Pastor Maldonado: “Só a mim é que não perdoam nada!”

Por a 10 Fevereiro 2016 15:40


Pastor Maldonado é dos pilotos que mais polémica levanta no mundo dos Grande Prémios. Para uns trata-se dum piloto pagante demasiado propenso a acidentes, que está sempre no meio da confusão e não contribui com nada de positivo para a Fórmula 1; para outros, trata-se dum piloto rapidíssimo, um pouco emocional em algumas ocasiões, mas capaz de dar luta aos melhores quando tem carro para isso. Quisemos, por isso, ouvir o venezuelano, e em Budapeste propusemos-lhe uma entrevista diferente.

“Sou o piloto que ganhou mais corridas na GP2, fui Campeão da GP2 e ganhei corridas em todas as categorias por onde passei – nem todos os que estão na Fórmula 1 podem dizer a mesma coisa”

 

 

 


Os pressupostos da entrevista eram simples: a mim cabia-me o papel de advogado do diabo, porta-voz das muitas acusações que lhe são feitas dentro e fora do paddock, com Pastor Maldonado a fazer a sua defesa. Quando lhe propusemos este formato o venezuelano nem hesitou, “vamos a isso” disse até com algum entusiasmo, como se tivesse uma enorme vontade de dizer de sua justiça. Por isso a primeira parte da entrevista foi mais um bate-boca do que outra coisa, antes de rumarmos a assuntos mais pacíficos e consensuais.

 ENTREVISTA: Pastor Maldonado ‘defende-se’  dos críticos

Confrontado com os muitos incidentes em que se tem envolvido este ano, Maldonado defende-se e contra-ataca: “Sim, estive envolvidos em vários incidentes mas nenhum foi culpa minha!” Desafiado para se explicar melhor, o sul-americano enumerou: “Na Austrália dois ou três pilotos tocaram-se a meio da curva e o Nasr acabou por me bater, quando eu estava bem por fora e longe da confusão, só que a minha corrida acabou aí, quando tinha chegado ao sexto lugar, e os outros todos continuaram em prova; na Malásia o Bottas furou-me um pneu na segunda curva e comprometeu a minha prova; na China foi o Jenson que falhou a travagem e me acertou em cheio no final da reta grande, comprometendo mais uma corrida; e em Silverstone foi o Daniel Ricciardo que falhou o ponto de travagem para a Curva 3, acertou no Romain, e este acertou-me, e ficámos lá os dois sem ter culpa nenhuma pelo sucedido. Como vês, não tive culpa nenhuma nos incidentes em que me envolveram este ano, mas custaram-me pontos preciosos. Tive foi pouca sorte”Depois do GP da Hungria quisemos saber a versão do piloto da Lotus sobre o toque com Pérez a meio da prova, de que resultou um pião para o mexicano e nova penalização para o nosso entrevistado: “Fui penalizado porque sou sempre penalizado, como já te tinha dito. Eu estava por dentro, dei-lhe espaço e a escapatória é em asfalto, mas ele não quis alargar a trajetória e tocámo-nos. Ele nunca dá espaço e é por isso que temos muitos incidentes no nosso historial.”A questão das penalizações tinha sido mencionada na véspera, durante a nossa entrevista, quando o confrontamos com o facto de ser presença regular na sala dos Comissários Desportivos: “Pois sou, mas é porque são injustos comigo. Como te disse este ano não tive culpa em nenhum dos incidentes que me custaram muitos pontos, fui sempre vítima inocente dos erros dos outros, mas ninguém foi penalizado por me atirar para fora da pista. Se em Silverstone tivesse sido eu a tocar no Ricciardo, era logo penalizado, mas como foi ele, não se passou nada. Só a mim é que não me perdoam nada…

Não acredito em perseguições pessoais mas acho que as pessoas, e até os Comissários Desportivos, se deixam influenciar pela perceção que alguns criaram de que sou um piloto fora de controlo. Pago por isso, mas também acredito que existem outras razões para se comportarem assim comigo.”

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NA FÓRMULA 1 POR MÉRITO

Ah, a perseguição política ao regime venezuelano, de que Maldonado se queixa amargamente sempre que o assunto PDVSA vem à baila. Mas então, perguntámos, não é normal as pessoas insurgirem-se contra um patrocínio estatal a um piloto, mais a mais com valores tão elevados como os que a os venezuelanos pagam à Lotus? Maldonado, claro, discorda: “Não estou na Fórmula 1 só porque o meu país apostou em mim e tenho um belíssimo patrocinador. Sou o piloto que ganhou mais corridas na GP2, fui Campeão da GP2 e ganhei corridas em todas as categorias por onde passei – nem todos os que estão na Fórmula 1 podem dizer a mesma coisa.

E como não podem, falam só da PDVSA e do apoio do meu país. A PDVSA apoiou muitos pilotos venezuelanos e só eu é que cheguei aqui e na Venezuela promove-se e apoia-se muito o desporto, porque é bom para a juventude. Muita gente não gosta do meu país por questões políticas mas eu não tenho nada a ver com isso. Apostamos no desporto, o que me parece excelente, por estar na Fórmula 1, promovo o meu país, o que é importante para a Venezuela e já mostrei que tenho valor para estar na Fórmula 1 pois até já ganhei um Grande Prémio sem ter o melhor carro!”

Mas 40 milhões de Euros não é um patrocínio qualquer, é mais de um terço do orçamento da Lotus, contrapusemos. Isso não faz de ti um piloto pagante? “Piloto pagante é o que só corre porque paga bem; eu trago patrocinadores mas sou competitivo e é por isso que as equipas me querem. E quem é que não trouxe patrocinadores para a Fórmula 1? Até Alonso tem patrocinadores que lhe estão sempre ligados. Na Minardi só entrou porque trazia patrocínios, levou a Telefónica para a Renault e, depois, o Santander para a McLaren e para a Ferrari. Mas ninguém diz que ele é um piloto pagante, mesmo se para onde vai leva consigo patrocínios espanhóis. E acho que não têm nada de dizer que um piloto é pagante quando é uma grande empresa que quer estar associada à sua carreira. Pagante, para mim, é o que tira do bolso para correr porque não tem talento para competir doutra maneira.”

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“ESTOU HABITUADO ÀS CRITICAS!”

Mas essa reputação, que se espalha por comentadores, jornalistas, outros pilotos e adeptos, não te enfurece? “O que é que eu posso fazer”, diz Maldonado com um sorriso um pouco triste. “As pessoas são livres de dizer o que querem, cada um vê os incidentes à sua maneira, mas a Fórmula 1 é um desporto complicado e muito difícil julgar de fora. Isto não é como futebol, que toda a gente já jogou, bem ou mal – até eu dou uns toques e acho que posso comentar o que fazem os profissionais – é uma modalidade que só muito poucos conseguiram praticar, mesmo a um nível muito amador, o que torna mais difícil perceberem do que estão a falar. Mas, repito, são todos livres de dizer o que pensam, enquanto eu estou feliz com o meu trabalho e com a minha pilotagem.”

O ‘contrato’ era de pressionar o venezuelano, e insistimos: como é que consegues não te zangar quando até fazem sites na internet só com os teus acidentes? Novo sorriso triste e uma explicação bem lógica: “Sabes, já estou habituado, pois este tipo de comentários começou ainda nas categorias de promoção mal cheguei à Europa. O facto de ter o apoio do meu país levou muita gente a olhar de lado para mim, mas a verdade é que cometi alguns erros no passado e era justo que me criticassem. Mas também vejo que quando são os outros a errar a repercussão desses erros é muito menor do que quando sou eu a errar…”

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ESPANHA/2012 FOI O PONTO MAIS ALTO

Para Maldonado a melhor resposta aos seus críticos foi dada na pista, com a sua vitória categórica no Grande Prémio de Espanha de 2012, depois de bater Fernando Alonso numa luta directa: “Esse foi o momento mais alto da minha carreira, claro, e fiquei extremamente feliz, por mim, pela minha equipa, pela minha família e pelo meu país. Não pensei nos críticos nesse dia, eles não são importantes para mim, mas gozei ao máximo o momento, até porque antes do início do fim de semana não estava nos nossos horizontes poder ganhar o Grande Prémios.

Nesse dia acredito que muita gente acreditou que o Fernando iria bater-me facilmente, mas mostrei que estavam errados, fui eu que ganhei a batalha, depois de ter feito tudo o que era necessário para conseguir o resultado que queria. Quando lutas na frente fica tudo mais fácil e era a isso que eu estava habituado noutras categorias. Na Fórmula 1 tenho começado mais vezes no meio do pelotão e isso propicia mais incidentes.”

Dito isto, quisemos saber se com um Mercedes W06 nas mãos, Maldonado pensa que seria um vencedor em série de Grande Prémios: “Com toda a certeza a Mercedes está milhas à frente de toda a gente, em todas as pistas ou condições. Por isso, se tivesse um Mercedes seria muito mais fácil lutar pelas vitórias. Não digo que iria ganhar todas as corridas, mas faria o possível por ganhar o máximo de Grande Prémios possíveis.”

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De corpo e alma com a sua equipa

A situação de Pastor Maldonado no seio da Lotus é extremamente sólida, pois o venezuelano está a meio do segundo ano dum contrato por três temporadas e é por isso que quem o representa não tem feito qualquer movimentação no mercado de pilotos. Mesmo que, como tudo indica irá acontecer, a Renault compre a Lotus F1 Team e mude por completo a sua gestão, o contrato de Maldonado é tão sólido e valioso que seria completamente ruinoso para a marca francesa forçar a saída do piloto sul-americano.

Também por isso, Maldonado só pensa em progredir com a sua atual equipa, afirmando que, “este também é um projeto pessoal para mim, porque quero ajudar esta equipa a regressar aos lugares da frente nos próximos anos. Quando assinei com a Lotus, a equipa vinha de duas excelentes temporadas, em que tinha ganho Grandes Prémios e conquistado muitos pódios, mas as circunstâncias mudaram bastante, saíram muito elementos de valor e a situação económica piorou, o que fez com que o ano passado fosse muito difícil.

Este ano já estamos a iniciar a nossa recuperação, mas continuamos a perder muitos pontos devido a pequenos problemas e a erros alheios. De qualquer maneira qualquer um pode constatar que estamos em muito melhor situação do que no ano passado, tanto a nível técnico como económico e sabemos que é possível qualificarmo-nos para o Q3 e marcar pontos em todas as corridas.”

Para Maldonado, “é muito mais difícil recuperar competitividade do que perdê-la e, por isso, a nossa tarefa para os próximos anos não é fácil, e isso torna o desafio mais atraente. Sinto-me muito bem na Lotus, sei que gostam de mim tanto a nível de gestão como no departamento técnico, e quero continuar a contribuir para ajudar a equipa a regressar aos lugares da frente.”

Mesmo assim o venezuelano acredita que a Lotus vai continuar a ser competitiva até ao final do ano: “Eu ouço os rumores, sei o que se está a passar, é verdade que há algum tempo que não temos novidades no E23, mas continuamos a lutar pelos pontos em todas as corridas, porque a base do projeto é boa. Vamos ter novidades técnicas numa das próximas corridas e acredito que vamos ser mais competitivos, pois uns décimos de segundo fazem uma grande diferença porque estamos todos muito juntos. E se olharmos para 2014 podemos estar satisfeitos com os progressos que estamos a fazer com um orçamento limitado.”

Venezuelano saiu da Williams no momento errado

Para além dos incidentes em pista, Pastor Maldonado também foi notícia por ter feito uma péssima escolha na sua carreira ao sair da Williams imediatamente antes da equipa de Sir Frank dar um enorme salto de competitividade. Um erro que o venezuelano assume por inteiro: “Sim, olhando para o andamento que a Williams tem tido nos últimos dois anos, foi um erro sair no final de 2013. Isto se olharmos apenas para os resultados e para o que poderia ser a minha carreira hoje em dia.

Mas eu tinha necessitado dos resultados nos três anos em que tinha estado com a Williams e tirando a vitória em Barcelona não tinha conseguido mais nada, porque tinha falhas mecânicas ou porque os carros, em 2011 e 2013, não eram competitivos. Olhamos para o que a Lotus estava a fazer na mesma altura e a diferença era enorme e decidimos mudar. É claro que estamos agora na situação em que estávamos há dois anos na Williams, mas tenho toda a confiança neste grupo de trabalho e acredito que a longo prazo a minha opção vai acabar por se revelar a mais ajustada.”

Luís Vasconcelos

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Pastor Maldonado em entrevista feita por Luis Vasconcelos em 2015


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