» Textos: João Costa e José Luís Abreu

 

Tem saudades de um Rali de Portugal em asfalto?


Sintra, Rali de Portugal 1986

Portugal é um país pequeno, mas quanto a estradas para fazer ralis é um pequeno paraíso. Por isso, ao longo de três dias, vamos dar-lhe a escolher quatro ralis. Um só de asfalto, e mais três de terra, todos a norte. E se necessário fosse, os belos troços do Algarve ainda lá estão.

Para já, fique com um Rali de Portugal de asfalto…

Sintra, 1986

Muitos provavelmente não se recordam tão bem, mas o Rali de Portugal teve até 1994 troços em alcatrão e a sua qualidade ia muito para além dos mais conhecidos troços de Sintra. É óbvio que Sintra fez maravilhas pela notoriedade da prova, especialmente a edição de 1978 quando Markku Alen e Hannu Mikkola lutaram até ao derradeiro metro pelo triunfo. As rondas de Sintra eram tão boas que chegaram a fazer-se na abertura e no fecho da prova, mas o que hoje aqui queremos trazer é mostrar que na história do Rali de Portugal, houve tantos e tão bons troços, que podíamos facilmente fazer três ou quatro ralis do Mundial de três dias sem sequer sair da mesma zona geográfica.

Gradil, Rali de Portugal 1993

A exceção vai ser mesmo uma prova ‘fictícia’ de asfalto, já que a antiga primeira etapa do Rali de Portugal em asfalto que se realizou até 1994 tornou-se famosa precisamente por atravessar mais de metade do país e se a esse percurso fossem juntos bem mais troços que se realizaram em asfalto – não se podiam realizar todos, em todos os anos – facilmente encontraríamos um Rali de Portugal de três dias totalmente em asfalto.

Montejunto, Rali de Portugal 1991

Como se sabe, os ralis já regressaram a Sintra com o Rali das Camélias, portanto recuperar os troços da Lagoa Azul, Peninha e Sintra era fácil e se quiséssemos fazer um paralelo com o passado, porque não três rondas. Imagina um rali do WRC nos século XXI com três passagens por Lagoa Azul, Peninha e Sintra? Se necessário fosse, o primeiro dia poderia perfeitamente terminar com o Gradil e Montejunto, troços que muito fizeram pela história do Rali de Portugal, especialmente Montejunto (lembra-se da sucessão de acidentes de 1988, por exemplo?). Curiosamente e durante muito tempo a etapa de asfalto tinha pequenas partes em piso de terra e uma delas, 900 metros, eram em Montejunto. Ver os carros com suspensões de asfalto, muito baixos, aos saltos e a escorregar nessa zona era bem interessante, especialmente na curva imediatamente antes de reentrarem no asfalto.

O dia poderia terminar em Leiria, e para o dia seguinte reservávamos as zonas de Figueiró dos Vinhos, Serra da Lousã, Góis e Arganil. Talvez a etapa rainha. Passagens por Figueiró, Chimpeles, Campelo e Serra da Lousã, de manhã, Parque se Assistência na Lousã, e para a tarde Góis

Arganil e Côja. O troço de Figueiró dos Vinhos é mítico, todos se lembram de quem caiu no Rio Zêzere em 1990, mas aconteceu lá muita coisa interessante. Chimpeles não fez grande história no Rali de Portugal, ao contrário de Campelo, que apesar de ser um troço curto, muito ali aconteceu.

O troço da Serra da Lousã deve ser um dos melhores de sempre em asfalto, no Rali de Portugal, e ainda hoje me lembro da chegada à vila da Lousã com os discos de travão totalmente incandescentes devido à longa e rápida descida.

Louise Aitken Walker, Rali de Portugal 1990

O troço de Góis era muito rápido, e também causou algumas surpresas. Já o troço de Arganil em asfalto, começava numa pequena catedral dos ralis, a Selada da Eiras. Descia para as Torrozelas, daí para Folques, subia ao Alqueve. Basicamente, era por lá que os adeptos iam para ver os troços de terra da Serra do Açor. A zona de Folques juntava muita gente, especialmente nos ganchos antes da povoação.

Por fim o troço de Côja, que não subia tanto a serra, realizando-se entre Coja, Luadas, Esculca e Benfeita. As passagens nas povoações eram o ex-libris do troço. Um dia de troços muito variados, com asfalto que variava muito. Não faltava nada nestes troços de asfalto.

E o melhor estava para vir. A caravana poderia dormir em Arganil, e no dia seguinte, era começar e terminar em beleza.

O dia seguinte começava com o troço do Piódão, um clássico do Rali de Portugal, que os pilotos obrigaram a começar nos Penedos Altos em 1992, porque tiveram medo dos primeiro sete quilómetros que estiveram previstos. Que basicamente eram zonas rápidas com curvas longas e com precipícios de mais de 500 metros. Espreite no Google Maps o cruzamento Para Mourisia/Sobral Gordo/Malhada Chã/Fórnea/Tojo/Piódão e veja a paisagem à volta. Realmente é linda para passear, mas acreditamos que absolutamente assustadora para quem ali tinha que andar a fundo. Por isso o troço passou a arrancar nos Penedos Altos e daí a descer para o Piódão.

Menos perigoso, com muitos ganchos, mas ainda assim, lindíssimo.

No ano de 1994, Jorge Bica ‘ficou’ no Piódão, 80 metros abaixo do nível da estrada. Sem um arranhão, mas cheio de frio pois esqueceu-se do blusão no carro, e cada vez que lá ia, tinha de descer 80 metros, e subir outros tantos.

Depois do Piódão, o troço de São Gião, menos perigoso, mas mais difícil que o Piódão, pois era mais ao estilo da Serra da Lousã, sobe de um lado e desce a montanha do outro, mas bem mais rápido, perfeito para especialistas de asfalto.

Nesta altura o dia ainda tinha muito rali pela frente. Seguiam-se os troços de Muna e o Caramulo, que não eram fantásticos, mas serviam bem para ligar a outros troços bem mais difíceis como eram o Préstimo e Oliveira de Frades. O Rali terminaria em beleza com a Serra da Freita e

Arouca, dois troços bem diferentes, mas onde sempre acontecia qualquer coisa. Especialmente na Freita que ainda é hoje, provavelmente o único troço da história do WRC, que teve asfalto, terra neve e gelo, tudo ao mesmo tempo, como sucedeu em 1991, e onde ficaram vários concorrentes, num dia tão difícil que até meteu pilotos no hospital. Os troços da Freita e Arouca mereciam um capítulo só para si, tanto ali aconteceu, mas o rali não ficaria completo sem a inesquecível ligação para a Póvoa de Varzim, com a travessia do Porto e arredores a encher-se de público para ver os concorrentes, fosse a que horas da manhã fosse.

Como se percebe, ainda hoje seria perfeitamente possível fazer um Rali de Portugal só de asfalto, ainda que para aproveitar os bons troços que temos, teria de ser em linha. Para amanhã e domingo ficam outros três ralis, todos de terra, também eles fáceis de fazer. Um na zona de Arganil, Góis e Lousã, outro no eixo Fafe/Cabreira/Amarante e um terceiro entre Viana do Castelo e Ponte de Lima. Todos eles, um rali único.

DIA 1

PE 1/4 Lagoa azul

PE 2/5 Peninha

PE 3/6 Sintra

PE 7 Gradil

PE 8 Montejunto

DIA 2

PE9 Figueiró

PE 10 Chimpeles

PE 11 Campelo

PE 12 Serra da Lousã

PE 13 Gois

PE 14 Arganil

PE 15 Coja

DIA 3

PE 16 Piodao

PE 17 São Gião

PE 18 Muna

PE 19 Caramulo

PE 20 Prestimo

PE 22 Oliveira de frades

PE 22 Freita

PE 23 Arouca

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