LEMBRA-SE DE Jean-Luc Thérier: GÉNIO DO IMPROVISO


Por Nuno Branco

Foi um dos melhores da sua geração. Para Jean-Luc Thérier, os ralis eram acima de tudo uma diversão e os reconhecimentos não eram com ele…

Aparecia em cada prova com uma alegria e descontracção contagiantes e chegava com pouca antecedência, pois detestava fazer reconhecimentos. Para Jean-Luc Thérier, os ralis serviam sobretudo para se divertir, e tal só acontecia quando estivesse efectivamente a lutar com o cronómetro. À partida, alguém com esta atitude estaria condenado ao insucesso, mas Thérier contrariou esta teoria. Dono de um talento invulgar, partia para cada troço em desvantagem face aos demais e, fazendo valer as suas capacidades de condução, improvisava, deslizava, dava espectáculo, e no final, era tão ou mais rápido que os restantes. Mas, como é que alguém com esta rapidez não levava os ralis mais a sério? Talvez nem ele próprio tivesse consciência das suas qualidades e continuou sempre a dar prioridade à família, amigos e à oficina familiar na sua terra Natal, Normandia. Começou a sua carreira no Karting, alinhando mais tarde no troféu Gordini, onde disputou provas de ralis e velocidade com um Renault 8. Os bons resultados levaram-no a assinar contrato com a equipa oficial Alpine Renault para disputar as maiores provas internacionais. 1973 marcou o início do campeonato do Mundo de ralis, e o piloto francês venceu em Portugal, Acrópole e Sanremo. Não fosse o mundial de pilotos instituído apenas alguns anos depois, Thérier teria sido o primeiro campeão mundo da história da modalidade. Nesse ano, disputou o rali da Suécia poucos dias após o seu casamento e, sem reconhecer os troços, utilizando as notas de Jean-Pierre Nicolas, obteve um brilhante terceiro lugar à frente de Waldegaard, Källström e outros pilotos da ‘casa’. Com a saída da Renault, Thérier decidiu rumar à Toyota, sem grande sucesso e em 1980 alinhou no mundial com um Porsche 911 dos irmãos Alméras, vencendo a sua última prova, na Volta à Córsega.

Regressou anos depois à Renault, mas em 1985 a sua carreira foi abruptamente interrompida após um grave acidente no Paris-Dakar.

Há uns anos, durante uma entrevista, Walter Röhrl afirmou: “Thérier, na minha opinião é o maior talento que os ralis conheceram nos últimos anos. São pessoas como ele que admiro e respeito. Julgar um piloto apenas pelo seu palmarés, torna-se injusto, pois olhamos para a classificação de um rali e nunca saberemos se o vencedor treinou quinze vezes cada troço ou será um génio”. Fala quem sabe…

Sabia que:  

No TAP de 1973 em entrevista após a vitória no rali TAP, Thérier revelou que apenas tinha passado uma vez nos troços para tirar notas e nem as confirmou.

Curiosamente, nos troços onde foi o mais rápido, usou as notas do seu colega Jean-Pierre Nicolas…

 



Uma longa batalha


Em janeiro de 1985, Jean-Luc Thérier fazia a sua primeira participação no Paris-Dakar. Ao volante de um Citroën Visa 1000 Pistes, discutia já os lugares

da frente quando foi vítima de um grave acidente. A perda de mobilidade no braço e mão esquerda ditou o fim da sua carreira como piloto. Daí para a frente, a sua luta tem sido outra, reivindicando em tribunal os seus direitos como profissional que ficou inválido após um a acidente no exercício do seu oficio. Obrigado a abdicar da oficina familiar para levar a causa por diante, Thérier tem feito tudo para assegurar a dignidade que conquistou atrás do volante.

 

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