Sérgio Paiva: 45 anos de carreira


CARREIRA: Sérgio Paiva comemorou recentemente 45 anos de carreira com uma mega-festa onde juntou muitos amigos, e alguns dos pilotos que ajudou a celebrizar. As boas notícias são que o navegador continua tão bem disposto como no primeiro dia da sua carreira. As más, que continua a ser muito difícil falar com ele de forma séria e sem uma piada pelo meio … Ainda bem! Era assim há dez anos, quando fizemos esta reportagem, continua (felizmente) a ser assim agora. As histórias que reproduzimos, são tão atuais como nunca. Um dia destes, vamos ‘atualizar’ este ‘ficheiro’, mas para já ficamos assim…

À pergunta o que significam estes 35 anos de carreira?», Sérgio Paiva não podia ser mais…Sérgio Paiva: «Significam…35 anos de carreira!». Um hino ao pragmatismo mas também à boa-disposição que fazem deste navegador um dos mais bem sucedidos em Portugal e lhe conferem um carácter quase único na forma de encarar os ralis. As mais de 400 provas em que participou sentado no banco do lado direito e também as poucas incursões, mas recheadas de êxito,

que fez no banco do lado esquerdo (claro está, como piloto) são a prova de que o tempo parece não passar por si, nem arrancar-lhe o sorriso que sempre tem aliado ao elevado nível de profissionalismo.

Aliás, no dia 13 de Janeiro de 1973, quando se estreou ao lado de Fernando Bernardes que então guiava umVW”Carocha” já era assim. Desse dia, recorda: «no primeiro rali eram 14 e ficamos em 13º depois de sairmos de estrada quando o piloto ficou “cego” por um flash dum fotógrafo! Mas, apesar de tudo acho que cumpri o meu papel e percebi que não me importava de fazer aquilo um passatempo ». E, assim foi. De passatempo a segunda profissão (a primeira é professor de Educação Física) foi um pequeno passo, mas um passo suficientemente amplo para abarcar duas gerações de pilotos diferentes. Conforme explica, «comecei a carreira com o Fernando Bernardes e, mais ou menos, 20 anos mais tarde, naveguei o filho, o Evandro. O mesmo aconteceu com o Rufino (pai) e o José Pedro Fontes (filho) que me fizeram sentir mais velho!».

Dizer muito em poucas palavras Para além destes quatro pilotos, outros 52 apuraram o ouvido com as notas do navegador nascido em Lourosa que, de resto, foram evoluindo ao longo dos anos. Na sua perspectiva, «como é natural, as notas que idealizei sofreram uma evolução ao longo do tempo, mas não se pode dizer que alguma vez tenha mudado o método de forma revolucionária. Fui fazendo pequenos ajustes, mas sempre de acordo com uma máxima que é a mais importante na navegação: dizer muito em poucas e simples palavras». Na maior parte dos casos, assume que «foram os pilotos que se adaptaram às minhas notas e raramente o contrário, embora, por exemplo, as poucas experiências que fiz com notas de números não foram muito bem sucedidas».

De resto, afirma-se afortunado por apenas uma vez, em mais de quatro centenas de ralis, ter enjoado, num episódio que recorda antes de soltar o seu tão tradicional riso: «em 1973, no Rali Princesa Santa Joana era feito quase todo de noite. Éramos cinco equipas e ao jantar mandamos fazer 10 pregos para comer durante a noite. Pagou-se e esqueci-me dos pregos na mesa. Pouco antes da entrada para o primeiro troço, havia um café perto e fui lá comprar mais pregos, mas ao tomar café voltei a esquecer-me deles no balcão e foi assim que, sem nada no estômago tive que pôr a cabeça de fora durante o troço para que o Armando Bajuca não tivesse que parar. Felizmente, foi a primeira e a última vez!».

E no meio de centenas de peripécias e histórias com final feliz e infeliz, Sérgio Paiva considera que «o balanço é bem mais positivo do que negativo. As 10 vitórias, os quatro títulos de ralis (1997 de Grupo N com o António Segurado; 1999 e 2000 absoluto com o Pedro Matos Chaves e 2001 de Grupo A também o Chaves) deixaram-me excelentes recordações, embora também não possa esquecer os três pilotos que naveguei (Osvaldo Oliveira, Fernando Mendes e Thomaz Mello Breyner) que vi desaparecer».

Jornalista, por acaso Mas para além de navegador e até piloto, Sérgio Paiva encarou também o desporto automóvel… fora do carro! Aconteceu em 1985, quando se lançou no projecto do “Alta Rotação” um programa de rádio de assinalável sucesso, onde deu azo à sua “costela” de jornalista. Desses tempos, «ficaram saudades pois o programa era, de facto, único no panorama do automobilismo nacional. Não vivia apenas de reportagens, mas levávamos sempre os pilotos ao “estúdio” que era sempre um restaurante. E o êxito do programa foi tanto que ele era emitido de Vila do Conde e como a emissão não chegava ao centro do Porto, havia quem fosse, de rádio em punho, para a Foz no Porto para o captar melhor». Igualmente votado ao sucesso foi a iniciativa do “Jantar dos Campeões” que se poderá dizer preconizou, na altura, a cerimónia de gala de entrega de prémios da FPAK que hoje ainda acontece.

Entre 1986 e 1992, Paiva dedicou-se de corpo e alma também a este projecto que chegou a juntar 475 pessoas num só jantar. Bem vistas as coisas, não se pode dizer que o popular “Serginho” não tenha já muitas histórias para contar aos netos ainda que, convictamente, afirme e sempre em tom de gracejo que gostaria de continuar a sua actividade «pelo menos mais 15 anos para terminar a carreira aos 69 anos! Contudo, não sei se será possível e o mais provável é que faça apenas mais um ou dois anos. Aliás, para 2008 estou já a ser “seduzido” por dois ou três pilotos, mas, infelizmente, nenhum elemento feminino de capacete! »E perante isto, mais palavras para quê?… Sérgio Paiva é sempre assim! (NOTA: trabalho realizado em 2008)

«Não sou piloto frustrado»

Há quem diga que os navegadores são pilotos “frustrados” que, por esta ou aquela razão, nunca tiveram a oportunidade de brilhar com o volante nas mãos. Sérgio Paiva não se assume como tal, embora não deixe de afirmar que «poderia ter tido uma carreira interessante como piloto dado o jeito que sempre me disseram que tinha ». Contudo, quis o destino que o navegador passasse mais tempo na “bacquet” direita do que na esquerda e não se pode dizer que isso tenha deixado Paiva desiludido: «fiz várias provas a guiar, em velocidade, rampas, todo-o-terreno e alguns ralis e cheguei, inclusivé, a ganhar um Circuito de Vila do Conde num Opel Kadett GT/E emprestado pelo Bernardes, partindo da última posição. Não posso dizer que tenha tido pena em não ter abraçado a carreira de piloto porque ser navegador me dá tanto ou mais prazer que guiar». Mas quando, numa introspecção as dúvidas aparecem, basta recordar que «cheguei a alugar um Renault 8 Gordini por 2500 escudos e pagar esse aluguer em cinco meses ou seja, 500 escudos por mês, que elas rapidamente desaparecem!

Para ser piloto já na altura era preciso ter mais dinheiro do que para ser navegador. Agora que se calhar poderia ter aproveitado o jeito para piloto de outra maneira, isso talvez… ». Quem sabe fica para a próxima…

Com Pedro Matos Chaves: “Como um casamento… sem sexo!”

Não é propriamente uma novidade, mas a verdade é que Sérgio Paiva e Pedro Matos Chaves foram os primeiros a definir a relação de piloto/navegador como

um “casamento…sem sexo!”. Depois de ter sido o primeiro navegador do multifacetado piloto em 1998, a dupla do Toyota Corolla WRC e, mais tarde do Renault Clio S1600, manteve-se em actividade durante cinco anos e meio conseguindo dois títulos absolutos e um de Grupo A. Para Pedro Matos Chaves e a título pessoal, «o Sérgio foi muito importante na minha carreira pois quando cheguei aos ralis não tinha ideia de como era a navegação e o que significava, na prática, tirar notas. A experiência dele fez-me crescer como piloto e perceber como é que se devem tirar notas e o que é que elas nos devem dizer. A juntar a isso, a sua boa disposição constante também foi importante, já que mesmo quando as coisas corriam mal, tentava sempre ver as coisas pelo lado positivo, o que, de resto, vai de encontro ao meu feitio».

Mas, na opinião do piloto, nem tudo eram “rosas”: «se tivesse que corrigir algum defeito ao Sérgio não tenho dúvidas que seria a falta de pontualidade. Marcávamos às 9h00 e ele chegava às 9h15. Uma vez fiz as contas e já tinha estado à espera dele há mais de 10 horas! Por isso, é que quando penalizamos no Rali da Madeira por sua causa, no rali seguinte, comprei um apito e tudo passou a correr melhor!».

AS MELHORES HISTÓRIAS CONTADAS PELOS PILOTOS

VÍTOR LOPES: «Em 1989 no Rali de Portugal à entrada da classificativa da Freita estava nevoeiro e o Sérgio saiu do carro para ir afinar os faróis. Num gesto

precipitado a aliança saiu-lhe do dedo e foi parar a um campo uns metros mais abaixo. Com ervas e silvas foi impossível ir buscá-la. A partir daí, a preocupação dele foi saber como ia dormir a casa sem a mulher reparar! Como eu dormia no hotel nessa noite, emprestei-lhe a minha e, no dia seguinte, ele devolveu-me e não descansou enquanto não paramos na primeira ourivesaria que encontrou para comprar uma aliança!»

ADRUZILO LOPES: «Num Rali dos Açores numa estrada de ligação entre dois troços, o Sérgio Paiva pediu-me para parar. E eu assim fiz. Qual não é o meu espanto quando o vejo a “sacar” dos bolsos duas caixas de fósforos. Pergunto-lhe de imediato para que serviam. Já fora do carro, respondeu-me que eram para telefonar! Em vez de fósforos, as caixas continham moedas para as chamadas que ele queria sempre fazer a meio de qualquer rali de cabines

telefónicas!»

FERREIRA DA SILVA: «Já não me lembro em que rali foi, mas numa classificativa tivemos um problema de suspensão e o Sérgio prontificou-se para tentar arranjá-lo. Paramos e para meu espanto ele começou a correr em direcção à videira mais próxima! Depois de alguns minutos apareceu com um arame para solucionar o problema. Só que quando olhamos para a videira, 100 metros dela tinham tombado e só tivemos tempo de nos meter no carro e arrancar pois o dono já vinha a correr atrás de nós!»

PEDRO MATOS CHAVES: «Uma vez a treinar o Rali da Madeira tivemos um problema no carro e não tínhamos rede no telemóvel para avisar o mecânico.

Eu afastei-me, à procura de rede e o Sérgio resolveu ir urinar! Entretanto, passa um casal de ingleses num carro e o Sérgio nem hesita. Manda-os parar e começa a explicar no seu inglês “aportuguesado” a situação. Mas o homem estava com um ar sério e a mulher só se ria, quando eu cheguei lá para tentar explicar melhor o que se passava. Quando olhei para o Sérgio nem queria acreditar. Ele tinha-se esquecido de colocar o “elemento” para dentro!».

PEDRO MATOS CHAVES: «No rali de D. Lafões onde se decidia o título entre nós e o Adruzilo Lopes, à entrada do último troço, sob uma tensão enorme, o Sérgio reparou que estava um adepto da Peugeot a fazer sinais com os dedos para desconcentrar. Ele dizia: “Você são uma m….”. Foi então que o Sérgio começou a dizer-me “direita média mais 30 para esquerda fecha no fim” e isto quando faltava ainda mais de um minuto para partirmos. E depois repetiu-o para aí cinco vezes. E eu pensei: “ele está mesmo nervoso!”. Que nada! Mal o sinal ficou verde, arranquei e ele pôs o caderno das notas de lado e fez aquele gesto mundialmente conhecido quando passamos pelo adepto da Peugeot!»

PEDRO MATOS CHAVES: «Num dos testes da Renault em Ponte de Lima, a certa altura um engenheiro francês pediu para ir comigo para perceber o carro. Ora, isso durou para aí uma hora e o Sérgio que não consegue estar dois minutos quieto, começou logo a inventar! Resolveu fazer uns bolinhos com a lama do troço. Mas não eram uns bolinhos quaisquer. Foi à tenda do “catering” e substituiu as tostas pelo bolinho, aplicando-lhes o plástico para lhe dar um ar mais profissional Pois não é que alguns dos rapazes contratados pela equipa para fechar o troço, os comeram depois de estarem a manhã toda esfomeados! Na verdade, houve até um que repetiu e comeu dois bolinhos!»

JOÃO FERNANDO RAMOS: «Penso que se hoje tenho má fama porque alguém me viu a travar numa recta, a culpa é do Sérgio. Num troço e numa zona que saía duma curva rápida e tinha uma recta grande que era a fundo o Sérgio disse: «direita rápida para recta a fundo…e trava!» E eu quando já estava na recta disse: «A fundo? E Travo?!». Ao que ele respondeu: «sim, a fundo mas para o Pedro Matos Chaves! Portanto, trava». E eu…travei!».


SÉRGIO PAIVA, 35 anos de carreira…


LIGAÇÃO: Com Pedro Matos Chaves: “Como um casamento… sem sexo!”

Mal o sinal ficou verde, arranquei e ele pôs o caderno das notas de lado e fez

aquele gesto mundialmente conhecido quando passamos pelo adepto da Peugeot!»

Resolveu fazer uns bolinhos com a lama do troço. Mas não eram uns bolinhos quaisquer. Foi à tenda do “catering” e substituiu as tostas pelo bolinho…

JOÃO FERNANDO RAMOS: «Penso que se hoje tenho má fama porque alguém me viu a travar numa recta, a culpa é do Sérgio.

 

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