Oito curiosidades da história do automobilismo
Fórmula 1, WRC, sport-protótipos, DTM ou stock cars são carros sobejamente conhecidos do grande público. Mas a história do desporto automóvel é vasta e muitas competições nascem e desaparecem no piscar de um olho, ou longe dos olhares mais atentos dos fãs. Hoje, recordamos alguns dos carros e campeonatos esquecidos pela história
DB-PANHARD MONOMILL
O Monomill foi uma proposta de um empresário, Marc Gignoux, para criar uma fórmula de monolugares barata para França. Unindo-se à Deutsch et Bonnet (DB) e à Socodec para criar a SFVC. Esta empresa construiu cerca de 20 carros, que disponibilizava para correr com condições especiais, e apesar do seu aspeto frágil e de um motor de dois cilindros horizontais e 850 cm3, os 55 cv chegavam para atingir os 175 km/h. A federação francesa criou um campeonato para estes carros em 1954, mas este foi interrompido a meio do anos seguinte, com o desastre de Le Mans. Como tinham motor derivado de série, os carros tiveram uma nova vida quando a F. Junior chegou a França, mas rapidamente perderam a competitividade.
INDYCAR BY NASCAR
Sabia que a NASCAR tinha tido um campeonato de monolugares? A NASCAR Speedway Division surgiu em 1952 com uma série de corridas grandes (semelhantes às da AAA, que organizava a Indy 500) para carros com motor derivado de série (os Offy de Indianapolis eram motores de competição), com Buck Baker a sagrar-se campeão graças à vitória na Darlington 200, num Cadillac Special, um carro que estaria à vontade na grelha de Indianapolis. No entanto, o interesse nesta divisão foi sol de pouca dura. As corridas de 1953 foram todas curtas, num calendário de três provas que durou um mês. Os ‘Specials’ desapareceram rapidamente e a NASCAR preferiu concentrar-se nos stock cars.
SUPER-SILHUETAS
Derivadas dos carros europeus de Grupo 5, as Super-Silhuetas começaram quando o Toyota Celica LB Turbo construído na Alemanha pela Schnitzer chegou ao Japão. Um campeonato de Super-Silhuetas serviu como competição de apoio à Fuji Grand Champion Series de 1979 e 1983, com a Nissan, em particular, a servir como peça cental do campeonato, com versões especiais do Silvia (200 SX) e Skyline RS. Embora o sucesso não tenha durado muito, as formas angulares das Super-Silhuetas (em comparação com os designs mais fluidos dos Grupo 5 europeus) deram origem a uma subcultura de tuning no Japão, conhecida como bosozoku ou zokusha.
LYCOMING SPECIAL
Após a II Guerra Mundial, a Austrália e a Nova Zelândia desenvolveram culturas próprias de desporto automóvel, misturando carros europeus antigos com criações caseiras. Valia tudo na construção, até motores de avião. Ralph Watson, um engenheiro neozelandês, pensou que podia fazer um carro leve e fiável com um propulsor retirado a um Auster de transporte da RAF. Em 1954, construiu um carro de dois lugares com guarda-lamas removíveis (para correr em provas de F. Libre e sport), instalando-lhe um Lycoming O-290, de quatro cilindros horizontais e 4,7 litros, com 125 cv. Com o passar do tempo, foi sendo evoluído até ficar com 5,3 litros e 200 cv. O carro era leve, tanto que Bruce McLaren foi quarto no Lady Wigram Trophy de 1960 com ele. Mudando várias vezes de dono, foi duas vezes campeão neozelandês de sport (1966 e 1967) e ainda hoje corre em eventos históricos.
FOTO: Ben Crowe
SUPER-SALOONS
Quando o BTCC reduziu a performance dos seus carros de Grupo 2 para Grupo 1 nos anos 70, o clube BRSCC reagiu abrindo as portas a algumas das mais loucas criações caseiras das pistas britânicas. Surgiram máquinas diversas, incluindo um VW Carocha construído sobre um chassis March 725 de F5000 ou um Skoda Rapid com base Chevron B36. Os carros continuaram a ser usados em vários campeonatos de Special Saloons, Modsports e Thundersports até aos anos 90. Uma máquina que tinha apoio de fábrica era o Vauxhall Firenza de Gerry Marshall, construído em 1974 e apelidado de ‘Baby Bertha’. Tinha chassis tubular e usava a suspensão do anterior Ventora, com motor Repco-Holden de 5 litros com 500 cv, permitindo a Marshall sagrar-se campeão em 1975 e 76. Hoje é uma visita regular ao Goodwood Festival of Speed.
PEUGEOT 905 SPIDER
Para dar aos pilotos um gostinho do 905 vencedor de Le Mans, a Peugeot criou um troféu monomarca em 1992, a Coupe Spider 905, com um monolugar de rodas tapadas e motor do 405 Mi16, com 220 cv. Uma competição fora do vulgar, numa época em que havia poucos troféus monomarca que não fossem de turismo, viu 20 carros em pista, construídos na sua maioria por Tico Martini e Gérard Welter. Christophe Bouchut, Eric Hélary e William David foram campeões de 1992 a 1994, lançando as suas carreiras nas corridas de endurance, mas o mais importante é que os carros, apesar de só terem um lugar, foram autorizados a correr nas 24 Horas de Le Mans em 1993, a primeira e única vez que verdadeiros monolugares correram na prova.
FÓRMULA CITROËN
Uma das competições esquecidas da história do desporto automóvel francês é o monolugar da Citroën. A marca francesa forneceu o motor do Ami, de 602 cm3, para a nova Formule Bleue, entregando-os ao seu concessionário Maurice-Emile Pezous, que construiu os chassis MEP. Os carros correram em rampas em 1967 e 1968 e tiveram um campeonato nacional em 1969. 50 carros foram construídos, para mais tarde serem equipados com o mais apropriado propulsor do GS 11, que tinha 78 cv, para 200 km/h. Mas, apesar de ser uma fórmula barata, a federação francesa preferiu apoiar a Formula France, que usava motor Renault (empresa estatal) e asas. A Formule Bleue terminou em 1975, um ano depois da F. France se transformar em F. Renault.
FOTO: Dave_7
SHELBY CAN-AM
A primeira geração da Can-Am usava sports cars sem limite de preparação, dando origem aos fantásticos McLaren M8F e Porsche 917/30 com potências de 1000 cv ou mais. A segunda geração reciclava monolugares de F5000 com carroçarias de rodas tapadas, reduzida para 500 cv. A terceira geração, proposta por Carroll Shelby, destinava-se a corridas de clube e só tinha 255 cv. Shelby encomendou à Racefab 75 monolugares, com as rodas traseiras cobertas, equipados com motor do Chrysler Voyager, que foram usados nas competições do SCCA de 1991 a 1996, mas apenas um campeão (Scott Harrington) correu na IndyCar e sem grandes resultados. 27 carros foram vendidos para a África do Sul, retransformados com novas carroçarias e motores Nissan, e ainda hoje correm, chegando a alinhar nas corridas de Kyalami do Campeonato FIA Sportscar.
FOTO: David Grant