática do Mundial de Fórmula 1 que acabará substituída por um fim de semana disputado em Miami ou no Vietename. Está tudo dependente do que a Liberty Media deseja para o futuro da Fórmula 1.

A questão que se levanta é: valerá a pena salvar o GP da Alemanha em Hockenheim?

Os que tem memória mais longa ou melhor apetrechada, reconhecem que a pista alemã foi palco de corridas espetacular e, também, de alguns dramas. Hockenheimring foi palco das primeiras vitórias da carreira na Fórmula 1 para Rubens Barichello (saiu de 18º na grelha e conseguiu uma recuperação notável) em 2000 e para Patrick Tambay em 1982. Foi, igualmente, palco para a derradeira vitória na carreira, como sucedeu a Jochen Rindt (que faleceu em Monza cinco semanas depois desta última vitória e recebeu o cetro de campeão do Mundo a título póstumo), a Gerhard Berger (1997) ou Alain Prost (1993). Foi palco de corridas memoráveis, mas também de acidentes graves.

Jim Clark morreu após um despiste numa corrida de Fórmula 2 no dia 7 de abril de 1968 – o que forçou a introdução das chicanes nas longas retas – e Patrick Depailler faleceu ao volante do seu Alfa Romeo, em testes, quando embateu violentamente nas barreiras de proteção da famosa “Ostkurve” (o que levou os organizadores a transformarem a rapidíssima curva numa zona mais lenta) onde também bateu de forma violenta Erik Comas.

Em 1982, Didier Pironi sofreu um pavoroso acidente que quase o matou. Quando tentava passar pelo Williams de Derek Daly, Pironi acertou, em cheio, na traseira do Renault de Alain Prost, tornado invisível pelo “spray” levantado pelos pneus d echuva e pelo facto dos carros terem efeito de solo que ampliava o “ecrã” criado pela água evacuada pelos pneus.

Múltiplas fraturas e hemorragias pintaram um cenário negro sobre as possibilidades de sobrevivência de Pironi. Doze horas estive a equipa medica, liderada por Sid Watkins, a lutar pela vida do piloto e, sobretudo, pelas suas pernas. Terminava ali a carreira de Pironi na Fórmula 1 – voltaria a sentar-se num F1 em 1986, mas as suas lesões nas pernas eram de tal ordem que o piloto não conseguia sair, sozinho, o monolugar – que acabou por morrer numa prova de barcos quando o seu Colibri 4, perto da Ilha de Wight, capotou depois de ter entrado na esteira de um petroleiro. Morreram com ele Bernard Giroux (Jornalista) e Jean Claude Guénard. Catherine Goux, sua esposa, estava grávida de gémeos que nasceram depois da morte do pai. Para honrar Didier Pironi e Gilles Villeneuve, os meninos foram batizados como Gilles e Didier. Gilles Pironi é, hoje, engenheiro e fez parte da equipa Mercedes de Fórmula 1.

 

Mas Hockenheim foi palco para outras histórias como a vitória de Barichello em 2000, beneficiada pela entrada em pista de um empregado francês da Mercedes, descontente com o seu despedimento (o Safety Car ajudou o brasileiro e de que maneira), a festa do pódio de Sebasten Vettel, em 2012, que acabou com o alemão a devolver o troféu devido a uma penalização, enfim, muitas histórias que enriquecem a memória da Fórmula 1. Também por isso, o GP da Alemanha merecia uma segunda oportunidade.

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