Ove Andersson deixou-nos há 10 anos


Ove Andersson, um dos mais carismáticos pilotos da década de 70 e 80 e posteriormente, um dos diretores desportivos mais conceituados, faleceu há precisamente 10 anos, num infeliz acidente de estrada num rali de Clássicos disputado na África do Sul. O acidente ocorreu perto de Oudtshoorn, em West Cape, quando o Volvo P444 que o sueco guiava bateu de frente, numa curva cega, com um táxi que ultrapassava na altura um camião. Este foi um final infeliz para o sueco que começou por se notabilizar como piloto de ralis, onde venceu provas tão emblemáticas como o Monte Carlo, Sanremo, Acrópole, Áustria e Safari (o único que já pontuava para o Mundial). Foi principalmente notado pelas suas capacidades ao volante dos Alpine Renault, mas também foi piloto de fábrica da Lancia, Ford, Nissan, Peugeot e Toyota.

Aliás, foi neste último construtor que Andersson terminou a sua carreira como piloto. Em 1972 o sueco fundou em Uppsala a sua própria estrutura desportiva denominada Andersson Motorsport, mas a sua profunda ligação ao construtor japonês fê-lo rumar a Bruxelas, nascendo o Toyota Team Europe em 1975. Quatro anos mais tarde a sede da equipa passou para Colónia onde ainda hoje se mantém, tendo a Toyota adquirido a equipa em 1993. Andersson colocou ao serviço da marca japonesa toda a sua experiência que valeu ao construtor nipónico três títulos de Construtores no Mundial de Ralis (1993, 1994 e 1999).

Envolvida no projeto de um sport-protótipo para Le Mans que participou na mítica prova em 1998 e 1999, a Toyota fez agulha para a Fórmula 1 em 2002 e foi Ove Andersson que esteve na linha da frente. Um ano depois o malogrado sueco abandonou os cargos executivos na equipa, tendo, no entanto, permanecido como consultor.

Após deixar de exercer funções na Toyota, Andersson mudou-se para a África do Sul onde acabou por encontrar a morte, afinal e por ironia do destino, bem perto do rancho onde vivia. Sem dúvida, pela sua forma de estar no desporto automóvel e inegável simpatia e disponibilidade, Ove Andersson deixou saudades.

Na altura jornalista do AutoSport, Luis Vasconcelos escreveu aquando da sua morte uma ‘despedida’: “Nem nos despedimos, Ove. Falámos pela última vez em Fuji, quando foste dizer adeus aos teus amigos da Toyota e aos muitos que tinhas feito no paddock da Fórmula 1 em apenas seis anos, mas a despedida oficial que te fizeram, naquele chuvoso domingo de manhã, coincidiu com um pico de trabalho para mim e não pude descer ao paddock para te dar um abraço. Fiquei à espera da prometida visita anual aos Grandes Prémios para retomar a conversa – que invariavelmente acabava por se centrar no falhanço da “tua ” Toyota em acertar o passo na Fórmula 1 – mas, afinal, um estúpido acidente deixou-nos a meio da viagem.

Admirei a forma como te apaixonaste pela Fórmula 1, de que não gostavas quando a Toyota a impôs como caminho a seguir para a tua estrutura. A tecnologia, as estratégias, tudo te interessava, mesmo se a política não te agradava. Foi neste campo que acabaste por ser afastado pelos japoneses, sensíveis aos argumentos de alguns “amigos” teus que falam bem mas fazem pouco, e acabaste por te afastar de livre vontade.

Infelizmente não tiveste tempo para gozar a tão antecipada reforma na África do Sul, país dos teus sonhos e onde começavas uma nova vida. Ganhaste ralis e a gratidão de pilotos como Waldegaard, Kankkunen, Sainz, Panis e Trulli. E deste alguns títulos mundiais à Toyota. Mas a tua maior vitória foi a de estar no automobilismo mais de 40 anos sem fazer inimigos, pois o teu jeito tranquilo, discreto, mas firme na defesa das tuas convicções e dos interesses da Toyota só te granjeou amizades e admiração”.

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