Entrevista a Ricardo Teodósio: “Os nossos pilotos treinam muito e não acho isso correto até porque quando saem de Portugal não fazem nada”

Por a 17 Novembro 2016 14:46

Ricardo Teodósio correu no Rali do Algarve com o Porsche 997 GT3 habitualmente pilotado por Vítor Pascoal, e como é seu timbre, encantou. Teria ficado no sexto lugar da geral caso a classificação fosse conjunta – a FPAK agora não permite classificações conjuntas para evitar as polémicas que já houve este anos várias vezes – e mostrou que o Porsche, com outra adaptação é um carro que, sendo bem pilotado, não anda muito longe dos R5, e em provas mais rápidas, como por exemplo o Rali Vidreiro é bem capaz de bater os R5:

“Foi uma experiência positiva, é um carro completamente diferente de tudo que conduzi até hoje, mas é muito divertido e muito difícil de pilotar, especialmente perceber até que ponto curva depressa, até que ponto os 400 e ‘tal’ cv nos empurram para a frente, com que agressividade nos empurram para a frente. Saber controlar quando se passa de traseira com ‘aquela bicharada’ toda a empurrar não é fácil. Temos que ser rápidos a reagir e a ‘brecar’ o carro. Não é fácil de perceber pois é um carro que não tem uma caixa de direção como os outros que já guiei, o Mitsubishi e o Ford Fiesta R5. É uma caixa de direção pouco desmultiplicada. Se o carro tivesse uma direção igual ao Mitsubishi seria muito melhor para quem vai a conduzir e para quem está a ver, porque era muito mais fácil de domar o ‘bicho’. Há ali situações em que o carro é muito brusco. São muitos ‘bichos’ a empurrar e facilmente pode ‘sair’ um pião. Já conseguimos andar bastante depressa no último troço e até disse para o navegador (José Teixeira), agora é que era bom começar o rali. Agora já estamos com um andamento mais para a frente, mas mesmo assim ainda ‘levámos’ uns quantos segundos do (José Pedro) Fontes e do (João) Barros, mas já não estamos assim tão longe. Num, troço fizemos um pião, noutro apanhámos um cão que se assustou e foi para a estrada, andámos ali a jogar às escondidas um com o outro, ele a ver se fugia e eu se não o atropelava. Perdi mais uns valentes segundos. Não fiz mal ao ‘bichinho’, perdemos aí 15 segundos, e se tirasse 15 segundos na Fóia ao tempo que fiz, não ia ficar muito longe.

AutoSport: A Fóia não é um bom troço para o Porsche?

Na Fóia é muito difícil, temos duas partes muito lentas, a subida e a descida, e para além disso, húmidas e sujas. Até lá cima ao Alto da Fóia, perco 12 segundos para o Fontes, e na descida perco mais dez. No Chilrão (primeiro troço) ainda tinha andado pouco com o carro, por isso acho que foi muito positivo devido aos quilómetros que fiz com o carro antes de lá passar. O pneu permite muito, mas como andei com pneus usados para treinar e na prova com novos, não sei até onde o pneu podia ir, e só no fim do rali já estava com um andamento mais vivo, já vínhamos a atacar bastante, mesmo nas zonas estreitas.

AS: Fazes um balanço positivo…

Foi muito bom, estou muito contente com o nosso resultado, estou contente com a prestação porque à noite foi muito difícil para mim, o Porsche não tem luzes boas, os espalhadores como lhe chamam, que aponta luzes para as bermas e estava tudo muito sujo durante quatro quilómetros. A estrada estava muito má e eu fui com muito cuidado. Das duas vezes em que tentei andar mais depressa ele (o Porsche) apontou duas vezes para os eucaliptos e isso não podia ser. Não ia estragar o carro ao Vítor (Pascoal)…

AS: E agora o futuro?

Queríamos fazer qualquer coisa com o R5, mas o Porsche é muito divertido e eu fiquei muito fã do carro. Já gostava do Porsche nas pistas, e agora gostei do carro no asfalto, gostei mas é um carro que requer muita habituação, acho que precisava de uma primeira (relação de caixa de velocidades) mais curta, pois ‘aquilo’ em zonas de ganchos iria dar para sair mais rápido…

AS: Podes fazer a fase de asfalto do CNR de Porsche?

Poderia ser uma hipótese, mas temos um projeto para um R5. Nós na proposta temos um Ford, mas sei que a Hyundai está disposta a dar uma ajuda a quem for correr de Hyundai, mas o problema é que é preciso comprar o carro e para isso não há dinheiro. Temos muitas portas abertas, parceiros que nos estão a ajudar, mas vamos ver, se não conseguirmos o projeto R5, estava a pensar a sério fazer o Regional Sul. Acho que para o ano vai ter mais pilotos, mais concorrência, se calhar mais provas, e temos o livro aberto, tanto podemos ir para um lado como para outro e o Porsche, com esta experiência não fica de lado, pois gostei bastante.

AS: Ficaste mesmo adepto do Porsche…

Na verdade, não estávamos muito longe deles, dos R5, e não sei até que ponto os Porsche serão mais rápidos que os R5. O Zé Pedro já mostrou isso quando bateu os R5 com o Porsche, mas na altura os R5 não andavam o que andam hoje. Hoje em dia os nossos pilotos estão a andar muito com os R5. Todos eles estão a andar muito bem…

AS: Sentes que se anda muito hoje em dia em Portugal?

Os pilotos fazem o trabalho de casa muito bem feito, eu sou contra esse ‘trabalho de casa’, mas infelizmente é o que temos, a federação é o que é, os nossos pilotos estão habituados a fazer o que estão. Eu acho que eles erram todos tanto uns de um lado, como outros do outro, eu tento ser o mais correto possível nessa questão dos treinos ilegais, o Diogo Gago também faz as coisas bem feitas, à Mundial, eu também faço duas passagens. Neste rali tirei notas novas no troço de Alferce, Monchique e o da Fóia, tirei tudo novo, só no Chilrão não mexi, os outros foi tudo novo, e fiz uma passagem por troço, não é nada, independentemente de conhecer bem as estradas, mas mesmo assim senti falta de fazer pelo menos mais uma passagem que costumo fazer, uma a tirar notas e duas a passar. Os nossos pilotos treinam muito e não acho isso correto até porque quando saem de Portugal não fazem nada. Os carros dão problemas e mais problemas, porque não andam e aqui treinam, treinam. Tenho pessoas que os conhecem e dizem-me, olha este já anda aqui há três semanas depois nos troços, para uns não há dúvidas nem hesitações, e outros andam à procura da travagem, não… é um bocadinho mais à frente, andam à pesca. Esta é a minha maneira de estar nos ralis. Se eu tivesse dinheiro para fazer rali nunca fazia o Nacional, pegava em mim e ia mostrar lá fora quem é o Ricardo Teodósio, mas aqui em Portugal a mentalidade é outra, e depois lá fora, ninguém faz nada…

AS: Para os adeptos é simples, há uns que ganham e outros não…

Não quero com isto dizer que não compreendo, porque uns têm um orçamento para fazer duma maneira e eu, por exemplo, tenho outra. Eu não posso fazer com cinco euros o mesmo que outro faz com 50 euros. Não posso querer ganhar ralis com um carro que só por fora é igual ao dos outros. O carro não é 100 por cento igual aos outros, esteticamente é igual, mas depois não é igual pois os cv, por exemplo, não estão lá. A gasolina não é a mesma, e 15 cv num carro daqueles faz muita diferença. Eu na terra ainda consigo compensar com as ‘unhas’, ainda vai andando, mas no asfalto é impossível. No asfalto requer muita habituação. Garanto que na terra não estou longe deles. Num troço que tiremos notas e lá passemos uma vez, à Mundial, mesmo apesar do WRC mandar os vídeos para quem quiser tirar notas prévias e já vão para lá um pouco mais à vontade, logo se veria. Aqui ninguém castiga ninguém. É isto o que temos…

AS: O que pensas do Diogo Gago?

O Diogo Gago é um piloto com um ritmo incrível, andou-me a ganhar troços, ele de Peugeot 208 R2 e eu de Porsche 997 GT3. O miúdo está com um andamento doutro mundo, e aqui no Algarve só andou o que fazia falta, mas eu já disse que era bom conseguir arranjar um projeto R5, acho que ele com um R5 pregava uma ‘coça’ no resto da malta. Eu bem vi nos Açores o que ele andou, porque sei como estavam os troços, ele houve troços que andou em cima de mim e eu de R5. Tudo bem, uma vez fiz um pião, noutro ele apanhou menos nevoeiro, mas ele andou muito e eu não sou propriamente um coxo. Portanto isto é muito mérito do miúdo. O carro é bom, é verdade, mas o Diogo anda mesmo muito e é pena não ter ainda conseguido ir lá para fora com um projeto internacional. Tivemos bons pilotos lá fora nos últimos anos, o Armindo Araújo, o Bruno Magalhães, mas agora era a vez do Diogo…

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2fast4u
2fast4u
7 anos atrás

Grande Ricardo!!! É realmente uma pena o nosso mercado ser tão ridículo, pois temos aqui uma prova viva de um fora de série! Dêem-lhe qualquer coisa com motor e rodas e vale a pena assistir!
Fica aqui a dica dele que quem só olha para resultados anda longe da verdade. É preciso estar por dentro e conhecer estes “pormenores” ($$$) que fazem toda a diferença.
Se ele fala assim do Diogo é porque temos mesmo ali um caso sério.
Porque é que não se deixa o “compadrio” para apoiar os “tios” e se apoia a sério um PILOTO nacional?

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