Juno “Made in Portugal”

Por a 5 Março 2017 12:54

O ecossistema nacional de empreendedorismo tem feito correr muita tinta e o automobilismo não escapa à vaga. Algures na Maia vão começar a nascer os novos protótipos e monolugares da marca Juno.

Fundada em 1999 pelo ex-engenheiro da Williams F1, Ewan Baldry em Inglaterra, a Juno Racing Cars é conhecida entre nós pelos sport-protótipos que nos últimos anos colecionaram troféus no Campeonato Nacional da Montanha pelas mãos de Pedro Salvador, Paulo Ramalho ou Pedro Castañón. No Verão de 2014 a então empresa britânica foi adquirida pela Ginetta Cars com o propósito de produzir o novo protótipo Ginetta-Juno LMP3. Com Baldry a ocupar o cargo de Diretor Técnico na Ginetta, a designação Juno foi desaparecendo e a própria marca foi caindo no esquecimento. Nisto, o jovem empresário Nuno Magalhães, fundador da Comval Racing, viu uma oportunidade. Afinal, o ex-engenheiro de pista da Juno Racing e importador da marca para a Península Ibérica conhecia como poucos os produtos criados em Leyland. Em 2016, o portuense avançou com a compra da marca que a partir do próximo mês de Março vai começar a produzir sport-protótipos e monolugares na Maia. E aqui se inicia um novo capítulo…

A Expansão

Apesar do incontornável entusiasmo existente no nosso país pelos desportos motorizados, Portugal continua a ser um país periférico no panorama mundial do automobilismo, o que levará muitos a interrogarem-se qual o propósito de investir num projeto desta natureza. Sendo esta uma aventura comercial, apesar da paixão pelo nosso desporto daqueles que o abraçaram, obviamente que ninguém na rejuvenescida Juno espera que a marca sobreviva do insignificante mercado interno português. Presente nos cinco continentes, a Juno é uma marca verdadeiramente internacional. “Temos carros a competir por toda a Europa, temos nos Estados Unidos da América, temos carros a correr desde a África do Sul, passando pela Malásia, Austrália e Nova Zelândia. Vamos ter um campeonato na Austrália e outro na Nova Zelândia, com o monolugar, que também irá competir nos Estados Unidos da América. Também temos interesse de Espanha e até da China para este monolugar. Há uma série de oportunidades a explorar”, esclarece Magalhães. Num mercado global, onde a concorrência é vasta, não podem existir falsas expectativas. “Nós somos realistas, gostaríamos de conseguir vender cerca de 20 unidades neste primeiro ano, o que é muito acima do que aquilo que a Juno vendia por ano até aqui, mas achamos que é uma meta tangível”, afirma Magalhães. “A fábrica tem 600 m2, o que é o dobro da fábrica anterior, em Inglaterra. As pessoas aqui em Portugal têm a ideia que uma fábrica de carros de corrida é uma coisa muito grande, mas na realidade não é. A nível de funcionários somos dez, o que é o triplo do que a Juno tinha anteriormente”, explica o CEO.

Para além de ter herdado o espólio material que estava em Inglaterra, a Juno “portuguesa” herdou também os clientes, mas isso não é garantia per se de sucesso neste competitivo mundo empresarial. “Vamos trabalhar o mais rápido possível para apresentarmos produtos novos, para que não fique a ideia que compramos uma marca antiga e não comercializamos nada de novo. O facto de ser ‘made in Portugal’ poderá ser um estigma que tenhamos de ultrapassar”, admite o empresário, que no entanto reconhece as “muitas vantagens” de ter base em Portugal, a começar pelos custos da mão de obra e rendas, mas a aposta passa igualmente “por uma imagem de marca forte”. O primeiro passo foi dado no mês passado, quando a representação nacional participou no prestigiado NEC Birmingham Autosport International Show e regressou a casa com o troféu do expositor com o design mais criativo atribuído pelo organizador do evento.

O novo CN

Em 2018 a Juno vai lançar para o mercado um novo produto, o protótipo CN18, que é a evolução natural dos “irmãos mais velhos” SSE, CN09, CN12 e CN16. Este marcará o fim dos chassis tubulares e honeycomb de alumínio e a introdução dos chassis em carbono, como assim quase obriga o mercado actual. “Nós estamos a testar o uso de placas de carbono em ninho de abelha no chassis do mais recente CN2016, e tem resultado”, explica Magalhães. “O CN2016 é em todo semelhante aquele que tem sido visto nas pistas desde 2015. Contudo, a aerodinâmica será melhorada, sendo que a principal diferença se situa no splitter dianteiro que será reforçado e aligeirado no interior. Deste modo, as barras de apoio em alumínio, que se estendiam até às laterais, serão removidas e poderemos assim aproveitar ainda mais carga aerodinâmica. Por seu lado, o CN2018 será um carro totalmente novo, praticamente não usaremos nenhuma peça do modelo anterior”.

A nova viatura será produzida na integra em Portugal, com a excepção da monocoque em carbono. Esta deverá ser produzida em Itália, recorrendo a Juno ao mesmo especialista que fornece a Tatuus, Ginetta ou Mygale. Quanto ao motor, estão a ser avaliadas várias hipóteses, sendo que o novo carro está a ser desenhado com base nos nossos motores mais comuns – Ford, Nissan e Jaguar V6 e Honda K20 – e numa nova versão turbo que irá equipar os carros de categoria CN muito em breve.

Preparar 2018

Enquanto o novo carro não chega ao mercado, a estrutura maiata prepara-se com afinco para este novo desafio. “Temos planeados testes em Guadix, em Ascari e noutras pistas”, esclarece Magalhães. “Vamos ter uma equipa a trabalhar com esse foco e quem irá fazer os testes do carro poderá ser um piloto português, muito provavelmente o Gonçalo Araújo. Ele foi nosso adversário no passado, mas acredito que ele é um piloto com as capacidades que se adequam a este desafio”. Por outro lado, Magalhães quer perceber realmente que produto tem em mãos. Para tal, ainda munido com o chassis híbrido de honeycomb alumínio/carbono, o atual Juno vai ser puxado ao limite e será colocado frente-a-frente com os melhores protótipos da especialidade ainda esta temporada. “Contamos participar nas provas do V de V Endurance Series na Península Ibérica – Barcelona, Portimão, Jarama e Estoril – com o objectivo de comparar o nosso carro com o da concorrência e percebermos exactamente em que nível é que estamos”. Para isso, a Juno vai recorrer a pilotos da família da marca, como, Alex Kenny e Dean McCarrol, que representam os agentes da Austrália e Nova Zelândia, assim como a outros pilotos com vasta experiência ao volante deste tipo de sport-protótipos, como Sarah Reader, Joe Tucker, ou o próprio Araújo. A equipa oficial não coloca de parte a possibilidade de colocar em pista um segundo carro no campeonato V de V Endurance Series se aparecerem pilotos interessados.

O Fórmula

A história da Juno nos monolugares iniciou-se em 2009, quando Baldry projetou o JA09 para o Campeonato Britânico de Fórmula Ford, um modelo que obteve triunfos logo na época de estreia. Quem teve a oportunidade de visitar o stand da Juno no salão de Birmingham, teve com certeza a oportunidade de ver o novo F1000. Este monolugar especificamente desenvolvido para o regulamento dos campeonatos americanos e australianos de F1000 pesará 320 kg, menos 250 kg que os atuais chassis FIA Fórmula 4 em carbono, e será equipado com um motor de moto 1,000cc. “Estamos a construir o protótipo agora. É um chassis completamente novo, com motorização de mota, feito de propósito para o campeonato dos EUA e australiano. Para o mercado americano em especial vamos usar um motor BMW, mas para os outros mercados, onde é obrigatório usar motores japoneses, a opção a usar será o motor Suzuki GSXR 1,000cc”. Para quem não tenha a noção do que se trata este fórmula: “Estamos a falar de um monolugar caixa sequencial, pneus slick, asas a sério, patilhas de volante, geometria completa, chassis tubular, como mandam as regras. É um carro totalmente novo e que não tem uma única peça do seu antecessor”. Com a proliferação de campeonatos FIA de Fórmula 4, estando já alguns deles a acusar esse desgaste e os elevados custos da disciplina que a federação gostava que fosse o primeiro degrau da hierarquia dos monolugares, o monolugar da Juno pode ser uma excelente alternativa para competições nacionais. “Estamos em conversações com Espanha, para a possibilidade para fazer algo muito parecido com a Fórmula 4, algo entre um Fórmula 4 e um Fórmula 3 a nível de performance”. A Juno tem ainda no seu catálogo o Cerberus. Este fórmula de dois lugares, equipado com um motor Jaguar V6 de 400cv, é ideal para proporcionar emoções fortes a convidados e patrocinadores, ou para ser usado em escolas de pilotagem, tendo sido aclamado pela exigente imprensa britânica desde a primeira hora.

Nós por cá

A presença em Portugal será obviamente limitada, até porque os sport-protótipos foram preteridos pelas viaturas de turismo na velocidade nacional. Os Juno protótipos estão atualmente limitados a competir no Campeonato Nacional de Montanha, onde esta temporada Hélder Silva conduzirá um exemplar ex-PRminiracing. “Apesar da empresa estar em Portugal, somos uma empresa praticamente de exportação, mas o nosso monolugar Fórmula Ford, com motorização Kent, pode participar no Single Seater Series. Estou certo que será competitivo e os custos de colocar em pista são em tudo semelhantes aos actuais Fórmula Ford Zetec”, esclarece Magalhães. A Fórmula Ford Kent, a categoria mais popular na Europa, terá esta época um prémio adicional para os Gentlemen Drivers, sendo o monolugar produzido pela Juno uma boa alternativa àquelas existentes no mercado.

Sérgio Fonseca

 

 

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2 Comentários
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dumberdog
dumberdog
7 anos atrás

Excelente notícia…quem me dera ser milionário para investir neste projecto e ajudar o Nuno.

Frenando_Afondo™
Frenando_Afondo™
7 anos atrás

“que no entanto reconhece as “muitas vantagens” de ter base em Portugal, a começar pelos custos da mão de obra e rendas”

Mais um “empresário” tuga que deve pensar que paga muito aos trabalhadores que tem (ai desculpe… “colaboradores”).

Conheci esta peça há uns anos para um possível trabalho na empresa Comval, na entrevista pouco faltou para dizer que eu tinha sorte se pagasse para lá trabalhar. (por acaso até insinuou, dizendo que ele tinha começado a carreira a pagar numa equipa para trabalhar) só não saí a meio da entrevista por respeito.

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