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Ayrton Senna, 30 anos: Coleção de cromos diabólicos


Ayrton Senna era um piloto agressivo, que nunca admitia ser ultrapassado. Muito cedo começou a sua coleção de cromos diabólicos particular. Ainda no ‘karting’, diga-se de passagem. Ouviam das suas ou, pior anda, sentiram literalmente na pele a sua proverbial necessidade de ganhar sempre e o seu incrível mau feitio quando perdia ou era simplesmente ultrapassado.

Na Fórmula Ford 1600, os seus inimigos foram dois latinos – o mexicano Alfonso Toledano e o argentino Enrique Mansilla. Os três envolveram-se em lutas tão heroicas, como pelejas escusadas, que terminavam muitas vezes em situações quase físicas, nas boxes. Ao ponto de, a certa altura, a fleumática imprensa britânica perder a paciência e chegar-se a referir com algum desconforto, a três jovens “com um talento

notável, mas que pilotavam como selvagens.”

Na Fórmula Ford 2000, o ‘alvo’ foi Calvin Fish, mas foi a partir da F3, onde encontrou Martin Brundle, o primeiro piloto a batê-lo com armas praticamente iguais, que os olhos do Mundo descobriram o ‘outro’ talento de Senna: fazer inimigos de estimação ao mesmo ritmo com que ganhava as corridas. Na Toleman, as suas relações com Johnny Cecotto foram praticamente inexistentes: Senna simplesmente ignorava-o – ao ponto de, após o seu acidente em Silverstone, que o afastou das pistas, nunca mais ter procurado o seu primeiro colega de equipa que não lhe perdoou jamais o ‘esquecimento’. Ainda na Toleman, ‘pegou-se’ mais que uma vez com o impecável Michele Alboreto, a primeira quando resistiu a ser dobrado pelo então piloto da Ferrari, em Zolder, logo na sua terceira corrida de F1. E até o polido e sofisticado Elio de Angelis, seu

colega na equipa Lotus, perdeu a paciência depois de uma manobra menos correta de Senna, em Kyalami, em 1985: nas boxes, furioso, chegou ao pé de Senna e deu-lhe um empurrão; o brasileiro não quis saber do irado italiano e afastou-se, com um olhar de enfado…

Lendários ficaram os encontros com Alain Prost, mas não menos mediáticos foram os confrontos – que só não foi físico, porque ambos foram afastados por um mecânico da McLaren – com Michael Schumacher, em 1992, depois deste lhe ter feito um brake test à entrada do Stadium, em Hockenheim a mais de 300 km/h, levando Senna, enfurecido, a passar as longas retas a tocar rodas com rodas no Benetton, como retaliação… claro que também a mais de 300 km/h! Antes disso, em Magny-Cours, depois de um pião em sintonia de ambos, quando Schumacher o quis passar, já Ayrton tinha entrado nas boxes da Benetton de dedo em riste, correndo para o alemão. E a cena de pugilato com Eddie Irvine, no GP do Japão de 1993, também é inesquecível, depois do irlandês, que se estreava, ter respondido, de forma arrogante e mal educada, aos seus pedidos de justificação por ter decidido “desdobrar-se” de Senna, durante a corrida.

Mais caricata foi a cena que protagonizou com Jean-Louis Schlesser, que o atirou para fora da pista, quando liderava o GP de Itália: depois da corrida acabar, quase a chorar, o francês dirigiu-se a Senna, pedindo-lhe desculpas, mas sem nunca admitir o erro… Ayrton, olimpicamente ignorou-o e partiu para outra.

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