» Textos: Hélio Rodrigues, In Memoriam

 

Ayrton Senna, 26 anos: O deslumbre do lado de lá…


Em finais de 1992, Ayrton Senna estava tão desmotivado, que chegou a equacionar a sua mudança para outro campeonato. E quando, num

jantar em São Paulo, o seu amigo Emerson Fittipaldi o provocou, propondo-lhe um teste ao seu Penske de Fómula Indy, Senna não hesitou

nem um segundo: “Puta meu! Eu vou!” E foi. Ambos chegaram a Firebird, um circuito misto no Idaho, onde iria ter lugar o primeiro de dois testes de ‘Emo’ ao carro de Roger Penske, que já tinha sido avisado de que Ayrton queria testar o carro: “Sem compromisso.” O veterano norte-americano aceitou, mas com uma condição: “Ele pode rodar no misto. Na oval, isso não. É muito rápida e ele pode se magoar.”

Ao mesmo tempo, Senna ligou a Jo Ramirez, da McLaren, que estava em Inglaterra, avisando-o da sua decisão e pedindo-lhe que enviasse o

seu fato de competição, as luvas e o capacete. O mexicano não foi de modas: “Não mando porra nenhuma!” E não mandou! Por isso, quando Senna se sentou no cockpit do Penske 92/Chevy, no dia 20 de Dezembro, vestia o fato de Fittipaldi e tinha um dos seus capacetes. Não foi fácil, pois o banco era demasiado grande para Ayrton e os mecânicos da equipa tiveram que encher o cockpit com almofadas para que o seu corpo não ficasse a dançar lá dentro. Mesmo assim, na segunda volta, já estava a rodar quase ao mesmo nível de Fittipaldi – apesar de há muito tempo que não pilotar um carro com caixa de velocidades manual. Nas boxes, com um sorriso rasgado, Senna deu a sua primeira explicação: “Pensava que o carro iria ser muito duro, mas a suspensão é mais mole que na F1. E o carro avisa do que vai fazer. É muito divertido de guiar!”

Emerson Fittipaldi, que tinha confessado o seu sonho de um dia estar na mesma grelha de partida das Indy 500, lado a lado com Senna, não

evitou uma lágrima furtiva. Mais tarde, lamentou que Senna apenas tivesse podido rodar ali, naquele circuito “muito travado. A curva mais

rápida era feita a 160 km/h. Era quase um kartódromo!”

Depois disso, Ayrton e Emerson voaram para a oval de Phoenix, no Arizona, uma pista violenta e rápida. Aqui, Senna não rodou. Mas, com o

ex-piloto Rick Mears como companhia, foi para o muro na saída da Curva 1, onde se colocou mesmo junto ao cimento, a centímetros do local em

que os carros passavam a mais de 290 km/h. A primeira vez que passou ali e viu aqueles olhos mesmo ‘em cima’ do seu capacete, Fittipaldi teve

um “puta susto”, como ele depois confessou. Por sua vez, Senna apenas disse duas palavras, quando voltou às boxes: “Que loucura!”

A sua ‘loucura’ americana terminou ali, nesse dia e para sempre, até porque nunca escondeu que, apesar de toda a adrenalina sentida nessa

altura, ele odiava as pistas ovais.

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