Por trás das lentes: ‘Fifé’ e Dina Lopes foram os primeiros…

No início, para lá do verbo, era também a imagem. Numa altura em que tudo era diferente, também a forma como a imagem, o momento, eram captados, diz tudo sobre o sentido estético que se praticava há 30 anos. Não que fosse muito diferente, esse sentido estético. Captar o momento, a imagem, reflectiam então uma maior proximidade com os intervenientes. É disso que falam Dina Lopes e Filipe Fernandes, o “Fifé”, que foram os primeiros fotógrafos oficiais do AutoSport.

«Tudo começou, digamos, por afinidade. Casei-me com o José Vieira há 35 anos e partilhamos afinidades e paixões. Os automóveis e a fotografia são apenas algumas delas.» Dina Lopes não tem dúvidas: «Tudo o que sei, aprendi com ele – o sentido estético, o espírito de reportagem. Com ele, comecei a rodar nos circuitos internacionais, em especial na F1 e nos Protótipos. Fui 15 vezes às 24 Horas de Le Mans, uma prova mágica. Conhecia o circuito como as palmas das minhas mãos.» Dina Lopes recorda com emoção esses tempos, «em que havia uma maior proximidade com as pessoas, pilotos, mecânicos, comissários. » Lembra as dificuldades, «os sacos cheios de rolos, as toneladas de material» que tinha que transportar. A sua primeira máquina, «uma Nikkormate. » E, enfim, «o momento mágico que é recolher a imagem, a verdadeira adrenalina que é carregar no botão e captar a imagem.» Afinal, a arte da fotografia, em que o encanto «está no próprio momento, na luz, no enquadramento – saber quando disparar. E tudo durante uma prova de automobilismo.»

Experiência diversa é a de Filipe Fernandes, o popular “Fifé”. Iniciou-se em 1972, com tenros 15 anos e trabalhou «em tudo o que era revista e jornal de automóveis em Portugal.» No AutoSport, Fifé começou no nº 0, com uma reportagem em Vila do Conde. «As minhas características eram a minha loucura, a forma de estar na vida e as fotos arrojadas que conseguia fazer.» Foi pioneiro em tirar fotos nos troços de ralis, para onde «ia de bicicleta, com a minha famosa mala de alumínio», onde transportava «três máquinas e diversas objectivas, entre elas uma lente de espelhos e a 500″, pesadíssima.» Dessa mala, reza a história que «ficou plana que nem um papel» quando um Triumph se despistou, levantou voo na saída da Curva 3 do Estoril «e aterrou em cima da mala. Felizmente consegui fugir!» Fifé, que além «da prata da casa», fez reportagem no estrangeiro, «na F1, em Monte Carlo e em Indianapolis », lembra ainda que, «nessa altura, éramos nós que fazíamos tudo. Fotografávamos, revelávamos as fotos – havia um laboratório no AutoSport, no Dafundo e, um domingo em que tinha feito uma prova de carros e outra de motonáutica, não resisti e adormeci em pleno laboratório.» Retirado progressivamente da fotografia, Fifé continua a dizer que ela ainda é a sua «maior paixão.»